quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Meu Natal é belo e triste.


Ontem vivi o Natal de Jesus. Foi belo e triste.
Rodoviária Novo Rio.
Estava sem dinheiro para voltar para casa.
Tinha R$0,30. Precisava de R$2,10 para pegar o ônibus.
Estava com um livro que havia ganhado de presente de Natal e tentei vendê-lo na livraria. Nada.
Pedi carona aos motoristas de ônibus. Foram 6 tentativas. Todos me disseram que não podiam me ajudar, porque havia uma tal câmera escondida.
Fiquei triste e cada vez ia pensando mais e mais nos milhares de companheiros que não tem nada. Que vivem tendo de pedir tudo.
Minha humildade não era tão grande. Sabia que precisava pedir, mas meu orgulho me impedia.
Então pensei em Jesus. Falei com Ele. E percebi que meu Natal deste ano precisava desta experiência: a experiência dos corações fechados.
Me enchi de coragem e comecei.
Incrível como as pessoas não te olham nos olhos, Senhor.
Impactante ver as pessoas envergonhadas ante a tua presença, Mestre.
Tu és o grande abandonado, Jesus querido, nesta Terra de inidividualismo, solidões, abandono, insensibilidade.
Por que, Senhor, as pessoas não te olham nos olhos? O que trazes de mal para as pessoas fugirem de teu olhar?
Até que encontrei uma seguidora tua, que me deu R$1,00. Que alegria!
Continuei experimentando o teu abandono, Mestre. E via as portas fechadas de Belém ao teu nascimento.
Então um outro homem deu as outras moedas. E tu sorriste para ele.
Fiquei contente porque ainda há confiança e esperança na compaixão. Fiquei feliz porque tudo é de todos, tudo vem de Deus, é possível viver a cada dia seu fardo, porque o Senhor proverá.
Mas eis que ele demonstra sua perda de ternura ao te perguntar: é para o ônibus mesmo né?
Aquela pergunta me fez tanto mal... fiquei pensando na desconfiança, na maldade implícita no olhar. Ele desconfiou de mim...
Ah, Senhor, desculpe a pobre humanidade que te fecha as portas.
Agora entendo, Senhor, porque o Natal é tão triste.
Tende piedade de nossa impiedade.
Perdoa nossa imperdoável miséria: a miséria de não te amar.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pestalozzi: O amor na educação

Nossa aluna na UFF, Rebecca Lima de Almeida fez seu trabalho de Filosofia e Educação II em formato de vídeo e está no you tube. Quer ver?
clique aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Yoz_C6ydYLQ

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

As palavras que vocês me disseram...


Hoje ganhei um presente de Natal.
Encontrei no ônibus um companheiro que há muito tempo não via.
Todo bem vestido, gola reta, barba feita, cabelo raspado, boa pinta, crachá de empresa.
Ele me viu e num primeiro momento não o reconheci.
Ele me olhou de novo e sorriu.
Lembrei.
Ele morava na rua e algumas vezes tomou café com a gente.
- Tudo bem irmão. Não tá lembrado de mim não?
- Nossa você tá diferente. Claro que eu lembro. Há quanto tempo!
- Um ano e meio vai fazer que saí da rua. Você vai descer aqui?
- Vou claro - era um ponto antes do meu - vou descer com você, quero ouvir sua história.
Descemos.
- Sabe irmão, esse trabalho de vocês - disse ele e a emoção o embargou um pouco - esse trabalho de vocês é muito importante. Vocês não tem idéia do resultado que dá.
Eu fiquei em silêncio ouvindo.
- Hoje eu tô numa igreja evangélica. Mas as palavras que vocês me disseram ali foram muito importantes.

Mais uma vez o silêncio nos uniu.

- Agora deixa eu ir lá que vou visitar meu irmão.
E ali nos despedimos, com emoção.

Andei um pouco mais com o coração feliz.
Vamos perseverar!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sejamos nós mesmos

Estou lendo sobre Edward Bach, o médico que se encantou pela natureza e descobriu que do orvalho matinal das belas flores pode-se extrair remédios para as curas das nossas doenças. Uma personalidade incrível. Fico imaginando seus passos, quando abandonou seu consultório médico lucrativo em Londres e se embrenhou na floresta, em Gales, para completar sua pesquisa sobre o poder curativo das flores. Sua filosofia é de extrema sabedoria e mostra que ainda temos um caminho a trilhar rumo a uma integração maior com a natureza: a nossa própria essência e a natureza que nos cerca. Espero que vocês possam se motivar com suas palavras:

"Alguma vez já lhe ocorreu que Deus lhe deu uma individualidade? Ele certamente o fez. Ele lhe deu uma personalidade muito própria, um tesouro a ser guardado no seu mais profundo Eu. Ele lhe deu uma vida para conduzir, uma vida que você e apenas você deve conduzir. Ele lhe deu um trabalho a realizar, que você e somente você deve realizar. Ele o colocou neste mundo, um ser divino, um filho Seu, para aprender como se tornar perfeito, para obter todo conhecimento possível, para crescer bondoso e amável e para auxiliar os outros.

E já lhe ocorreu como Deus conversa com você e lhe fala de sua individualidade própria, de seu trabalho e de como conduzir o seu barco para o seu próprio curso? Ele lhe fala através de seus verdadeiros desejos, que são os instintos de sua Alma. De que outra maneira Ele poderia lhe falar?

Se apenas ouvirmos e obedecermos nossos próprios desejos, sem nos influenciarmos por qualquer outra personalidade, seremos sempre levados e guiados, não apenas ao longo do caminho que nos conduzirá ao nosso próprio avanço e perfeição, mas também tornando nossas vidas mais úteis para os outros. Ao sermos influenciados pelos desejos de outras pessoas, deixamos de lado nosso próprio trabalho e desperdiçamos tempo. Cristo nunca teria cumprido Sua Missão se tivesse dado ouvidos a Seus pais e nós teríamos perdido um exército de ajudantes do mundo, tais como Florence Nightingale e muitos outros, se eles tivessem ouvido os conselhos dos outros e não permanecessem fiéis aos desejos de seus próprios corações.

Que melhor resolução poderíamos tomar, na chegada do Ano Novo, do que a de ouvir nossos próprios desejos, que são mensageiros de nossas Almas, e ter a coragem de obedecê-los?"

paz!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

As armas não ferem a alma - oração pelo Rio

Amigos do bem,
hoje por volta das 18hs fizemos um momento de oração ecumênica aqui na UFF em Angra dos Reis.
Temos recebido emails de grupos que tem orado as 18hs. E desta vez nos reunimos, professores, técnicos e estudantes em benefício de todas as pessoas inclusive as que estão deixando-se embriagar pelo ódio e cometendo atos inconsequentes.

Foi muito lindo porque trocamos nossos sentimentos sobre amor, perdão, compaixão. Lembramos que esse medo que se generaliza tem sido a rotina de milhares de pessoas nas favelas ao longo de décadas. E nos compremetemos a cultivar pensamentos de amor e de calma.
Muita luz, emoção, reflexões ricas.
Estamos confiantes.
E daqui da Costa Verde enviamos uma chuva forte, espero que chegue na capital do estado carregada das vibrações de amor que pulsam nessas matas verdes e nesse mar abundante.
Mandamos nosso mais terno abraço.
Lemos um pequeno trecho do Bagavad Gita:
"As armas não podem ferir a alma; o fogo não pode queimá-la; a água não pode molhá-la; nem o vento ressecá-la." Livro II, 23.
Sigamos sem medo, portanto.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A carne é fraca


Acabo de assistir a um documentário que foi fundo em minha sensibilidade. Como pessoa humana e como membro da comunidade de seres vivos de nosso planeta.

O vídeo é riquíssimo porque é multifacetado.
Mostra os impactos do crescimento da produção de carne no meio ambiente. A questão do desmatamento para dar lugar aos pastos, o consumo de água e cereais como alimento para o gado, o uso de hormônios e elementos químicos que acabam contaminando os rios bem como as pessoas que se alimentam dessa carne, além da cruealdade com que se criam bois, vacas, galinhas, porcos. Destaco a forma como os milhares de pintinhos são descartados porque nasceram com defeito (defeito para quem?).
É o que acontece quando os seres vivos da criação são vistos como coisas, recursos produtivos.
A revolução espiritual que hoje vivenciamos certamente precisa enfrentar essa questão que é mundial, mas ao mesmo tempo exige uma revolução individual. Eis o grande mérito do filme: deixar evidente que somos co-responsáveis por essa violência e essa loucura do capitalismo-consumista-materialista.
Pensar a mudança do mundo exige uma mudança pessoal! Essa é, aliás, a base de todo projeto político-espiritual, como bem mostrou Gandhi.
Acho que todos deveriam assistir porque vivemos realmente num contexto de ideologização que esconde a cadeia produtiva por trás dos simples hábito de comer carne.
Duvido que alguém que veja esse filme e não se sensibilize e não pense em deixar de dar sua contribuição a essa brutalidade.
Fiquei tocado. Abraçado a Chester (meu cachorro-bodisatva) que ao ouvir os animais na tela se aproximava de mim, pedindo colo, senti misericóridia pelos meus irmãos animais e me perguntei: o que estamos fazendo? Que sociedade é essa? Que tipo de espiritualidade temos cultivado que não leva em conta esses irmãos da criação, anteriores a nós (tanto no mito hebraico, quanto na "Evolução das espécies" de Darwin)? Que padrão de vida é esse que continuamos a alimentar dia a dia?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A SEDUÇÃO DO DIÁLOGO


Convido meus amigos a um diálogo inter-religioso da experiência.
Sou espírita. Falo com os mortos e busco a caridade.
No mistério da eucaristia percebi que também era católico.
Na fala do pastor sobre as origens da Reforma me vi inteiramente protestante e inteiramente precário no mundo.
No axé do candomblé me senti unido no amor de Deus expresso em todos os seres. Me percebi do candomblé.
Purifiquei minha mente e me conheci melhor entre budistas em meditação.
Na ioga reforcei meu estado de espírito, acreditei mais em mim e me senti um autêntico iogue.
Tudo isso fiz sem deixar de ser espírita.
E quando fui católico, protestante, candomblecista, budista, iogue, fui de cada tradição por inteiro, sem sincretismo, sem mistura.
O diálogo ocorre no meu coração.
Sou de todas as crenças.
Pleno em cada uma.
Todas estão em mim.

