Estou lendo um livro de Carlos Castaneda, "O Poder do Silêncio: novos ensinamentos de don Juan".
Para quem não sabe, Castaneda, nascido no Brasil, foi fazer sua tese de doutorado em antropologia, pela Universidade da Califórnia, sobre ervas medicinais e ritualísticas usadas pelos índios em Sonora, no México, e acabou fazendo sua iniciação espiritual com um índio que, no livro, chama-se don Juan Matus. A partir daí escreveu uma série de livros tais como "A erva do diabo" e "Viagem a Ixtlan", meus próximos.
A feitiçaria, nesse contexto, é entendida como conhecimento formado a partir da antiga cultura tolteca pré-colombiana que envolve o uso de potenciais do espírito. As narrativas sobre seus mestres, os potenciais de uso da mente, e a busca interior de cada personagem são uma riqueza que contrasta com a materialista cultura do ocidente.
Estou adorando!
Um dos convites deste livro é o ultrapassar da razão: "complicamos as coisas tentando tornar razoável a imensidão que nos rodeia." p.47.
Quero compartilhar um diálogo entre Castaneda e d. Juan. Porque uma grande dificuldade em nossa busca espiritual está em compreender que o conhecimento pode existir sem palavras para explicá-lo.
Para quem não sabe, Castaneda, nascido no Brasil, foi fazer sua tese de doutorado em antropologia, pela Universidade da Califórnia, sobre ervas medicinais e ritualísticas usadas pelos índios em Sonora, no México, e acabou fazendo sua iniciação espiritual com um índio que, no livro, chama-se don Juan Matus. A partir daí escreveu uma série de livros tais como "A erva do diabo" e "Viagem a Ixtlan", meus próximos.
A feitiçaria, nesse contexto, é entendida como conhecimento formado a partir da antiga cultura tolteca pré-colombiana que envolve o uso de potenciais do espírito. As narrativas sobre seus mestres, os potenciais de uso da mente, e a busca interior de cada personagem são uma riqueza que contrasta com a materialista cultura do ocidente.
Estou adorando!
Um dos convites deste livro é o ultrapassar da razão: "complicamos as coisas tentando tornar razoável a imensidão que nos rodeia." p.47.
Quero compartilhar um diálogo entre Castaneda e d. Juan. Porque uma grande dificuldade em nossa busca espiritual está em compreender que o conhecimento pode existir sem palavras para explicá-lo.
Uma questão filosófica que está na raiz de todas as experiências místicas: é impossível explicar a experiência de união com Deus.
E, diga-se de passagem, está na raiz também dos insights científicos: o conhecimento antecede os passos racionais das teorias.
Creio que don Juan quer ensinar que o primeiro passo será abrir mão da razão que te conduziu até aqui.
"- Conhecimento e linguagem são separados - repetiu suavemente (...)
- Já lhe expliquei que não há maneira de falar sobre o espírito - continuou - porque espírito pode ser apenas experimentado. Os feiticeiros tentam explicar essa condição quando afirmam que o espírito não é nada que você possa ver ou sentir. Mas está pairando sobre nós o tempo todo. As vezes vem para algum de nós. Durante a maior parte do tempo parece indiferente."
Fiquei quieto. E don Juan continuou a explicar. Disse que de muitas maneiras o espírito era uma espécie de animal selvagem. Mantinha distância de nós até o momento em que algo atraía-o. Era então que o espírito se manifestava.
- (...) sem a menor chance ou desejo de compreendê-lo, um feiticeiro manipula o espírito. Reconhece-o, acena-lhe, convida-o, familiariza-se com ele, e expressa-o através de seus atos."
p. 54 e 55.
Espero que cada um encontre bons caminhos para realizar o espírito em suas vidas!
Creio que don Juan quer ensinar que o primeiro passo será abrir mão da razão que te conduziu até aqui.
"- Conhecimento e linguagem são separados - repetiu suavemente (...)
- Já lhe expliquei que não há maneira de falar sobre o espírito - continuou - porque espírito pode ser apenas experimentado. Os feiticeiros tentam explicar essa condição quando afirmam que o espírito não é nada que você possa ver ou sentir. Mas está pairando sobre nós o tempo todo. As vezes vem para algum de nós. Durante a maior parte do tempo parece indiferente."
Fiquei quieto. E don Juan continuou a explicar. Disse que de muitas maneiras o espírito era uma espécie de animal selvagem. Mantinha distância de nós até o momento em que algo atraía-o. Era então que o espírito se manifestava.
- (...) sem a menor chance ou desejo de compreendê-lo, um feiticeiro manipula o espírito. Reconhece-o, acena-lhe, convida-o, familiariza-se com ele, e expressa-o através de seus atos."
p. 54 e 55.
Espero que cada um encontre bons caminhos para realizar o espírito em suas vidas!
André, você fala de imensidão, o que me reporta a pensar na grandeza, na infinitude que certas paisagens nos despertam. Paisagens escritas, inclusive, poéticas... Lembro-me de "A surpresa do mundo, de uma teóloga e matemática portuguesa chamada Teresa Vergani (2003). No percurso da leitura, você encontra Transitando III: O homem segundo o “livro das mutações” (nós somos a carne dos textos que comemos), adaptação e síntese construída pela autora, a partir de um comentário de Jay Ramsay ao I Ching. Dessa síntese recolho alguns fragmentos:
ResponderExcluir"As coisas fluem, há um halo de mobilidade à sua volta.
Estão rodeadas pela vastidão, como uma vaga.
Vê-as de modo mais leve, mais meigo, mais generosamente atento,
como se fosses um noivo à procura de um rosto a quem amar.
Olhamos para o céu com a nuca, cheios do nosso próprio ruído, inexperientes. (...)
Tudo está aberto diante de ti:
abraça-o com os teus braços e olhos de guerreiro. (...)
Podes moldar o espaço vivo à tua volta,
Respirar um vento intenso e fresco como vinho.
De todo o ar escorre brilho. Move-te e passa! (...)
Nada existe entre ti e a vastidão quando a terra se ergue nos teus pés!
Que te mereçam um interesse ardente as mais pequenas coisas
que contigo se cruzam cada dia.
Ignoras a minúscula flor que transforma o deserto?
Pisas o caracol que a chuva trouxe ao teu encontro?
Reparas no rumo que o pássaro toma ao levantar-se?
Podes viver como se tudo importasse?
Então hás de viver!
O mundo continua a girar agarrado
ao seu tesouro de conceitos ilusórios.
A música é efêmera mas existe,
benéfica, fecunda, impermanente.
Sonda o significado verdadeiro de tudo
o que deves levar, trazer ou transformar.
Pouco há a aprender além do que já sabes:
és humano e estás só.
Age como um pássaro capaz de incendiar o próprio ninho.
Vive, muda, canta e passa!"
(VERGANI, 2003, p.142-143)