quarta-feira, 13 de abril de 2016

Hoje eu tive um sonho


Hoje eu sonhei que estava num hospital público e que não havia mais hospitais e clínicas particulares, nem planos de saúde. E o hospital público recebia todas as pessoas da cidade, os ricos e os pobres. E era bom. Era até engraçado, as pessoas simples na mesma sala de espera que o galã da novela das oito levando seus filhos na pediatria.Vontade de pedir autógrafo, mas ali no outro corredor, no raio X da ortopedia, estava o craque da seleção brasileira e a celebridade do programa de humor mais famoso do momento levando seus filhinhos que se machucaram jogando futebol. E na mesma fila para agendar a cirurgia de coração, o deputado federal conversava com a professora da escola pública sobre o trabalho estressante que ambos têm.

Hoje sonhei que as universidades e as escolas eram todas públicas e não havia mais ensino privado. Era curioso ver, na mesma sala de aula, a filha da diarista e o filho da patroa. E depois ver os dois indo pra casa onde a mãe da menina trabalhava para estudarem juntos para a prova e todo mundo via que a menina era um gênio da matemática e ajudava o menino que a ensinava francês. E na mesma escola crianças brincavam ao ar livre e subiam nas árvores frutíferas do quintal, de pés descalços, brilho estampado nos rostos, felizes ali se divertindo com as coisas simples da vida.

Sonhei também que não havia mais clubes. Todos os clubes tiveram suas portas abertas e muros derrubados e se transformaram em praças públicas. E, no sonho, todo o lazer era aberto a todos: teatro, shows, cinema, piscina, quadras de esportes, aulas diversas... de esgrima à capoeira, de dança artística à pintura em aquarela era acessível gratuitamente a todos. Uma alegria de ver aquela meninada toda lutando com suas espadas sob o olhar atento e exigente do técnico e ver que o campeão das olimpíadas escolares era bem um menino da favela e que o filho do cirurgião chefe do maior hospital da cidade estava por virar mestre de capoeira, com o apelido de Alemão, devido a seus naturais cabelos amarelos. Adultos de diferentes origens sociais estavam embaixo de uma enorme árvore seguindo os passos suaves e desafiadores de uma professora de balé e um grupo bem animado, dentro de uma linda gruta, aprendia os primeiros acordes na viola. E vi um grupo de debates de filosofia bem interessante porque discutiam a coincidência entre a posição das notas na escala musical e as posições dos planetas no sistema solar, e procuravam uma equação matemática que unificasse esse e outros fenômenos da vida.

Foi um sonho com um lugar muito diferente pois nas ruas quase não passava carro. O transporte público era muito bom, integrado, gratuito. E se passasse alguém de carro, oferecia carona. Havia diversos pontos de carona em cada rua. E bastava ficar ali, nem precisava fazer sinal, quem vinha de carro parava e conversava com quem estava no ponto para saber onde iam e combinar a carona. No trânsito, os condutores eram gentis entre si e, se me lembro bem, os carros não faziam barulho e, pelo visto, usavam um combustível que não era poluente.

No sonho, as pessoas tomavam banho em rios e mares de águas límpidas. E... meu Deus!... elas não usavam roupa! Nessa hora uma pessoa me fez ver que diante de todos aqueles corpos nus, reinava um clima de pureza inocente e uma evidente igualdade social. Vendo ali aquelas crianças correndo e se pendurando nos ombros dos adultos não dava para saber se eram famílias ricas ou pobres. Sem as roupas e os adornos caros, diante de um corpo nu, todo mundo é igual e puramente humano, sem distinções de classe.

E então, numa dessas caronas, uma pessoa me convidou para ir almoçar com sua família. Ao entrar em seu prédio me surpreendi ao ver uma horta comunitária e ele me explicou que o terraço era todo de plantio e que alguns moradores, especialmente talentosos com plantas, mantinham o jardim bem elegante e cultivavam com alegria legumes e hortaliças para uso de todos os moradores. Me espantei com o nível de colaboração existente no prédio e ele se animou a me mostrar a lavanderia. Um prédio grande como aquele e apenas algumas máquinas de lavar... alguns vizinhos estavam ali retirando roupa do varal também coletivo.

O almoço estava delicioso e na sobremesa havia sorvete! Um sorvete de manga com gengibre feito em casa! Mas na hora em que a colherada de sorvete ia parar na minha boca eu acordei assustado. O sonho era tão real! Abri os olhos e vi a mangueira que tem defronte a janela do quarto. Olhei para o lado e vi a minha mulher linda dormindo como um anjo, e vi o seu barrigão de 9 meses que guarda a nossa filhinha que está prestes a nascer. Então pensei, com lágrimas de amor por essa vida que tenho: como seria bom se esse se sonho se tornasse realidade para a vida dessa pequena estrela de luz que está vindo viver com a gente!