segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Anísio Teixeira - trabalho, felicidade e momento presente

Amo o meu trabalho.
Faço o que sempre sonhei.
E hoje, lendo o grande educador brasileiro Anísio Teixeira, encontrei a defesa desse princípio: que as pessoas possam se ocupar daquilo que gostem. Tanto os adultos, como as crianças nas escolas.
Um gênio da educação que ainda foi pouco ouvido.

Vejamos:

Em seu livro "Pequena introdução a filosofia da educação" ele vem discutindo a questão de como erramos quando consideramos a vida um conjunto de sacrifícios e esforços sofridos para se obter a felicidade futura (seja nesta ou na outra vida). E de como as pessoas que pensam assim julgam que o homem não gosta de trabalhar e se o faz é para obter um benefício futuro.
Tudo errado. Para ele o homem, desde criança, gosta de estar em atividade, de se envolver em ocupações diversas e a sua felicidade só pode ser vivida no presente, no fazer aquilo que mais gosta.
Vamos ler o que diz o professor?

"Há um grupo de homens para quem o trabalho é a sua própria alegria. Sobretudo os artistas e os que dão à sua própria vida a natureza de uma obra de arte, conseguem esse resultado surpreendente.
E o que faz desse trabalho ou dessas vidas uma realização harmoniosa de prazer e de alegria? É que o trabalho vale por si mesmo, e não é uma simpes atividade que se perfaz pelo resultado externo que dela poderá advir. O quadro, a escultura ou o livro poderão ser vendidos e daí retirar o autor o prêmio externo de seu esforço. Uma remuneração mais alta, porém, a do prazer, da paixão e do amor do próprio trabalho já lhe deu a compensação essencial.
A atividade do artista, como a atividade da criança, é a atividade em que se resumem as suas próprias vidas. O seu trabalho, o seu prazer e a sua missão, tudo se funde em um só esforço integrado e harmonioso.
Todo o trabalho humano devia participar dessas qualidades. Nesse dia, o próprio trabalho daria a felicidade. (...)
Agindo somente por obrigação a sua atividade se dissocia entre o que ele quer e o que ele faz, e, com essa dissociação lhe foge a sadia alegria de viver e de trabalhar.
O período de labor torna-se, então, um período de desconforto e opressão. Apenas liberto dessa obrigação monótona e fatigante, procura as excitações do prazer superficial e grosseiro.
Assim está organizada quase toda a vida moderna. Os moralistas conservadores teriam razão, se as coisas não pudessem mudar. Se o que é hoje, tivesse que o ser para sempre. O seu erro maior está exatamente aí. As suas doutrinas alimentam-se da convicção de que as coisas são assim e não podem ser de outro modo. Daí o esforço de toda moral para criar compensações.
E com isso, desencorajam as mudanças e as transformações, negam valor as experiências novas e buscam emprestar, não sei porque receio, uma significação supersticiosamente sagrada as instituições de nossa época."

E conclui:

"A vida será boa se a nossa atividade, em si mesma, e por si mesma, for agradável e satisfatória.
A atividade não será, deste modo, uma preparação para um bem futuro e remoto, mas, ela mesma, esse bem.
Não vamos ser felizes no futuro. Ou seremos felizes agora ou não o seremos nunca. Vivemos no presente e só no presente podemos governar a vida. O futuro é imprevisto e imprevisível.
(...)
Deve-se partir para a vida como para uma aventura.

(...)
Os sofrimentos devem ser recebidos com uma saudável coragem. Contribuem para dar uma querida nota heróica a vida.
São as sombras que põem em relevo as luzes e as cores da existência..."

páginas 128 a 132

Vamos fazer a vida como quem faz uma obra de arte.
Arte de viver.

Mais a frente faremos a relação disso tudo com os princípios do Zen Budismo e do Baghavad Gita. Tudo a ver!

Bom trabalho!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ética e a leveza da paz - SOU FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Vinha andando pela rua a caminho do trabalho.
Hoje era dia de levar as passagens para pedir ressarcimento.
Viajo toda semana a trabalho e a Universidade paga meu transporte.
Na carteira além das 3 passagens, havia mais duas que não foram usadas pois aproveitei caronas no carro de colegas.
Um diálogo muito comum se iniciou:
- entrega as 5.
- mas só 3 foram usadas.
- destaca o canhoto e entrega como se tivesse usado. afinal, o seu colega pagou a gasolina. você foi trabalhar. é como se você tivesse ido de ônibus.
- mas não fui.
- que diferença faz? são R$ 76 a mais para você.
destaquei o canhoto e juntei as duas passagens as outras três.
continuei meu caminho pensando se estava certo ou errado.
Até que peguei as duas passagens, rasguei-as e joguei-as na lixeira.
Subitamente uma leveza e uma paz tomaram conta de mim.
- você é bobo - podem dizer
- sou ético. acredito na ética.
- ficou mais pobre do que poderia.
- fiquei mais leve do que estaria. dinheiro não compra a paz, não compra caráter.
Resolvi divulgar isso.
Pode ser mais uma estratégia do ego .
Que seja, decidi que as pessoas precisam começar a saber que é possível e vale a pena ser ético.
Resolvi começar a dizer com orgulho: SOU FUNCIONÁRIO PÚBLICO.
Paz!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aperto de mão e olho no olho

Segunda-feira, dia 5 de dezembro,
mais uma semana se inicia
mais uma vez o bem foi proclamado.
Hoje, no café da manhã com nossos irmãos que vivem nas ruas, estávamos agradecidos pelas doações: pão, café, suco, iogurte, broa de milho, chocolate quente, banana e humanidade.
Pois é,
nos reunimos debaixo das arvores do aterro as 7:30.
Um dos nossos voluntários deu uma ideia muito boa e a colocamos em pratica. Quatro voluntários de nosso grupo, antes de tudo começar, se dirigiram aos irmãos sentados que aguardavam o café e foram apertando a mão e dando um bom dia, dizendo que esperam que seja um dia melhor, com paz e esperança em seus caminhos.
Depois fizemos a partilha do pão, a oração e então distribuimos o alimento.
Parecia um dia como outro qualquer.
Mas havia uma calma no ambiente, um respeito, uma atitude de tranquilidade em toda aquela gente (eram mais de 100).
De onde vinha aquela paz?
O que houve de diferente nessa manhã?
Por que as pessoas estavam tão mais calmas do que de costume?
É porque foram tratadas como gente. O aperto de mão criou um vínculo. O olhar no olho estabeleceu entre nós uma relação de ser humano.
Se ficássemos só no trabalho mecânico como se o café e as coisas materiais fossem a coisa mais importante, perderiamos a melhor parte (Lc 10,42). E eles também.
Quando as pessoas agem com brutalidade é porque as tratamos com a bruta indiferença.
Os homens da lei, não percebem essa Lei. (estou falando do modelo burocrático-legal vigente nas insituições sociais e na cultura da doação de caridade)
Quando tratamos com respeito e dignidade as pessoas nos tratam com respeito. Nem é preciso pedir respeito, ele se faz.
Sonho com o dia em que sentaremos a mesma mesa.
Vamos caminhando.
Que nossa semana seja iluminada.
Que haja paz, que haja saúde, que haja felicidade.
Bom dia!