segunda-feira, 31 de maio de 2010

Declaro publicamente que não dou mais aula nem palestra

A partir de hoje declaro que nunca mais darei aula ou palestra.

Depois de assistir a uma "palestra dialogada" com o professor José Pacheco, estou convencido que aula e palestra não tem utilidade.
Seu argumento é simples. Com seu sotaque de Portugal ele diz:

"Enquanto o professor dá aula,
quem sabe se desliga
quem não sabe, não consegue entender, fica a olhar a janela.
Na prova, quem sabe perde tempo, poderia estar aprendendo novas coisas
e quem não sabe, também perde tempo pois poderia estar usando esse tempo para aprender o que não sabe.
Portanto tanto a prova quanto a aula são inúteis."

Outras coisas que ele disse e que me marcaram profundamente:

"Não há dificuldades de aprendizagem
há dificuldades de ensinagem
Não há crianças deficientes
há práticas educativas deficientes."

Realmente, sinto que preciso me aperfeiçoar como professor.

Ele, através da experiência da Escola da Ponte, prova a desnecessidade de séries, turmas, horários, sinal, diretores e mostra o absurdo do professor trabalhar sozinho: "a profissão do professor é uma profissão solidária e não solitária."

Senti-me na frente de um legítimo socrático:
"Só é possível ensinar quando estamos a aprender".

Sua pergunta em sala de aula é: que querem aprender? que querem fazer?

Um anarquista?

Uma pessoa se relacionando com outras pessoas com real espírito de fraternidade.
Esse é o sentido da escola.

Sobre o poder ele disse algo muito engraçado:

"Quem sabe faz
quem não sabe ensina
e quem não sabe ensinar vai para a formação de professores
e quem não sabe vai para a formação de formadores.
A incompetência vai subindo na hierarquia."

Quem, como eu, quiser saber mais, procure por onde anda esse professor (que agora está no Brasil), e aqueles que estão trabalhando nesse espírito.

Uma dica de pesquisa: "conspiradores românticos".
Uma dica de livro: "Para Alice, com amor"
paz!

aí vai a foto do professor José Francisco Pacheco.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Menino de rua, com papel e tinta, gosta de pintar

Aí estão algumas obras dos nossos artistas:







Muita alegria.
O violão acima foi a atividade de desenhar o que estava envolta. Havia um músico se apresentando.
Há estrelas, jogos, casa, muitas casas... (não pudemos colocar todas).
Essa árvore também parece querer andar pelas ruas.
O sonho de ter uma moto está representado.
Que o milho se transforme em pipoca na panela da vida.
Há um sol acima das copas das árvores...


Alguém sabe me explicar de onde vem tanta beleza?

Algum comentário?
Se quiser se juntar a Escola da Rua, estamos no Largo do Machado toda quarta-feira, as 17:30.
Paz, Paz, Paz!

ps.: fotos completas no orkut:

http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=3355605867630133167&aid=1274896312

Conselhos para estimular a atividade mental e o raciocínio corretos


1- Leia bons livros e assimile cuidadosamente a mensagem deles.

2- Se você lê durante uma hora, escreva durante duas horas e reflita durante três horas.
Esta é a proporção que deve ser observada para se cultivar o poder do raciocínio.

3- Ocupe a mente com idéias inspiradoras. Não desperdice tempo com pensamentos negativos.

Do livro "Afirmações científicas de cura" do Yogananda.

Realmente ler é importantíssimo.
E a importância de escrever a gente só descobre com o tempo. Nas minhas experiências com trabalhos escolares, e agora como professor e pesquisador, percebo como escrever me ajuda a desenvolver as idéias, a aumentar o meu poder criativo e até mesmo para balizar melhor o próprio pensamento. Pensamento fica solto, a gente acha que sabe, e quando pedem para expressá-lo, aí é que a gente vê que não sabe bem. Estávamos nos iludindo.
Mais aprende quem ensina. Por isso vale a pena escrever e refletir em grupo.

