segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Por quê?



A meia-noite o aspirante a asceta proclamou: "é chegado o tempo de deixar minha casa e buscar Deus. Quem me manteve aqui por tanto tempo iludido?"

Deus sussurrou: "Eu", mas os ouvidos do homem estavam obstruídos.

Em um lado da cama, sua esposa dormia tranquila com um bebê repousando em seu peito.

O homem disse: "Quem é você que por tanto tempo me enganou?"

Mais uma vez a voz proferiu: "Eles são Deus", mas o homem não escutou.

Em seu sonho o bebê chorou, aninhando-se inda mais em sua mãe.

Deus ordenou: "Pare, não largue sua casa", mas, de novo, o homem não escutou.

Lamentando-se, Deus suspirou: "Por que, para me buscar, meu servo me abandona?"

Rabindranath Tagore

sábado, 13 de agosto de 2011

Um tapa na cara


"Ontem à noite levei um tapa, bem no rosto, na rua, na frente de todos, amigos, conhecidos e desconhecidos. Me enchi de vergonha, me senti humilhado, minha pequenez e impossibilidade de agir se tornaram evidentes. Eu, criança, aprendo como é viver, começo a entender como os adultos agem, como são covardes eles. Um maior do que eu me segura o outro armado me bate. Não sei se quero crescer nesse mundo, se quero me tornar um adulto, com certeza não quero viver como eles, batendo em criança e arma na mão.

Esse tapa não foi no meu rosto, preferia que fosse, foi no rosto de um menino de 8 anos. Meninos de rua, sem ninguém para defendê-los da truculência dos policiais. Tudo isso aconteceu no Largo do Machado, ontem, as 22:00 hs, várias pessoas assistindo ninguém fez nada, nem eu. Assistimos apenas dois homens adultos, fardados com roupa da PM, armados batendo em crianças. Eu também levei um tapa ontem, mas não foi no rosto, foi na alma."


Paula

Aceite-me

Temos tanta coisa em nosso interior...
No teatro da vida, em que representamos personagens ao longo do tempo, raras vezes ouvimos quem somos na vida real.
E esse é o trabalho essencial.
Encontramos então muitas coisas que não queríamos ver.
Mas aceitar é o único caminho para a paz interior.
É o caminho de retorno a Deus, nossa ligação mais profunda com a Vida.
Somos sempre reconvidados a esse encontro.
Eis um poema-oração de um dos maiores poetas-místicos de todos os tempos.



"Aceite-me, querido Deus, aceite-me por um momento.

Deixe os órfãos dias sem Você serem esquecidos.

Alongue este breve instante por Seu longo colo, mantendo-o sob Sua luz.

Vaguei atrás de vozes que me atraíram... deu em nada.

Permita-me, agora, sentar em paz e escutar Suas palavras no espírito do meu silêncio.

Não mostre Suas costas aos segredos obscuros do meu coração: queime-os até que Seu fogo os ilumine."

Rabindranath Tagore

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Quem manda em você?

Quero compartilhar uma reflexão sobre a importância de nossas ações na construção do nosso destino.
Na Índia a palavra ação é expressa por karma (kamma, em páli).

Sidarta Gautama disse:
"Todos os seres possuem suas ações, herdam as suas ações, têm origem nas suas ações, estão ligados as suas ações; as suas ações são o seu refúgio. Conforme suas ações forem indignas ou nobres, assim será sua vida."

Não há fatalismo, nem destino: tudo é resultado de nossas próprias ações.

Disse ainda: "Você é senhor de si, você constrói seu próprio futuro."

Daí, ouvi o comentário do Goenkaji, meu professor de meditação:

"Cada um de nós é como um homem de olhos vendados que nunca aprendeu a dirigir, sentado ao volante de um carro em alta velocidade em uma estrada movimentada. Não é provável que alcance seu destino sem sofrer um desastre. Pode acreditar estar dirigindo o carro, mas, na realidade, é o carro que o conduz. Se quiser evitar um acidente e alcançar o seu objetivo, é preciso remover a venda, aprender a conduzir o veículo e afastar-se do perigo o mais depressa possível. Da mesma forma devemos ficar atentos aquilo que fazemos e, então, aprender a praticar ações que nos levem aonde realmente queremos chegar."