André A Pereira - escrito na IV Jornada Ecumênica - Indaiatuba - SP

domingo, 17 de outubro de 2010

Pestalozzi - começo de conversa


Estou descobrindo um grande filósofo e educador: Johann Heinrich Pestalozzi.

Ainda preciso estudar mais. Acabo de ler o livro da Dora Incontri sobre ele: Pestalozzi - educação e ética.

Fiquei encantado com a forma como ele alia religiosidade, política, filosofia e educação. Os temas da maior importância para o mundo. Indissociáveis. Aliás, a crise das ciências mora na especialização dos saberes.

Se vou ensinar uma criança preciso saber quem ela é? E só posso responder a essa pergunta me perguntando pela essência do ser humano. O homem no seu ser, o que é? - perguntava o professor.
Hoje, as pessoas, na cultura da Globalização, perdem o endereço de si mesmas. Um projeto pestalozziano começa com o "conhece-te a ti mesmo."
Hoje, na superficialidade das relações, as pessoas são vistas pelo que parecem (status, dinheiro, poder, celebridade). Um projeto pestalozziano significa ouvir a essência de cada um, descobrindo a centelha divina em cada ser humano.
Se o homem é essencialmente bom, o educador deve fazer a criança entrar em contato consigo mesma e ajudá-la a seguir a Natureza.

Como educador, preciso entender a cultura, a sociedade em que vivo, as instituições que modelam e reforçam nossas atitudes no mundo. E preciso estar atento para o fato de que a transformação no indivíduo (meta da Educação) caminha junto com a transformação social (meta da Política).

E me encanta, ainda, seu método que alia observação empírica, aos projetos práticos de educar as crianças pobres de sua época, e a uma visão de mundo abrangente, sua intuição, sua recusa ao reducionismo racionalista, sua ênfase em falar de amor e praticá-lo. Pestalozzi educava cabeça, mãos e coração - o ser integral: inteligência, ação e sentimentos.

Pestalozzi aponta sem medo, e não podemos temer repeti-lo em tempos de absolutismo materialista nas Universidades, a causa da crise social como ausência de espiritualidade.
Um discurso apressado aqui pode parecer fanatismo. Não, não estamos falando em fé declarada, em religião civil (essa tem crescido), mas em sentimento religioso, fé no conteúdo mais sagrado das religiões: somos todos irmãos. Urge, através de um gesto de amor, religar os homens entre si, e reestabelecer a harmonia com a Natureza.
Eis o texto do corajoso educador:

"Descrença é a fonte da destruição de todos os laços da sociedade (...) E a fonte da justiça e de toda a felicidade do mundo, a fonte do amor e do sentimento de fraternidade humana repousa no grande pensamento da religião: de que somos filhos de Deus, e de que a fé na Verdade é a base segura para toda a felicidade no mundo".

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Bons ventos, boas notícias


Eis aí.
As boas notícias.
Os bons ventos sopram nesse momento.

Primeiro: entre os dias 18 e 26 de setembro, em Copacabana: Copa do Mundo de Futebol Social. É a oitava edição dessa Copa que roda o Mundo e deve reunir 64 países.
Quem joga?
População de rua.
Incrível né?
Mais informações: http://www.futebolsocial.org.br/

Segundo: a prefeitura está em vias de colocar em funcionamento o Programa de Saúde da Família para pessoas sem domicílio. E eles estão dialogando com os grupos que trabalham com a população de rua! Hoje foram ao Fórum. Como é bom quando a política pública começa com diálogo.
Um equipe multidisciplinar! Médicos, enfermeiros, psicólogos, psiquiatras, dentistas, agentes de saúde, técnicos de enfermagem, musicoterapeutas, etc. pessoas que já viveram nas ruas fazem parte da equipe. Irão as ruas atender, criar vínculos (tal como o médico de família), com nossos companheiros. Parabéns. Que Deus os ilumine. Que façam um trabalho com amor e alegria, como parece ser o caso.

Terceiro: dia 22 de setembro, o filme "Topografia de um Desnudo será exibido na UFRJ, Praia Vermelha, as 14hs. Que bom que a Universidade vai entrar nesse debate: Operação mata-mendigo nunca mais. Infelizmente a prática continua, mas hoje temos mais consciência.

Quarto: dia 20 de setembro é a reunião da Comissão da Câmara Muncipal que discute a questão da população de rua. Será na rua 13 de maio, número 13, nono andar. Quanto mais gente participar, mais força teremos.

vamos em frente!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Discurso de Platão sobre o Amor


No diálogo de Platão, "O Banquete", Sócrates faz um belo discurso sobre o amor. Diz ele que o ouviu de uma mulher de Mantinéia, chamada Diotima. Eis na íntegra:

Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses e entre os demais se encontrava também o filho de Prudência, Recurso.

Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar do festim a Pobreza, e ficou pela porta.

Ora, Recurso embriagado com o néctar - pois vinho ainda não havia - penetrou o jardim de Zeus e, pesado, adormeceu.

Pobreza então, tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de Recurso, deita-se a seu lado e pronto concebe o Amor.

Eis porque ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu natalício ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque também Afrodite é bela. E por ser o Amor filho de Recurso e Pobreza foi esta a condição em que ele ficou.

Primeramente ele é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas é duro, seco, decalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, as portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a necessidade.

Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a vida, terrível, mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal é a sua natureza, nem mortal, e no mesmo dia ora ele germina e vive quando enriquece; ora morre e de novo ressuscita, graças a natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo que o Amor nem empobrece nem enriquece, assim como também está sempre no meio da sabedoria e da ignorância.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A paz e os meus inimigos


Há um belíssimo ponto de encontro entre o texto mais popular dos cristãos e o texto mais popular dos hindus.

Trata-se do Salmo 23 de Davi e o Bagavad Gita.

O primeiro é o famoso salmo dirigido ao pastor, rogando-lhe que guie o discípulo pelos campos verdes e águas tranquilas. O segundo mostra o diálogo do discípulo em busca do caminho de vida com equilíbrio que leve a paz.

Confiança e entrega absoluta a Deus, busca de paz... eis a essência de ambos os textos.

Interessante que ambos fazem referência aos inimigos.

Todo Bagavad Gita gira em torno do diálogo do guerreiro Arjuna com o Senhor Krisna, antes do início da batalha. Arjuna está confuso porque terá de enfrentar amigos e familiares que estão no exército inimigo. Então, inspirado pela sabedoria de Krisna entende que precisa cumprir seu dever (darma) sem esperar os frutos da ação. Agir sem apego, eis o caminho da felicidade!

No Bagavad Gita, capítulo 1 texto 23, Arjuna diz ao Senhor Krisna: "Deixe-me ver os que vieram lutar aqui, desejando comprazer o malévolo filho de Dhrtarastra."

E no texto seguinte Arjuna é chamado gudakesa que significa aquele que conquista o sono.

Meditando um pouco sobre esses trechos, percebemos a relação entre olhar os inimigos da batalha e a conquista do sono tranquilo, a paz interior.

Ao fazer uma leitura espiritual, percebe-se que todo esse poema é um belíssimo tratado de autoconhecimento. Olhar os inimigos é olhar para dentro de si, os inimigos internos. Encarar de frente as suas questões íntimas, não recuar, agir como um guerreiro e enfrentar seus fantasmas interiores. Eis a fonte da paz, expressa naquele que conquista o sono tranquilo.

Porque o sono é onde se expressam as mazelas escondidas de cada um. E aquele que não quer se olhar de dia, acaba se vendo assustadoramente enquanto dorme.

Olhar os inimigos no campo de batalha é olhar para dentro de si mesmo, se conhecer (sem indulgência nem culpa) e conquistar a paz interior.

Agora sim pude entender o Salmo da ovelha para o pastor: "Preparas uma mesa para mim na presença dos meus inimigos."
E só assim a ovelha terá o refrigério da alma em pastos verdejantes e águas tranquilas.
Na verdade eu sempre me senti muito bem ao ouvir ou recitar esse Salmo, mas confesso que tinha um incômodo com esse verso, pois não o compreendia. Agora, graças a leitura do Bagavad Gita, pude entendê-lo. (Esses são frutos doces do diálogo inter-religioso).

Busque a paz! Encontre os seus inimigos e seja feliz!

sábado, 21 de agosto de 2010

Inviável e certo.

Na terça-feira, dia 17 de agosto, o Fórum sobre População de Rua de Angra dos Reis se reuniu mais uma vez.
Foi um encontro de muito aprendizado e uma oportunidade incrível de ouvir companheiros que vivem ou viveram a situação de morar na rua. Foi também um renascer de esperanças. Perseverar nas lutas.
Ao final do encontro, quando todos estavam amarrados pelos fios da rede que criamos ao longo da manhã, foi lido um belíssimo texto de Dom Pedro Casaldáliga (foto abaixo):

Dá-nos a tua paz!

Dá-nos, Senhor, aquela Paz estranha
que brota em plena luta
como uma flor de fogo:
que rompe em plena noite
como um canto escondido;
que chega em plena morte
como o beijo esperado.

Dá-nos a Paz dos que caminham sempre,
nus de toda vantagem,
vestidos pelo vento da esperança.

Aquela Paz dos pobres,
vencedores do medo.
Aquela Paz dos livres,
amarrados à vida.

A Paz que se partilha na igualdade,
como a água e a Hóstia.
Aquela Paz do Reino, que vem vindo.
Inviável e certo.

Dá-nos a Paz, a outra Paz, a Tua,
Tu que és nossa Paz!

extraído do livro: "Orações da caminhada" de D. Pedro Casaldáliga

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mergulho em...


Ontem a noite.
Li um trecho do Gandhi sobre a oração.
Estou lendo seu livro: A roca e o calmo pensar.
E lia e orava.
Literatura prática. Lemos e fazemos.

Até que uma frase: "Uma prece não precisa de palavras."
Sim, prece silenciosa. Súplica interna.
Então a frase seguinte: "Ela é, em si mesma, independente de qualquer esforço sensorial".
Aí me quebrei.
Até então minha experiência de oração dependia de sensações: leveza, arrepios, sensação de calma, emoções de amor... e mais intensas quanto maior o esforço interior.
Não estive errado, mas esta frase promoveu a retirada de todo pensamento e toda sensação, e todo esforço.
Mergulhei no vazio e no silêncio.
Foi. (não posso dizer que foi bom)
Rápido. Instante. Mergulho em... (não posso dizer em mim, não posso dizer em Deus, não posso dizer no Todo, na Paz, não, não posso dizer) (inominável).
Foi.
Fui dormir.

domingo, 8 de agosto de 2010

Diálogo com os católicos: o Mistério da Eucaristia


Dialogar com o Catolicismo.
Nas últimas semanas tenho tido um diálogo com meus irmãos católicos. Uma amiga me relatou a beleza do ritual católico a seus olhos...
Muito renovador o diálogo inter-religioso. Vejo uma outra face de Deus... Uma face que me estava escondida desde a infância. Só agora, por exemplo, começo a entender o teatro (no bom sentido!) ao qual todos participamos no ritual da missa.