Quanto aos pensamentos negativos, meu professor de Yoga me ensinou a técnica do "cancela". Quando a mente se perder em pensamentos negativos, pare, fique alerta e diga mentalmente: "cancela". Aí ocupe a mente com bons pensamentos, ou ao menos, com a consciência da respiração.

E assim vamos, aprendendo a domar esse macaquinho inquieto que gosta de pular de galho em galho.
Usar a mente para nossa felicidade é um aprendizado.
E um caminho de verdadeira libertação!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Procuro desvendar a Inteligência que me move


Ontem a noite estávamos estudando sobre a vida.
E surgiu-nos uma questão que, para mim, ainda está em aberto.

Adoro questões em aberto.
Tenho um saudável ceticismo diante das respostas prontas para tudo.

Se eu movo o braço, sei que estou movendo, tenho consciência de que sou o agente dessa ação.
Mas e o meu coração que bate, a minha digestão, a alimentação da criança no ventre da mãe...
Quem faz tudo isso?
A natureza? A presença de Deus?
Herança biológica? O meu Espírito, embora eu, preso na carne, não tome consciência?
Procuro desvendar a Inteligência que me move.
Tudo começou quando líamos a questão 140 de O Livro dos Espíritos.

140. O que se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantas são os músculos e presidindo assim a cada uma das funções do corpo?

"Ainda isto depende do sentido que se empreste a palavra alma. Se se entende por alma o fluido vital, essa teoria tem razão de ser, se se entende por alma o Espírito encarnado, é errônea. Já dissemos que o Espírito é indivisível. Ele imprime movimento aos órgãos, servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se divida."

Essa idéia nos deixou perplexos: "Ele imprime movimento aos órgãos".
Seria apenas como o Primeiro Motor aristotélico, ou há em mim um Espírito altamente desenvolvido (e sábio), que nem eu mesmo o conheça?

Os amigos opinaram. Todo tipo de opinião.
Alguns lembraram dos meditadores que conseguem controlar esses movimentos involuntários...

Cheguei em casa e fui continuar a leitura que estava fazendo dos Upanishades, na tradução de Carlos Alberto Tinôco.
E que interessante!!!!
O ponto em que eu parei era exatamente a mesma pergunta:
KENA UPANISHADE
"Discípulo: "Ó guru, quem comanda a mente para que ela se dirija aos seus objetivos? Quem faz o Prana (fluido vital) pulsar com a vida? Quem faz o homem falar? Qual o poder que dirige os olhos e os ouvidos?;

E vamos ver a resposta contida nessa Escritura milenar:
Mestre: "É o Ouvido do ouvido, a Mente da mente, a Fala da fala, A Vida da vida, o Olho do olho. (É o Atman, o Ser Interno). Abandonando a ligação do Ser (com os sentidos), renunciando ao mundo, o homem sábio atinge a Imortalidade."

"Os olhos não podem encontrá-lo, nem a fala, nem tampouco a mente. Nós não entendemos como pode alguém ensinar sobre Ele."

"Ele é diferente de tudo que é conhecido e está acima do desconhecido. Assim nós temos ouvido dos antigos preceptores que falaram para nós sobre Ele."
Em primeiro lugar a humildade intelectual: como alguém pode ensinar sobre Ele?
É um convite, sobretudo, a reverência. Pela vida, pela Inteligência que nos move a todos.

Aqui a ciência é acompanhada de uma atitude.
Não se trata apenas de saber, mas de viver.
Conhecimento pela ação.
E que ação?
A ação de renunciar a ação.
Controle... entrega... duas atitudes opostas. É na renúncia ao mundo, a tudo que é impermanente, que meu Ser Interior encontra-se em Deus, e Deus age por mim, ou melhor, o Deus que há em mim age.
Sim, a identidade de meu Espírito com Deus.
Um caminho de União:
Eu sou Tu, Tu és Eu. Eu e Tu somos um.

Preciso meditar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Menino de rua, mesmo cheirando cola, gosta de livro!