Com esse entendimento volto minha atenção para minha respiração, observo as sensações do meu corpo, fico vigilante diante das emoções que surgem, aceito-as como elas são, mas não deixo que elas me governem. Esse é um bom caminho.

Creio que todo santo, que toda pessoa iluminada, na base de suas ações está uma consciência muito atenta de si mesmo.

Fique em paz e bom trabalho.

Essas citações são do livro: Meditação Vipassana: a arte de viver segundo S.N. Goenka, escrito por William Hart.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Deus e o ateu

Toda vez que encontro alguém que me diz "não acredito em Deus", isso aumenta ainda mais minha admiração por Deus.
Ele é tão grandioso, tão magnânimo e deu tanta liberdade ao ser humano a ponto de podermos duvidar.
Deus fica ainda maior diante do ateu.
Tão sem desejo de poder e controle. Deus nos aceita como somos. Aceita os caminhos que escolhemos para chegarmos até Ele.
É claro que sempre manda os convites. Os raios de sol, o encanto das estrelas, as fases da lua... o canto do pássaro, a alegria dos cachorrinhos, o trabalho das formigas, o orvalho no mato... a dor, as perdas, o vazio... tudo é um falar de Deus e um apontar para Deus. E ainda assim Ele não nos força a nada.
Que Criador maravilhoso!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Meditação Vipassana




Acabo de voltar de mais um curso de Meditação Vipassana.

Foi muito bom e profundo.
São 10 dias em que mergulhamos em nós mesmos, seguindo uma técnica muito simples ensinada pelo Buda.
Nos 3 primeiros dias afiamos a mente através da observação da respiração natural (técnica conhecida como anapana). Não é controle da respiração (pranayama), mas a sua simples observação. Sentir o ar entrando e saindo pelas narinas.
Depois do quarto dia vamos gradativamente aprendendo a técnica Vipassana que consiste em observar as sensações em cada parte do corpo.
Observar.
Como um cientista, como um médico que olha as feridas.
Sem julgar.
Isso vai treinando a nossa mente a agir com equanimidade diante das situações da vida. Isso significa aceitar as coisas como elas são.

Normalmente sofremos com as coisas desagradáveis e ficamos felizes com as coisas agradáveis.
Por isso sofremos o tempo todo, vivemos a ilusão, porque nada é permanente.

Essa é verdadeira sabedoria ensinada pelo Buda: equanimidade, nem apego ao que é agradável, nem aversão ao que é desagradável.


Uma sabedoria que não pode simplesmente ser intelectual, é preciso passar pela experiência. Ele experimentou e mostrou o caminho.

A prática é simples. Mas o resultado: muito profundo.

Enquanto se pratica a observação das sensações, coisas do passado, negatividades muito profundas vem a tona e se liberam. Essas negatividades: raiva, ódio, desejo sensual, ansiedade, desejo de poder, angústia, medos... vem a tona e encontram uma mente que observa, que aceita a realidade das coisas como estão se manifestando nesse momento.

Não precisamos brigar para que vão embora. O simples fato de aceitar a realidade que há em nós, nos liberta, e nos torna mais leves.

Isso amplia nossa capacidade de compaixão diante de todos os que sofrem.
Isso amplia nossa capacidade de perdão.
Isso nos aproxima da real felicidade.

Se você quiser aprender, tem que fazer um curso desses de 10 dias, cumprir as regras morais propostas e confiar na técnica.

Veja no site: http://www.dhamma.org/

Funciona.
E digo isso não por um convencimento intelectual. Mas pela experiência.

Sabe aquelas situações em que sabemos que temos que ser tolerantes com alguém e não conseguimos? E sofremos por não conseguir? Isso nos faz tanto mal.


A técnica te ajuda, porque com ela, você se liberta das impurezas que estão dentro de você acumuladas e te impedem de aceitar e perdoar. São gatilhos de ódio armazenados em seu interior. Com a prática você se torna leve. E então a tolerância passa a ser algo natural.


Que todos os seres sejam felizes.
Seja feliz.
Paz, paz, paz!