Confesso que tenho dedicado mais tempo ao estudo dos caminhos da mística oriental.

Mas algo tem me levado a fazer as pazes com o ritual católico. E creio que ontem atingi uma experiência irredutível (É na irredutibilidade da experiência do outro que posso ter uma autêntica experiência de Deus, num terreno fora da minha tradição. É só aí, nessa experiência em outra igreja, com a linguagem - intraduzível - da outra igreja, com a mística da outra igreja é que posso dizer que tive uma experiência de fé, e o início do diálogo inter-religioso no interior do meu coração).

Hoje posso dizer que compreendo um pouco mais a fé do católicos.
Claro que não vou entrar no terreno da Trindade, um terreno espinhoso, senão para os hindus, ao menos para espíritas e muçulmanos.

Fora teólogos racionalistas(!), que mais despertam divergências com a agudeza de seus espinhos.

Porque a semente caiu em terra boa(!), a terra do meu coração aberto a experiência de Deus, ali, no que há de mais sagrado aos cristãos, no mistério maior, no sacramento da eucaristia.

Igreja das Carmelitas, Pouso Alegre, MG. Fim de tarde. Bela música. Alegre coro feminino. Vozes entonado cânticos de amor ao Supremo Senhor Jesus, esposo de Teresa. O amor estava no ar... Em suas vozes, as mulheres senão que amavam, ao menos buscavam amar aquele que muito amou.

Os fiéis estavam mais unidos, havia no ar uma emoção estranha (o espaço fica curvo, as dimensões se cruzam, o ar ganha um peso). Era a preparação para a transformação do pão em corpo e do vinho em sangue que haveria de unir em solidariedade todas as pessoas do mundo. O pão. O pão da vida. O pão repartido. Um gesto único. Um gesto de união. Ali me senti unido a todos aqueles que dependem do alimento da terra. Percebi que era mais um, que não estava só, que estava em comunhão. Belo momento em que eu meditava: o mistério da fé. É isso! É isso que o católico chama mistério. Irredutível a interpretações.

E dali as emoções se confundiram. Ondas de tristeza. Tomai e comei, isto é o meu corpo que será entregue por vós. Tomai e bebei, este é o cálice do meu sangue que será derramado por vós. Foi o que ouvi do concentrado sacerdote.
Por que nós permitimos que Ele fosse entregue e assassinado? Quantas vezes matamos a verdade e o amor ao longo da história? Por que havemos de fraquejar e permitir que o bem seja derrotado? E por que beber e comer esse sangue e corpo de nossa própria desdita? Sinto que a contradição é inerente a esse mistério.

E eis que surge o cântico de esperança, de ressurreição. Sinto-me amado! Ele é maior que nossas fraquezas. E haverá de nos reerguer, do arrependimento, para a conquista, enfim, do Reino da Paz, a Civilização do Amor, que virá.

Em poucos minutos, vivi toda essa epopéia da humanidade. No laboratório de emoções do meu coração, ali estava toda a nossa História. E o símbolo do cordeiro, que um dia acarinhei, manso... falando alto em meu coração. Desperto com o Pai-Nosso em uníssono e forte. Uma história com um final feliz.

Obrigado irmãs, amigos, católicos.
Desejo que vocês sejam bons católicos.
Que vivam essa dimensão de fé, de mistério, de amor, de plenitude de emoções nesse belo teatro da missa, para que voltem ao teatro do mundo a ser instrumento de partilha de pão e amor a todas as pessoas que tem fome e sede. Serão instrumentos do nosso Senhor.

Volto as paredes seguras do meu Centro Espírita, enriquecido com o vosso pão. Graças a esse bendito diálogo.

Só espero que meus irmãos espíritas não me excomunguem por eu ter comungado com vocês.

E espero que vocês não me anatematizem por eu não ter ficado com vocês.
Juntos permitiremos que Ele faça do mundo um lugar belo e de Paz.

A Paz de Cristo esteja com você!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A democracia como valor no trabalho social


Diz Gandhi: "O fim é o meio."

Quando fazemos um trabalho social partimos de valores, princípios, dos quais não podemos abrir mão. Um deles é o da democracia, que tem a ver com o respeito a dignidade humana, que tem a ver com o processo de decisões participativo, que tem a ver com humildade em nossos posicionamentos: todos podem ter grandes idéias.

Quando se trata em respeitar a dignidade da pessoa humana precisamos ser radicais.

Não é porque somos democráticos que vamos tolerar tudo. O desrespeito é intolerável.

Em nosso trabalho na rua, temos lutado para trabalhar assim. É trabalhoso. Envolve uma série de impedimentos de nossa cultura.

Ao dar um simples café da manhã para moradores de rua podemos simplesmente dar o café, ou podemos estabelecer uma relação cujos valores democráticos estejam presentes. Aí educamos para a cidadania, para o tempo do direito e da dignidade humanas. Tempo este que estamos ajudando a chegar logo.

Lembro quando começamos, há 4 anos...

Quem está rua tem uma enorme dificuldade em aceitar regras. Então a distribuição era muito tumultuada. Aí abríamos o bate-papo e os companheiros faziam sugestões. "Só recebe quem está sentado" - fizemos assim. "Use uma ficha para cada pessoa, tipo senha" - também implementamos essas idéias. Funcionou! O grupo fica mais calmo, o ambiente mais agradável. Claro que sempre tem um que chega e não quer saber de regras, mas não é que a democracia é um processo pedagógico de compreensão e respeito as regras?

Temos aprendido muito nesses anos.

Quando erramos, aí é que dá certo. Porque é aí que nos esforçamos para inovar os métodos de trabalho. O espírito democrático exige a abertura a natureza dinâmica da interação humana, senão vira ditadura.

Hoje aconteceu de novo: erramos. Quem bom! Vamos melhorar...

Manhã nublada: frio e fome. Éramos cerca de 70 pessoas (hoje o grupo estava menor), uns 40 interessados em receber roupas novas. Seguimos o conselho dos companheiros da roda de bate-papo e começamos a usar a ficha para distribuir a doação de roupas. As pessoas não entendiam, ficavam em torno das roupas e nós querendo que as pessoas sentassem e esperassem ser chamadas pelo número da ficha. Não estava fluindo. Quase apanhei. Aí tivemos que intervir, exigindo que todos sentassem para poder continuar. É a hora do uso da força (estamos aprendendo que democracia exige força, liderança e disciplina).

Precisavam confiar no grupo. Saber que não tinha ninguém passando a frente deles. Aí, depois de muito tempo e alguns desentendimentos, funcionou.

Ao final, todos avaliamos. Assim é melhor. Todos concordaram.

E assim vamos em frente.

Sinto, a cada dia, que temos feito algo mais do que distribuir roupas e alimentos. Temos trabalhado valores democráticos.

Um dia, as pessoas não vão mais se acotovelar para obter as coisas. Não haverá mais bens jogados avanço. Todos terão direito. Haverá paz. Haverá organização e justiça. Poderemos confiar nos processos de decisão, haverá transparência nas regras, os líderes seguirão princípios éticos radicais (sem jeitinhos e incoerências). Até lá vamos começando nos pequenos espaços de socialização. O fim é o meio: se sonhamos com uma sociedade democrática, sejamos democráticos hoje.

Se fosse só dar comida e roupa teríamos parado há muito tempo. Seria fácil trazer umas roupas, um lanche, deixar o pessoal se batendo para obter o pouco que nos sobra e sair satisfeito por ter ajudado a alguém, mesmo deixando um sentimento de injustiça no coração de todos os que não receberam.

Somos em média 130 pessoas toda semana. Vamos persistir no bem, nos valores democráticos e no respeito aos olhos de cada um. Quem quiser tumultuar, vai se afastar naturalmente. Mas quem quiser sinceramente servir, fazer sua parte, vai permanecer. O bem é mais forte.

Nosso trabalho é aprender a conviver. E seguimos na esperança de que um dia, a Terra inteira vai conviver melhor.

paz!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O desafio da Pedagogia do Amor


Hoje no trabalho com população de rua enfrentamos o desafio da implementação da Pedagogia do Amor.

Havia um companheiro demonstrando agressividade e um descontrole pelo fato de estar sob efeito de drogas.

As pessoas chamavam sua atenção, pediam que se calasse, que se afastasse. Mas nada disso surtia o efeito que as pessoas desejavam. Ele falava alto, se aproximava de novo e atrapalhava o nosso estudo.

Pessoas em círculo, em pé, em torno do estudo sobre o amor. E o irmão descontrolado do lado de fora. Para mim, havia uma contradição no ar.

Desta vez silenciei.
Tento sentir o que ele sentiu, sua dor, sua sensação de inadequação, de que ninguém o ama. Eu sei porque já senti tudo isso. Quem não sentiu?

O que nos diz a pedagogia do amor? Qual método para lidar com as pessoas que demonstram agressividade?

Lembrei de Jesus: atire a primeira pedra quem estiver sem pecados.

A primeira atitude deve ser a de humildade: não me sentir superior ao outro. Eu trago em mim o mesmo potencial de agressividade e desequilíbrio.

Isso leva ao exercício do olhar de compreensão. Por que ele está agressivo? Fez uso de drogas, amanheceu mal, teve maus sonhos, foi agredido, brigou com pessoas que lhe são caras, traz questões psicológicas de origens remotas, etc. Tudo isso para que o nosso olhar seja de compreensão e amor.

Segunda atitude: regar as sementes do amor. Todo mundo traz em si as sementes do amor, do carinho, da paz. Lembro desse companheiro em outros dias, sua ternura, suas demonstrações de amizade, de gratidão, de companheirismo, seu sorriso, sua musicalidade... Recordo também que mesmo hoje, ele demonstrou ternura no olhar ao ver uma criança pequena.

É isso! Podemos investir nas coisas boas, capazes de regar as sementes boas de seu coração.