Hoje, tivemos mais uma experiência maravilhosa!
E dolorosa!
Como toda quara-feira, fomos até o Largo do Machado. Levamos suco de maracujá, deliciosos sanduíches de presunto, pipoca e...
... livros.
Quando encontramos as crianças e jovens que vivem nas ruas da região, a cena não nos surpreendeu.
Estavam brigando por causa de 2 reais, e prestes a fazer a divisão fraternal do tiner para cheirar.
No meio daquela confusão que de maneira nenhuma nos ameaça ou nos inclui (somos altamente alienígenas ali) distribuímos lanches que comeram e beberam com voracidade.
E então sacamos da mochila nossa arma mais poderosa:
Um livro de imagens.
Sem texto.
Todos ficaram hipnotizados pelas imagens e pela doce competição para saber quem adivinhava o que aquelas imagens representavam.
Adoraram o livro, e ali começamos a sugerir coisas... o carteiro! Que emprego legal. O cara que mora na rua, já conhece todas as ruas, aí estuda, faz um concurso e vira carteiro. Que dignidade, que dignidade. Palavras... ao vento da esperança de um dia germinar... olhares silenciosos. O que apreenderam dessas sugestões?
Crina do galo, maquete, barco, navio, cruzeiro, Arizona, deserto, índios, África, Austrália, Planeta Terra... quanta palavra que há tempo não ouviam.
Quanta imagem bonita, que desenho maneiro...
Combinamos de semana que vem levar papel, giz de cera, vamos criar!
Esses meninos são nossos alunos.
Não vão a escola. Mas ali está a Escola da Rua.
Temos o dever de levar a eles um mundo.
No meio da viagem deles naquele barato barato, que sai caro, queremos conduzi-los a uma outra viagem: do saber, do mundo, do sonho!
Tivemos então a nossa experiência de oração, pedida por um deles, que todos apoiaram e se uniram de mãos dadas. Nunca o Pai Nosso é tão cheio de paz, de energia, de silêncio na alma, como o Pai Nosso que recitamos com eles na rua.
Ah, essas crianças tem algo mais.
Escondem grandes homens.
Eu creio nelas.
Depois trocamos abraços cheios de carinho e afeto.
Os olhos já denotavam saudade.
Pena que acabou.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A humildade intelectual do verdadeiro professor

Está no Alcorão:

"Deus vos criou e, depois, vos fará morrer. E alguns de vós chegarão ao extremo abjeto da idade quando nada mais saberão do que sabem. Deus é conhecedor e poderoso." (16, 70)

Ao ler isso fiquei pensando em como poderemos envelhecer e ter problemas de memória e esquecer tudo o que levamos anos para aprender.
Esse pensamento sugere uma grande humildade com relação ao conhecimento.

Tudo posso perder.
Lembro-me de alguns professores arrogantes que tratam mal as pessoas porque se julgam melhores que elas pelo simples fato de achar que sabem mais.
São como os tiranos que, desequilibrados em si mesmos, mandam em todos os seus bajuladores, iludidos e temerosos de seu sumo poder e sumo saber.
Quanta ilusão!
Não veem que os castelos tornam-se ruínas?

Fico impressionado ao constatar como a sabedoria da humildade está presente em todas as grandes filosofias e religiões.
Lembro de Sócrates: Sei que nada sei.
Lembro de Jesus: Bem aventurados os pobres de espírito. Graças te dou Pai por ter revelado essas coisas ao pequeninos e as ocultado dos sábios e doutos.

Quantos "sábios e doutos" conheci...
Quanta arrogância desfila na academia, nas escolas, nas salas de aula...

Ora, não sabem que a humildade intelectual é a base do saber?
Deus, sim, é conhecedor e poderoso, diz o Alcorão. Nós, humanos, caminhamos para Deus, para o saber, numa constante transcendência de nós mesmos.
O saber, como o amor, é busca.
Quem está satisfeito, não tem o que buscar.
Quem sabe que não sabe, vai em frente.

Que meus alunos me vejam sempre como um companheiro nessa jornada rumo ao saber.
Uma jornada de transcendência.