Na pedagogia do amor nos perguntamos sempre: o que Jesus faria?

O grupo não agiu tão mal. Não o agrediu tanto. Silenciou, respeitou seu momento. Parabéns ao grupo de trabalho.

Mas sinto que podia ter feito mais. Investir nesse espírito de compreensão coletiva. Suavizar o olhar, abraçar, dizer dos bons sentimentos, da ternura que sinto por ele.

Vivendo e aprendendo.

Creio na força do amor. Se regarmos as sementes de amor no coração das pessoas, veremos como todos têm grande potencial de amar.

Creio na força da paz. Se nos negarmos a agredir na mesma moeda, o exemplo que nosso silêncio produzirá será capaz de transformar o mundo.

Qual foi mesmo o pedagogo que ensinou a oferecer a outra face?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Persépolis


Que toda pessoa com sensibilidade possa um dia ler esse livro.
Que maravilha! Uma obra-prima de incrível sensibilidade.
Lindo, lindo, lindo!
Narra a história de vida de Marjane, uma iraniana que aos dez anos sente os impactos da revolução islâmica em seu país, a guerra Irã-Iraque que vem em seguida, exila-se aos 14 na Europa, passa uns maus bocados, chega a viver nas ruas da Áustria e volta a seu país natal. Entra na Universidade, se casa, separa e sai definitivamente para o mundo.
Aprendi muito sobre os impactos da ditadura islâmica, a questão do véu, o machismo, a ideologização em massa...
Consegui ver que há coisas do olhar islâmico fundamentalista sobre a mulher, que nasce do mesmo machismo que vejo todos os dias em meu país.
Aprendi muito sobre o que ocorre quando os absurdos do preconceito tomam o poder, a censura, a violência cotidiana e estrutural, a hipocrisia internacional...
Aprendi também sobre a cultura persa e que o meu país não é o centro do mundo. E a Europa também não. E nem mesmo o ocidente.
Amei a sensibilidade, chorei bastante com a menina, com seu olhar sobre a vida, seus heróis, sua conversa com Deus.
Mas acho que o que eu mais gostei foi o fato de ser autobiográfico. Ela conta muitos segredos, abre sua vida, sem moralismos, e assim, eu me senti muito mais próximo, me senti muito mais humano.
Agradeço a autora pela coragem de ser.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ministério Público intervém sobre Choque de Ordem


Uma notícia maravilhosa!!
Não sei o linguajar jurídico. Mas o fato é que o Ministério Público enviou ontem (15 de julho) um ofício para a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, denunciando a violência do "Choque de Ordem" contra a população de rua. Isso é um bom sinal!
Quem sabe, agora, a violência pára... Quem sabe, agora, as políticas melhoram...
Temos esperanças.
Abaixo divulgo o texto assinado pelo Promotor de Justiça Rogério Pacheco Alves, um homem que acaba de entrar em nosso coração.

Ilustríssimo Senhor,
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, através da 7a. Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Cidadania do Núcleo da Capital, instaurou o inquérito civil em epígrafe, com vistas a apurar, em síntese, os impactos da operação "Choque de Ordem", levada a efeito pela Prefeitura do Rio de Janeiro, sobre a população adulta em situação de rua e a eficácia da respectiva política municipal em referida área.
Ao longo das investigações algumas notícias de emprego de violência chegaram ao conhecimento do Ministério Público, aliadas a notícias de falta de políticas e equipamentos sociais adequados a solução de tão grave problema, que, com a proximidade dos grandes eventos esportivos que a Cidade abrigará nos anos de 2014 e 2016 (Copa do Mundo e Olimpíadas), tende a se agravar.
Assim, considerando os termos do Decreto Federal n. 7053, de 23 de dezembro de 2009, sobretudo os seus princípios, diretrizes e objetivos, serve o presente para solicitar a V. Sa. informações sobre a adesão do Município do Rio de Janeiro a Política Nacional para População em Situação de Rua (art 2o. parágrafo único do referido decreto), ressaltando a importãncia da discussão do tema entre órgão de governo e sociedade civil.
Por fim, alvitro a utilidade de uma reunião para mais ampla compreensão do problema, preferencialmente no mês de agosto próximo, colocando-se o Ministério Público a disposição para sediá-la na Cidade do Rio de Janeiro.
Colho a oportunidade para renovar protestos de estima e consideração.
Rogério Pacheco Alves
Promotor de Justiça

Temos esperanças renovadas!!
Como num jogo de xadrez, várias peças precisam ameaçar o adversário, ao mesmo tempo.

Aproveito e divulgo uma ação que vem ocorrendo no flanco legislativo:
Dia 19, segunda-feira, haverá nova reunião da Comissão Especial de Acompanhamento de Políticas Públicas para População em Situação de Rua.
Todos estamos convidados!!! Quanto mais eleitor participando mais os 5 vereadores que compõem a comissão darão importância a ela. É o jogo.
Rua 13 de maio, 13, sala 916, de 10hs a 12hs.

No flanco do Movimento Social: As quartas-feiras, a população de rua se reúne no Banco da Providência - Catedral as 11hs, sala 16. Divulguem para quem mora na rua. É o projeto chamado "Mosaico das Ruas".

No flanco da saúde: Toda primeira quinta-feira do mês ocorre a reunião do Fórum Estadual para Álcool e Drogas e eles estão inserindo uma mesa de discussão especificamente para população de rua.

No flanco do amor: dia 25 de julho, domingo, será o aniversário de 10 anos da Casa de Betânia. A missa começa as 10hs ali mesmo na Igreja Nossa Senhora do Loreto, Freguesia - Jacarepaguá.
Terá almoço e atividades maravilhosas organizadas pelos acolhidos da casa, durante toda a tarde. Quem quiser conhecer um pouco mais dessa casa, referência em reinserção social de população de rua com dependência química visite: http://www.betaniasab.org.br/

paz, paz, paz!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sobre enterrar avós


Ontem fui ai enterro do corpo de minha avó (biologicamente avó da Paula).
Tocante a união e harmonia de uma família unida pelo amor de uma verdadeira matriarca.
Um Espírito guerreiro, lutou pela vida, e se não posso dizer que possuía virtudes como serenidade, calma, disciplina alimentar (hehe) uma coisa todos temos que lembrar: um Espírito que muito ama. Todos aprendemos um pouco sobre a arte de amar com o exemplo da querida Beth. E se um gesto de amor cobre uma multidão de pecados, tenho certeza que seu amor, que ainda florescerá por gerações, continuará abrindo as portas da Civilização do Amor que em breve chegará.

Sua neta-filha escreveu hoje esse poema que preciso compartilhar:

Sobre enterrar avós

Fui ao enterro de três avós
Nenhuma era minha avó.
A primeira me disseram que era minha avó,
me garantiram mesmo,
mas não era não
e eu nada senti.
A segunda era minha avó,
mas me contaram muito tarde,
e também nada senti.
A terceira disse que era minha avó
Mas surpresa,
ela era minha mãe!
Como dói perder a mãe.

Paula

terça-feira, 13 de julho de 2010

Epístola ao político Rodrigo Bethlem


Querido Rodrigo Bethlem,
que Deus te abençoe.
Que a paz de Jesus seja a nossa bandeira!

Venho da parte mais profunda do meu coração falar ao fundo do teu coração.

Hoje vi suas bandeiras na rua, seus panfletos. Vi que se lançou candidato a deputado federal.
Tenho uma profunda admiração pelos políticos.
Admiro aqueles que estão dispostos a abdicar do tempo de sua vida familiar para um trabalho incansável em prol do bem coletivo. E é realmente muita dedicação, são muitas pressões de todos os lados e a pessoa corre o sério risco de ficar infeliz ao longo do processo.

Venho acompanhando sua trajetória nos últimos anos, especialmente junto a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e o famoso "choque de ordem" que vocês vem tentando implementar.

Há um fato muito triste ocorrendo nesse meio: as violências sistematicamente cometidas contra as pessoas que moram nas ruas. Sei que parte do eleitorado, mais conservador, vai dar votos a você por estar tentando "limpar" certas áreas da cidade da presença dessa população. As pessoas são levadas a força, com pontapés, choque elétrico, agressões verbais, para dentro das kombis e são conduzidas a regiões distantes da cidade, sendo deixadas em abrigos que não tem vaga.

Me parece amigo, tenho que dizer, que é uma estratégia eleitoreira. Porque as pessoas voltam de onde saíram, mais machucadas, é certo. Então é só um jeito de mostrar serviço a comunidade da zona sul. Tenho certeza que algumas pessoas vão votar em você, mas preciso dizer com o coração: temo pela sua trajetória.

Você está atraindo muito ódio contra você.
Violência só gera violência.
Você viu o filme do Chico Xavier? Quanto amor numa pessoa!! Por que você não tenta fazer o mesmo? Por que atuar com violência e crueldade contra as pessoas.

Olhando para o seu trabalho me lembro dos perseguidores do Cristo, os soldados romanos, os fariseus fanáticos. Você está agindo como aqueles que degolaram João Batista, irmão! Acorde!
Desista da sua candidatura. Se você perder será ruim. Se você ganhar será pior ainda, para você e sua família, porque será uma vitória conquistada sobre o sangue e a dor de muita gente.

Como você e sua família irão lidar com isso ao buscar a ajuda de Deus?
Semana passada os guardas do choque de ordem agrediram os irmãos católicos que estavam procurando servir um prato de sopa aos pobres. Bateram com o cacetete na mão de um pobre e jogaram toda a sopa fora. Como você acha que Francisco de Assis está te olhando agora, irmão?

Escuta seu coração: desista de construir sua carreira política sobre o sangue e o ódio das pessoas. Os que fizeram isso na história deixaram uma triste lembrança. Hitler foi um deles.
Fique ao lado daqueles que amaram a humanidade: Jesus, Francisco de Assis, e mais recentemente Madre Teresa, Luther King, Albert Schweitzer, Irmã Dulce, Chico Xavier.

Amigo, confesso que sinto uma raiva muito grande quando vejo as suas bandeiras.

Mas estou aprendendo a compreender e amar a todas as pessoas. É um trabalho duro, de conquista da paz interior.
Um monge budista no Vietnã conseguia meditar em benefício de vietnamitas e americanos durante a Guerra do Vietnã: Thich Nhat Hanh. Imagine: seus compatriotas sendo assassinados por uma guerra estúpida, e ele meditando pelos dois lado... Foi indicado por Luther King para o prêmio Nobel da Paz. Hoje tem vários livros dele aqui no Brasil: dê uma olhada. Ele me ensinou a fazer isso. Estou orando pelos que estão nas ruas para que sejam felizes. E estou orando por você para que você seja feliz. Por isso escrevo esta carta: mude, olhe nos olhos das crianças, veja a pureza, olhe no seu coração e veja a incoerência do que você está fazendo.

Continuarei orando por você, irmão. E por sua família.
Receba o desejo de amor, compaixão, alegria e serenidade que sai do meu coração para você.

Que Deus possa inspirar os seus caminhos.

Sei que corro o risco de ser odiado pelos dois lados, como Thich Nhat Hanh e seus seguidores do "budismo engajado" o foram, mas só assim poderei estar em paz. Veja o Dalai Lama como fala de paz! Mesmo podendo jogar seu povo contra os chineses, ele fala de perdão.

Eu aqui falo aos meus irmãos das ruas: vamos orar pelos políticos, eles tem uma dura prova na vida. Chico Xavier falava muito isso. A prova do poder e da riqueza são as mais difíceis. No livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, tem a passagem intitulada "Max, o mendigo". Estamos estudando com o pessoal que mora na rua: olha só, o homem era um príncipe e fez mal uso do dinheiro e do poder, arrependendo-se no mundo espiritual, pediu para renascer mendigo, e o foi por cinquenta anos.

Não me importo se você acredita ou não em reencarnação.
Mas sei que você entende quando a gente diz: "a semadura é livre, mas a colheita é obrigatória." Vamos, moço, por amor, seguir o som da flauta do amor que o Senhor Jesus tocou e ainda não dançamos. (Mt 11,17). Pare de ouvir os maus conselhos. Sempre é tempo de recomeçar.

Muita paz!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Arte e Poesia da Rua

Hoje no Centro Espírita na Rua mais uma daquelas histórias:

- irmão, tô com um problemão!
- o que houve? - perguntei ao senhor trêmulo.
- travei meu cartão. ia sacar um dinheiro, mas o cartão bloqueou. meu dia ontem foi horrível.
Mostrou-me o cartão. Banco Real.
- é que tem que pôr a senha e mais três números e esqueci os tais três números.
- puxa irmão, que chato. Mas não fique assim, tudo se acerta.
E quando pensei que a história tinha se acabado, o irmão precisava desabafar:
- tudo começou com o choque de ordem.
Não acreditei. Até em coisas simples, o fantasma do choque de ordem atinge as pessoas em fragilidade social.
- fui acordado no meio da madrugada na Presidente Vargas. Levaram-me a força até Campo Grande. Chegando no abrigo, disseram: "não tem vaga, quem quiser pega o trem de volta". Tive que sair dali. Entrei por um beco. Tráfico de drogas. Sorte que era o pessoal do Comando Vermelho, que não faz maldade de graça. Depois segui o caminho que levava ao trilho do trem, um buraco que dá pra entrar de graça. Aí voltei.
- mas o que isso tem a ver com o bloqueio do cartão?
- ah irmão, fiquei tão transtornado que na hora acabei esquecendo.

Estou farto desse horror político. Um terrorismo físico e psicológico atingindo as pessoas que já estão abaladas. Isso é crueldade! O senhor que me contou sua história tinha idade para ser meu pai.

Fiquei ali, olhando a minha raiva até que me acalmasse e lembrasse que a nossa luta por um mundo melhor é por meios pacíficos e se alimenta da nobreza de nossas atitudes. Caminhei em busca de tornar digna a minha indignação. Desesperar não leva a um lugar bom. Vamos intensificar a nossa ação solidária até que os homens vejam e voltem a ser homens.

Então fizemos um trabalho de arte: pintura com giz de cera nas paredes de madeira da obra. Muito lindo! Desenhos de paz, de amor, da cidade do Rio, protestos honestos. Arte é a loucura santa! Viva o profeta Gentileza.

Um dos irmãos, José Carlos, escreveu o seguinte poema:

O GOSTO DOS DESGOSTOS
DESTA MESA DESUMANA
O COPO MUNDO RASO
DESTES DIAS SEM BOM-DIAS
MEDEM PENEIRADOS FARELOS
PRANTOS CACOS
DO POVO REPRIMIDO NA
AVENIDA RIO

E assim, sua poesia lavou minha alma.

domingo, 4 de julho de 2010

Silêncio - saber para além da razão.


Estou lendo um livro de Carlos Castaneda, "O Poder do Silêncio: novos ensinamentos de don Juan".

Para quem não sabe, Castaneda, nascido no Brasil, foi fazer sua tese de doutorado em antropologia, pela Universidade da Califórnia, sobre ervas medicinais e ritualísticas usadas pelos índios em Sonora, no México, e acabou fazendo sua iniciação espiritual com um índio que, no livro, chama-se don Juan Matus. A partir daí escreveu uma série de livros tais como "A erva do diabo" e "Viagem a Ixtlan", meus próximos.

A feitiçaria, nesse contexto, é entendida como conhecimento formado a partir da antiga cultura tolteca pré-colombiana que envolve o uso de potenciais do espírito. As narrativas sobre seus mestres, os potenciais de uso da mente, e a busca interior de cada personagem são uma riqueza que contrasta com a materialista cultura do ocidente.

Estou adorando!

Um dos convites deste livro é o ultrapassar da razão: "complicamos as coisas tentando tornar razoável a imensidão que nos rodeia." p.47.

Quero compartilhar um diálogo entre Castaneda e d. Juan. Porque uma grande dificuldade em nossa busca espiritual está em compreender que o conhecimento pode existir sem palavras para explicá-lo.
Uma questão filosófica que está na raiz de todas as experiências místicas: é impossível explicar a experiência de união com Deus.
E, diga-se de passagem, está na raiz também dos insights científicos: o conhecimento antecede os passos racionais das teorias.

Creio que don Juan quer ensinar que o primeiro passo será abrir mão da razão que te conduziu até aqui.

"- Conhecimento e linguagem são separados - repetiu suavemente (...)
- Já lhe expliquei que não há maneira de falar sobre o espírito - continuou - porque espírito pode ser apenas experimentado. Os feiticeiros tentam explicar essa condição quando afirmam que o espírito não é nada que você possa ver ou sentir. Mas está pairando sobre nós o tempo todo. As vezes vem para algum de nós. Durante a maior parte do tempo parece indiferente."

Fiquei quieto. E don Juan continuou a explicar. Disse que de muitas maneiras o espírito era uma espécie de animal selvagem. Mantinha distância de nós até o momento em que algo atraía-o. Era então que o espírito se manifestava.

- (...) sem a menor chance ou desejo de compreendê-lo, um feiticeiro manipula o espírito. Reconhece-o, acena-lhe, convida-o, familiariza-se com ele, e expressa-o através de seus atos."
p. 54 e 55.

Espero que cada um encontre bons caminhos para realizar o espírito em suas vidas!

domingo, 27 de junho de 2010

Ver o jogo do Brasil com irmãos que vivem na rua

Preciso começar a divulgar as iniciativas maravilhosas que estão acontecendo!!
Coisas que nos fazem ter esperanças!
O maior e mais belo dos milagres é o gesto de amor.

Um grupo de voluntários, dentre eles um padre da Igreja Anglicana, está abrindo as portas de uma casa no centro da cidade para os moradores de rua.

Será um Espaço de Convivência.

E vão precisar de muitos voluntários para desenvolver todas as atividades de reinserção social que os nossos companheiros nas ruas precisam, especialmente as de reinserção no mercado de trabalho.
Bom, o trabalho deles é seríssimo.

Aos sábados fazem uma missa no Largo de São Francisco a partir das 18hs.

Eles chamam: Igreja na Rua.

Adorei o nome!

E estão passando os jogos do Brasil na Copa para assistirem juntos.
Isso é muito lindo. Noto que os jogos do Brasil tem sido momentos de confraternização, seja em família, seja com amigos. E pensei: assim como no Natal, essas pessoas vão ficar sozinhas?
Que bom que as pessoas estão alargando a idéia de família: família humana universal.
Nesta segunda terá almoço e logo após vão assisitir Brasil X Chile.
Local: Rua Silvio Romero, 49 Lapa - Rio de Janeiro.

obs.: a foto acima é da Homeless World Cup, a Copa do Mundo de Moradores de Rua, uma iniciativa mundial que está mudando a vida de muitas pessoas e fazendo a sociedade pensar!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O mundo será feliz, pacífico e próspero


No mundo das profecias a gente ouve muita coisa triste.
Mas há também as profecias otimistas.
No livro que acabo de ler sobre o Sai Baba, uma entrevista com o mestre indiano encheu meu coração de esperanças.
Vou transcrevê-la abaixo e você me diz o que você sentiu.
Detalhe importante: a entrevista foi feita em dezembro de 1978.

Sai: O crime tem se tornado muito intenso na Índia. Não há segurança.
JH: Swami, isso não é privilégio da Índia. O mesmo acontece por todo o mundo. Como irá terminar?
Sai: Terminará no bem. Em alguns anos, tudo será pacífico.
JH: Mas Swami, isso está piorando, e essa é a Kali Yuga (uma Era de pouca virtude no mundo). Sai: Não. Não está tão ruim quanto estava antes. É como no oceano. Há uma época de ondas altas e deve existir algumas ondas maiores que batem pesadamente na margem, mas isso é seguido por um mar calmo e pacífico.
JH: Muitas pessoas estão dizendo que em muito pouco tempo entraremos em um período de grande catástrofe.
Sai: Pode haver algumas ondas maiores, como mencionei, mas o mundo será feliz, pacífico e próspero.
Convidado: Nenhuma guerra mundial?
Sai: Não, nenhuma guerra mundial.
JH: Temos a sorte de estar vivos para vermos esse mundo pacífico.
Sai: Vocês todos o verão. Até mesmo os mais velhos viverão para vê-lo. (...) Isso será daqui a uns quarenta anos. Nesse momento o mundo estará pacífico. Tudo será amor - amor, amor em todos os lugares.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Você mora na rua?! Tá demitido.

Hoje, na rua, ouvi mais daquelas histórias que tocam profundamente nossa sensibilidade humana.

Me recuso a perder a sensibilidade.
Me recuso a perder o espírito de compaixão.
Me recuso a me tornar uma pessoa insensível, que olha o abandono, os absurdos contra a humanidade, e acha que tudo isso é normal.

Hoje, um irmão no Centro Espírita na Rua me falou:
- Irmão, já fui levado três vezes para o abrigo na Ilha do Governador. Da última vez voltei andando. Levei 2 dias e meio.
Fiquei ali, ao lado dele, um senhor idoso, imaginando as dores da alma em se ver levado a força para um lugar sem vaga, só para o aterrorizar.

E me pergunto: por que não usarmos esse recurso público, de dinheiro e de pessoal, para ajudar as pessoas a melhorarem de vida? Não há razão nesse Choque de Ordem: é um choque de Terror. E o que é pior: um Terror de Estado.

Outro companheiro contou sua história na Caravana (um grupo que leva janta quinzenalmente na Tijuca).
Ele havia conseguido um emprego.
Com o passar dos dias, no entanto, seu chefe veio chamar sua atenção para que ele usasse roupas limpas, que cuidasse mais da higiene.
Então ele resolveu desabafar, abrir o coração ao chefe:
- Sabe o que é? Eu ainda moro na rua. Mas se o senhor me adiantasse o pagamento eu poderia alugar um lugar para ficar, tomar banho e cuidar melhor da minha higiene.
- Ah você mora na rua?! Então tá demitido.

Até quando teremos de conviver com esse tipo de preconceito?

As pessoas que moram na rua são pessoas comuns.
Falam, comem, sorriem, contam histórias, gostam de ir a praia, de conversar, de lembrar das coisas boas, usam a internet, mandam e-mail. Tudo. Só que estão tendo que dormir na rua. E isso é uma imensa dificuldade.

Mas nem tudo é tristeza.
Hoje falamos do Gentileza. O profeta das ruas.


E dois companheiros nos contaram histórias do profeta:
- Um dia encontrei com ele.
- E aí?
- Era muito bom. Só de ficar perto dele... ele irradiava uma harmonia, uma paz...

E o outro contou que Gentileza no hospício fazia uma atividade que envolvia a todos, especialmente os outros doentes mentais. Foi quando um psiquiatra (muito humano e sábio) o perguntou:
- Gentileza, você veio aqui pra gente te curar, ou para você curar a gente?

Quem bom.
Como foi bom ouvir essa história de um irmão que mora na rua.
Todo dia aprendo uma coisa boa.
Assim vou me tornando um educador...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Nossa ida ao Dr Fritz - parte 2

Então a Paula, após ver as nossas cicatrizes, resolveu que queria ir até lá.
E fomos. Seu raciocínio:
- Puxa, fico pensando naquelas pessoas que estiveram perto de Jesus e não o buscaram. Acho que eu preciso buscar a ajuda.

Chegamos lá, muito frio. A noite caíra. Ficamos aguardando. Ela foi chamada e sentamos na fila de espera. Então ela foi chamada a entrar e eu perguntei se podia entrar junto para acompanhar. Não podia. Fiquei do lado de fora.
Mas Paula, por estar preocupada com o frio que eu estava passando deve ter insistido lá dentro para que eu entrasse. E como era o último grupo, vieram me chamar.
Ali fiquei na expectativa. Dessa vez poderia observar o trabalho do médium, sem a concentração de quem espera pelo atendimento. E planejei que tentaria conversar com ele, tirar algumas dúvidas.
Então ele entrou e foi seguindo o mesmo método. Como você está? perguntava a cada um. E ia tocando aqui, e ali. E eu vendo, já entendia o que estava acontecendo. Só que dessa vez ele ficava um tempo maior e se permitia conversar um pouco mais com as pessoas. Analisava com algumas o andamento do tratamento, etc.
Chegou a minha vez:
"Como você está?"
"Eu vim mais cedo, recebi a cirurgia"
"Como você está?" insistiu. "Estou bem. Eu fiquei com umas marcas nas costas, quero divulgar o trabalho, sou professor, quero divulgar para os meus alunos. Você tem como me explicar o que aconteceu, como é o tratamento?"
Ele virou-se para mim, e tentou explicar:
"É uma mistura de acupuntura, com energia quântica. É o futuro."
Eu fiz uma cara de quem não estava entendo nada.
Ele pegou minha mão, apertou três vezes com a palma da mão dele sobre a minha, tirou a mão e perguntou:
"Está vendo alguma coisa?"
Havia uma bolinha branca na minha mão. Ele a havia materializado. "É ectoplasma", uma assistente explicou. E ele disse: "energia anti-gravitacional". E me fez virar a mão para a bolinha cair mas a bolinha não caía.
Ele deu um passo para a frente, ia proseguir os tratamentos nos demais pacientes. Virou-se para mim e disse: "É mais ou menos isso, professor." Deixando claro que não temos muitos termos para entender o processo.
E eu disse: "Está bem, vou estudar."
E ele seguiu com os tratamentos.
De vez em quando ele passava e brincava comigo, falando alto: "O professor está ali só pensando."
Gostei da irreverência do Dr Fritz. Parece um bom amigo.

Ao final, todos nos reunimos em círculo do lado de fora da sala de cura, no galpão, e fizemos uma prece de encerramento. Algumas palavras foram ditas sobre a relação entre amor e humildade. Muito bom. Fizemos a oração do Pai Nosso. De olhos fechados, sentia uma intensa corrente de energia percorrendo meu corpo e a via em forma de raios luminosos da cor de fogo para cima e para baixo de cada parte do meu corpo.

Abaixo está a foto da cicatriz da cirurgia da Paula.



Tudo isso foi muito interessante mas ainda há um fato curioso.
Uma coincidência inesperada e sutil envolvendo umas pedrinhas.
Após a prece algumas pessoas vieram com pedrinhas nas mãos dizendo para escolhermos algumas. Peguei duas. Paula também. Depois eles voltaram. Paula me disse: pegue para o Rafael. E logo olhei uma pedrinha rosada. Aí falei em pegar outra e não conseguia escolher. Foi quando uma caiu no chão. Então eu disse brincando: essa que caiu é dele também. Era uma pequena e sem cor definida.
Até aí tudo bem.
No dia seguinte na pousada em que ficamos, no café da manhã, encontramos um rapaz, Leandro, que tinha estado o dia todo observando o Fritz e ele nos contou várias histórias impressionantes. Não tenho como relatá-las aqui por falta de espaço. O cursioso é que teve um momento em que entrei no quarto e busquei meu casaco. Quando saí, pus a mão no bolso e lembrei de dar as pedrinhas ao Rafael.
Qual não foi a surpresa? Enquanto eu tinha ido ao quarto, o Leandro aproveitou para oferecer duas pedrinhas ao Rafael. E quando eu entreguei as minhas, todos ficamos perplexos: as duas pedrinhas que eu dei eram idênticas as duas pedrinhas que o Leandro lhe dera.

Olhamo-nos por um tempo e concluímos: não estamos sozinhos! Isso não foi por acaso. De tantas pedras, de tantos tamanhos e cores, essa coincidência serve para confirmar a presença espiritual em tudo que estamos vivendo nesse fim de semana.
Que bom. Para os que não creem, essas coisas ajudam muito no processo da conquista da fé.
É um convite que Deus faz.
Muita paz!

domingo, 20 de junho de 2010

Um jeito certo de amar


Aprendi uma coisa muito sutil com Sathya Sai Baba.

Realmente, a sabedoria dos sábios verdadeiros me impressiona!

As coisas que eles falam são muito sutis e cheias de verdade.

Para falar do amor as coisas e as pessoas que amamos e do amor a Deus, ele usou a imagem de uma árvore em nosso jardim:

"Notamos que suas folhas estão enrugadas e secas, e imediatamente sentimos compaixão. Pegamos a mangueira e dirigimos um fluxo de água ressucitadora as folhas, mas elas não respondem; não se beneficiam da água. Porém se, em vez de jogar água nas folhas, dermos água as raízes da planta, aquela água ressucitadora rapidamente encontra seu caminho para o tronco, ramos, folhas, flores e frutos. De modo similar, se juntarmos todos os nossos amores e amarmos a Deus com amor completo, então nossa família e amigos natural e inevitavelmente receberão o amor do qual necessitam."

Do livro "Meu Baba e eu" de John Hislop , p. 105.

Vamos meditar juntos sobre isso?

Ao juntar toda a energia de amor e a dirigr a Deus, nós agimos com imparcialidade, desapego, entrega e confiança.
E é só assim que o verdadeiro amor se manifesta e produz bons frutos.

Amar não significa a preocupação ansiosa com o outro.
Amor não combina com desespero ou controle ou superproteção.
Amor envolve liberdade e o supremo respeito pelos processos de desenvolvimento do outro.

Esse é um exercício maravilhoso.
Centrar em Deus o meu amor pelo outro.
E então vou descobrindo que posso amar a todos os seres.
E assim vou descobrindo um Deus novo a cada dia.

As vezes me sinto sem Deus. Vazio. Sem fé.
E aí intensifico a minha busca e Deus se realiza em mim.

Fique em Paz!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Nossa ida ao Dr. Fritz

Depois de ler o relato impressionante de um amigo sobre sua cirurgia espiritual com Dr Fritz, resolvemos viajar a Rio Novo para conhecer o médium Chico Monteiro.

O Júlio Cesar divulgou na internet e colocou a foto da cicatriz que ficou após uma cirurgia espiritual feita sem uso de instrumentos. Quem quiser conferir é só olhar no site:
http://aeradoespirito2.sites.uol.com.br/Artigos/EFEITO_INTELIGENTE_LCF.html

Aí fomos Rafael, Beth, Paula e eu, numa viagem de 4 hs.
O dr. Fritz atende um sábado por mês em Rio Novo pelo médium Chico Monteiro.
Basta marcar pela internet: www.chicomonteiro.org
Não há cobrança pelo tratamento.
É doação. É por amor.
Quando chegamos ficamos impressionados com o tamanho do galpão e a tranquilidade ambiente.
Um lugar de paz. Já vale o descanso que a cidade nos proporciona.
Então a Beth teve prioridade e fez seu tratamento logo pela manhã.
Mais tarde voltamos Rafael e eu.
Depois de uma longa espera, entramos: um sala cheia de macas.
Quando o médium entrou na sala foi atendendo um por um: "Como você está?" - ele perguntava a todos. E durante 3 ou 5 segundos atendia a cada um.
Fiquei impressionado com a velocidade. Mas não conseguia entender o que fazia. Ele simplesmente tocava em alguns pontos das pessoas, fazia alguns gestos: injeção, costura e eu não conseguia entender.
Quando chegou a minha vez, olhei nos olhos do médium e realmente tomei um choque: não era ele ali, certamente havia um transe, uma impressão forte ficou em mim. E nesses poucos segundos ele foi tocando em pontos do meu corpo e senti umas pontadas fortes nas costas.
Fiquei com aquela dorzinha ali durante alguns minutos.
Quando chegamos na pousada, mostrei as costas para minha esposa e ali estavam as cicatrizes.


Olhamos para o braço do Rafael e ali estava a marca de uma injeção: exatamente a sensação que ele tivera.
Mas a nossa história não ternina aí.
Quando a Paula viu as cicatrizes resolveu que voltaríamos lá para ela passar pelo tratamento também. E aí... muita coisa aconteceu. Vi o tratamento, conversei com o dr Fritz...
Mas essa história eu conto depois.
paz!

terça-feira, 8 de junho de 2010

"Não, o abrigo aqui não dá"

Aconteceu ontem no Centro Espírita na Rua, aqui no Flamengo, Rio de Janeiro.
Tivemos uma conversa com dois companheiros, vou tentar transcrevê-la.

- Puxa irmãos, muito obrigado. Que Deus abençoe o trabalho de vocês, a família de vocês. Assim que puder eu venho aqui visitar vocês.
- Mas que venha a passeio.
- Sim, venho como turista.
Sr. José estava a caminho da rodoviária, ia pegar o ônibus de volta para sua cidade natal: Juiz de Fora. Com as doações dos amigos, o grupo conseguiu R$40,00, o suficiente para tirá-lo da rua.
- Me conta, irmão, onde você vai ficar em Juiz de Fora? - perguntei.
- Lá eu fico no abrigo da prefeitura.
- Ah é? Então você lá também não tem casa?
- Não, desde que meus pais morreram, ficamos só eu e meu irmão. Meu irmão está doente e eu estou desempregado. Aí tivemos que ir pra rua.
- E como é o abrigo lá?
- É bom. Fica no centro, então dá pra gente conseguir uns biscates.
- Ah, entendi.
E então fiz duas perguntas que estavam coçando na minha língua:
- Mas porque você veio pro Rio?
- Pra tentar um trabalho. Vim a pé. Levei quatro dias pra chegar. Vim com um amigo mas ele se perdeu nas drogas. Fiquei mais de dois meses e graças a Deus estou voltando. Rua não é vida pra ninguém.
- E aqui você não foi procurar um abrigo?
- Não, abrigo aqui não dá. É muito longe. O que a gente vai fazer lá em Santa Cruz? Aqui no centro a gente cata lata, papelão, ajuda a descarregar um caminhão, faz uma entrega, a gente precisa trabalhar, né irmão?
O Sr José estava certo. Depois de transferirem a Central de Recepção, que era na Praça da Bandeira, para a Ilha do Governador, a Prefeitura abriu uma outra central, agora mais longe ainda: em Santa Cruz.
Foi quando surgiu a vez do Sr Alberto falar.
- Pois é irmão, eu fui levado pra lá.
- Levado pra lá? Como? - perguntei já esperando a notícia.
- Ué, os guardas passam de madrugada, jogam água, spray de pimenta, batem na gente e nos colocam na Kombi. Me levaram pra lá. Quando a gente chega lá, vê que está superlotado e nos dizem: você não é obrigado a ficar.
- ...
- Não é obrigado a ficar?! Mas pra onde a gente vai irmão? Lá onde está o abrigo tem a milícia de um lado, o tráfico de outro... Eu, graças a Deus, consegui chegar aqui, a pé.
Nesse momento olhamos para o pé do nosso companheiro. Estava cheio de bolhas, mosquitos nas feridas, inchado e descalço.
Pra completar, hoje, manhã de terça-feira, na reunião do Fórum Permanente sobre População Adulta em Situação de Rua, tivemos a notícia de que os órgãos de Direitos Humanos já receberam cartas alertando para a violência que está sendo cometida por funcionários desse mesmo abrigo.

E dói-nos ouvir tudo isso e poder fazer tão pouco.
A sociedade está calada. A imprensa não dá essas notícias. Seres humanos sendo tratados como lixo.
Estamos comemorando a vitória do bem sobre o apartheid racial na África do Sul.
Olhamos para o passado mundial e vemos a vitória do bem sobre o nazismo e o fascismo. Olhamos para o passado no Brasil e vemos que o governo de Carlos Lacerda jogou pessoas no Rio Guandu sob o argumento de limpeza da cidade (veja o filme "Topografia de um Desnudo")
E aí a gente olha pro presente, e vê a ilustrada e vanguardeira sociedade carioca em silêncio diante da violência que estão realizando todos os dias.
Spray de pimenta? Cacetetes as 3hs da manhã? Se já não bastasse o frio...
Será que esses governantes não pararam pra pensar que o pai deles pode ter uma crise psíquica, uma amnésia, e ir morar na rua sem se lembrar de nada? Será que Deus vai ter que fazer isso para mostrar a eles que essas pessoas são seres humanos comuns?
Me lembro de Madre Teresa dizer que ali, disfarçado, bem sujo e mal-cheiroso, estava o Mestre Jesus.
Lembro de Dom Helder Câmara dizer que tinha encontrado com Jesus, ali, na calçada, pedindo uns trocados.
Senhor, tende piedade de nós.
E eu te digo, aquilo que disseste ao Pai, quando estavas pregado na "Santa Cruz":
Senhor, perdoa-os, eles não sabem o que fazem. E eles também não sabem a quem fazem.

sábado, 5 de junho de 2010

A Copa, as Nações e a Paz mundial


Comecemos com uma fala de Sai Baba:

"Quando há retidão no coração,
há beleza no caráter.
Quando há beleza no caráter,
há harmonia no lar.
Quando há harmonia no lar,
há ordem na nação.
Quando há ordem na nação,
há paz no mundo."

Ficamos pensando...
com a Copa do Mundo, quais os valores nossas crianças apreendem para suas vidas?
De um lado a competitividade, o ódio ao estrangeiro, o amor ao meu, o Nacionalismo doentio.
Por outro a cooperação, o fair play, a confraternização, saber ganhar e saber perder...
Depende de como os adultos vão interagir com elas.
Essa Copa tem muito a ensinar.
Aprendemos com perguntas:

Por que é a primeira Copa do Mundo no continente africano?
Por que a África do Sul?
Que história esse país teve que lhe proporcionou a chance de ser sede desse evento mundial?

Para mim, a Copa no país de Nelson Mandela é mais um evento que, no futuro, será visto como um sinal da transformação da cosciência humana: estamos entrando na Era do Espírito. Um momento em que todos nos vemos com respeito, sem preconceitos, sem ódios. Um momento de paz. Uma nova etapa na consciência humana: valores de paz, de reverência pelo diferente, de amor a todos os seres.

Para resolver o meu conflito entre nacionalismo e universalismo, meus dilemas sobre incentivar ou não as crianças a torcerem apaixonadamente pelo Brasil na Copa, resolvi refletir sobre esse texto do Sai Baba.

E aí encontrei uma entrevista com Gandhi, Espírito, no livro "Meu além de dentro e de fora" de autoria do Espírito Delfos, tendo o queridíssimo Luís Antônio Milecco como médium:
Delfos pergunta a ele:

"- Não sei, Mahatma, se deveria classificá-lo, durante sua vida terrena, como o mais nacionalista dos universalistas, ou o mais universalista dos nacionalistas. É essa ainda hoje a sua posição?

- A palavra "nacionalismo" sofreu muitas distorções ao tempo em que estive no mundo. Diziam-se nacionalistas todos os que desejavam imitar Hitler ou Mussolini. Se o meu amigo considera nacionalismo a noção de que cada país, cada povo, tem características particulares que não devem ser anuladas, então considere-me ainda hoje um nacionalista. Os povos e as pátrias são entidades coletivas; têm personalidade definida e devem enriquecer o mundo com sua presença e com aquilo que cada um pode dar. O verdadeiro nacionalismo não se concilia com qualquer espécie de imperialismo; não significa prevalência universal de uma cultura sobre as outras, mas sim, o encontro de todas as culturas para que se componha o belo espetáculo da verdadeira harmonia."

Que todos os povos sejam felizes.
Dia virá em que os grandes estádios estarão lotados de pessoas, de diferentes culturas, de diferentes povos, celebrando a paz e entoando hinos de amor ao Criador.

Shalom, Salam, Paco, Peace, Santi, Paz...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Mãe, falecida, ajuda filho que mora na rua a sair das drogas


Esta história não vai sair nos jornais.
Então tenho que contar aqui para que mais pessoas entendam os frutos que o estudo da mediunidade pode trazer.

Estávamos com os companheiros que moram nas ruas. Conversávamos sobre a busca do emprego.
- Nessa busca por emprego uma coisa importante é a abstinência da bebida e da droga - eu disse.
- Pois é irmão, eu estou muito feliz de estar aqui.
- Que bom companheiro - eu respondi. E silenciei esperando a sua história.
- Hoje é a segunda vez que eu venho aqui. Da primeira vez eu fiquei ali ouvindo o que a irmã falava sobre mediunidade, reencarnação... Eu já acreditava sobre vida após a morte, mas só agora que eu comecei a entender como se dão as coisas, os sonhos...
- Que interessante.
- Aí naquela noite eu sonhei com minha mãe.
Nesse momento ele se emocionou, engoliu o choro e continuou:
- Minha mãe faleceu há um ano e eu nunca tinha sonhado com ela. Aí naquele dia que eu vim aqui eu sonhei com ela. Ela estava triste, mas falava que queria me ajudar e queria que eu parasse de usar dorga. Aquilo me tocou. Eu já tive cinco sonhos com ela. Ela foi ficando mais feliz. Saí daqui com uma decisão em minha vida. Parar. Já me internei e fiquei um mês em tratamento. Agora aqui fora o tratamento dura um ano. E é muito bom sentir a minha mãe perto, me ajudando.
- É agora ela tá aí te ajudando - disse eu apontando para o lado dele.
- Eu sinto a presença dela e... me dá uma força aqui dentro - falou abraçando o peito. Eu estou muito feliz com o trabalho de vocês aqui.

Histórias como essa precisam ser guardadas com carinho.
Como professor e cientista preciso guardar todas elas (são os fatos). Uma conclusão é óbvia: mediunidade, conversa com os mortos, se é real ou não (questão para os metafísicos), ao menos temos a certeza de que dá resultado. Consola e promove o bem.
Mas como homem cheio de religião, e creio em todas crenças, sinto a importância do espiritismo, da prática da mediunidade, da reflexão sobre a vida e a morte, no meio da gente simples, dos esquecidos do mundo, para promover vida e felicidade.

Quem quiser ver uma história parecida na dramaticidade, com a beleza da arte cinematográfica, veja o que faz a mãe de Ray Charles no filme: "Ray".

paz!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Declaro publicamente que não dou mais aula nem palestra

A partir de hoje declaro que nunca mais darei aula ou palestra.

Depois de assistir a uma "palestra dialogada" com o professor José Pacheco, estou convencido que aula e palestra não tem utilidade.
Seu argumento é simples. Com seu sotaque de Portugal ele diz:

"Enquanto o professor dá aula,
quem sabe se desliga
quem não sabe, não consegue entender, fica a olhar a janela.
Na prova, quem sabe perde tempo, poderia estar aprendendo novas coisas
e quem não sabe, também perde tempo pois poderia estar usando esse tempo para aprender o que não sabe.
Portanto tanto a prova quanto a aula são inúteis."

Outras coisas que ele disse e que me marcaram profundamente:

"Não há dificuldades de aprendizagem
há dificuldades de ensinagem
Não há crianças deficientes
há práticas educativas deficientes."

Realmente, sinto que preciso me aperfeiçoar como professor.

Ele, através da experiência da Escola da Ponte, prova a desnecessidade de séries, turmas, horários, sinal, diretores e mostra o absurdo do professor trabalhar sozinho: "a profissão do professor é uma profissão solidária e não solitária."

Senti-me na frente de um legítimo socrático:
"Só é possível ensinar quando estamos a aprender".

Sua pergunta em sala de aula é: que querem aprender? que querem fazer?

Um anarquista?

Uma pessoa se relacionando com outras pessoas com real espírito de fraternidade.
Esse é o sentido da escola.

Sobre o poder ele disse algo muito engraçado:

"Quem sabe faz
quem não sabe ensina
e quem não sabe ensinar vai para a formação de professores
e quem não sabe vai para a formação de formadores.
A incompetência vai subindo na hierarquia."

Quem, como eu, quiser saber mais, procure por onde anda esse professor (que agora está no Brasil), e aqueles que estão trabalhando nesse espírito.

Uma dica de pesquisa: "conspiradores românticos".
Uma dica de livro: "Para Alice, com amor"
paz!

aí vai a foto do professor José Francisco Pacheco.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Menino de rua, com papel e tinta, gosta de pintar

Aí estão algumas obras dos nossos artistas:







Muita alegria.
O violão acima foi a atividade de desenhar o que estava envolta. Havia um músico se apresentando.
Há estrelas, jogos, casa, muitas casas... (não pudemos colocar todas).
Essa árvore também parece querer andar pelas ruas.
O sonho de ter uma moto está representado.
Que o milho se transforme em pipoca na panela da vida.
Há um sol acima das copas das árvores...


Alguém sabe me explicar de onde vem tanta beleza?

Algum comentário?
Se quiser se juntar a Escola da Rua, estamos no Largo do Machado toda quarta-feira, as 17:30.
Paz, Paz, Paz!

ps.: fotos completas no orkut:

http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=3355605867630133167&aid=1274896312

Conselhos para estimular a atividade mental e o raciocínio corretos


1- Leia bons livros e assimile cuidadosamente a mensagem deles.

2- Se você lê durante uma hora, escreva durante duas horas e reflita durante três horas.
Esta é a proporção que deve ser observada para se cultivar o poder do raciocínio.

3- Ocupe a mente com idéias inspiradoras. Não desperdice tempo com pensamentos negativos.

Do livro "Afirmações científicas de cura" do Yogananda.

Realmente ler é importantíssimo.
E a importância de escrever a gente só descobre com o tempo. Nas minhas experiências com trabalhos escolares, e agora como professor e pesquisador, percebo como escrever me ajuda a desenvolver as idéias, a aumentar o meu poder criativo e até mesmo para balizar melhor o próprio pensamento. Pensamento fica solto, a gente acha que sabe, e quando pedem para expressá-lo, aí é que a gente vê que não sabe bem. Estávamos nos iludindo.
Mais aprende quem ensina. Por isso vale a pena escrever e refletir em grupo.

Quanto aos pensamentos negativos, meu professor de Yoga me ensinou a técnica do "cancela". Quando a mente se perder em pensamentos negativos, pare, fique alerta e diga mentalmente: "cancela". Aí ocupe a mente com bons pensamentos, ou ao menos, com a consciência da respiração.

E assim vamos, aprendendo a domar esse macaquinho inquieto que gosta de pular de galho em galho.
Usar a mente para nossa felicidade é um aprendizado.
E um caminho de verdadeira libertação!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Procuro desvendar a Inteligência que me move


Ontem a noite estávamos estudando sobre a vida.
E surgiu-nos uma questão que, para mim, ainda está em aberto.

Adoro questões em aberto.
Tenho um saudável ceticismo diante das respostas prontas para tudo.

Se eu movo o braço, sei que estou movendo, tenho consciência de que sou o agente dessa ação.
Mas e o meu coração que bate, a minha digestão, a alimentação da criança no ventre da mãe...
Quem faz tudo isso?
A natureza? A presença de Deus?
Herança biológica? O meu Espírito, embora eu, preso na carne, não tome consciência?
Procuro desvendar a Inteligência que me move.
Tudo começou quando líamos a questão 140 de O Livro dos Espíritos.

140. O que se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantas são os músculos e presidindo assim a cada uma das funções do corpo?

"Ainda isto depende do sentido que se empreste a palavra alma. Se se entende por alma o fluido vital, essa teoria tem razão de ser, se se entende por alma o Espírito encarnado, é errônea. Já dissemos que o Espírito é indivisível. Ele imprime movimento aos órgãos, servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se divida."

Essa idéia nos deixou perplexos: "Ele imprime movimento aos órgãos".
Seria apenas como o Primeiro Motor aristotélico, ou há em mim um Espírito altamente desenvolvido (e sábio), que nem eu mesmo o conheça?

Os amigos opinaram. Todo tipo de opinião.
Alguns lembraram dos meditadores que conseguem controlar esses movimentos involuntários...

Cheguei em casa e fui continuar a leitura que estava fazendo dos Upanishades, na tradução de Carlos Alberto Tinôco.
E que interessante!!!!
O ponto em que eu parei era exatamente a mesma pergunta:
KENA UPANISHADE
"Discípulo: "Ó guru, quem comanda a mente para que ela se dirija aos seus objetivos? Quem faz o Prana (fluido vital) pulsar com a vida? Quem faz o homem falar? Qual o poder que dirige os olhos e os ouvidos?;

E vamos ver a resposta contida nessa Escritura milenar:
Mestre: "É o Ouvido do ouvido, a Mente da mente, a Fala da fala, A Vida da vida, o Olho do olho. (É o Atman, o Ser Interno). Abandonando a ligação do Ser (com os sentidos), renunciando ao mundo, o homem sábio atinge a Imortalidade."

"Os olhos não podem encontrá-lo, nem a fala, nem tampouco a mente. Nós não entendemos como pode alguém ensinar sobre Ele."

"Ele é diferente de tudo que é conhecido e está acima do desconhecido. Assim nós temos ouvido dos antigos preceptores que falaram para nós sobre Ele."
Em primeiro lugar a humildade intelectual: como alguém pode ensinar sobre Ele?
É um convite, sobretudo, a reverência. Pela vida, pela Inteligência que nos move a todos.

Aqui a ciência é acompanhada de uma atitude.
Não se trata apenas de saber, mas de viver.
Conhecimento pela ação.
E que ação?
A ação de renunciar a ação.
Controle... entrega... duas atitudes opostas. É na renúncia ao mundo, a tudo que é impermanente, que meu Ser Interior encontra-se em Deus, e Deus age por mim, ou melhor, o Deus que há em mim age.
Sim, a identidade de meu Espírito com Deus.
Um caminho de União:
Eu sou Tu, Tu és Eu. Eu e Tu somos um.

Preciso meditar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Menino de rua, mesmo cheirando cola, gosta de livro!


Hoje, tivemos mais uma experiência maravilhosa!
E dolorosa!
Como toda quara-feira, fomos até o Largo do Machado. Levamos suco de maracujá, deliciosos sanduíches de presunto, pipoca e...
... livros.
Quando encontramos as crianças e jovens que vivem nas ruas da região, a cena não nos surpreendeu.
Estavam brigando por causa de 2 reais, e prestes a fazer a divisão fraternal do tiner para cheirar.
No meio daquela confusão que de maneira nenhuma nos ameaça ou nos inclui (somos altamente alienígenas ali) distribuímos lanches que comeram e beberam com voracidade.
E então sacamos da mochila nossa arma mais poderosa:
Um livro de imagens.
Sem texto.
Todos ficaram hipnotizados pelas imagens e pela doce competição para saber quem adivinhava o que aquelas imagens representavam.
Adoraram o livro, e ali começamos a sugerir coisas... o carteiro! Que emprego legal. O cara que mora na rua, já conhece todas as ruas, aí estuda, faz um concurso e vira carteiro. Que dignidade, que dignidade. Palavras... ao vento da esperança de um dia germinar... olhares silenciosos. O que apreenderam dessas sugestões?
Crina do galo, maquete, barco, navio, cruzeiro, Arizona, deserto, índios, África, Austrália, Planeta Terra... quanta palavra que há tempo não ouviam.
Quanta imagem bonita, que desenho maneiro...
Combinamos de semana que vem levar papel, giz de cera, vamos criar!
Esses meninos são nossos alunos.
Não vão a escola. Mas ali está a Escola da Rua.
Temos o dever de levar a eles um mundo.
No meio da viagem deles naquele barato barato, que sai caro, queremos conduzi-los a uma outra viagem: do saber, do mundo, do sonho!
Tivemos então a nossa experiência de oração, pedida por um deles, que todos apoiaram e se uniram de mãos dadas. Nunca o Pai Nosso é tão cheio de paz, de energia, de silêncio na alma, como o Pai Nosso que recitamos com eles na rua.
Ah, essas crianças tem algo mais.
Escondem grandes homens.
Eu creio nelas.
Depois trocamos abraços cheios de carinho e afeto.
Os olhos já denotavam saudade.
Pena que acabou.