terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Dar comida a quem tem fome


Mais uma vez fui parado na rua.
O homem me disse:
- Parabéns pala sua atitude de dar comida aos pobres. É um gesto bonito. Mas é por pessoas como você que a rua está cheia de vagabundos.
Não é a primeira vez que ouço isso. Não será a útima.
Pensei em coisas a dizer. Aí resolvi fazer uma lista de possíveis respostas.

1) - O meu café deve ser muito bom para fazer as pessoas abandonarem suas casas, famílias, camas confortáveis para virem morar na rua só para tomar o meu café. Porque ninguém vai para a rua porque tem gente dando comida. As pessoas vão para a rua porque sua vida chegou a algum limite, seja um acidente, um desemprego súbito, uma briga familiar. E para sair da rua é preciso de algum apoio. Meu trabalho é dar esse apoio amigo.

2) - Quem vive pedindo (e se recusa a trabalhar mesmo que surja um serviço) é um sofredor, está numa espécie de depressão, sem vontade de viver. Mesmo que eu pare de dar comida ele vai conseguir de outras formas. Eu posso aproveitar e criar um laço de afeto e incentivá-lo a renascer para a vida, para a vontade de viver, ajudando a despertar o guerreiro adormecido.

3) - Um dia um Homem me falou que estava com muita fome e que ia roubar, mas deixou de roubar porque lembrou do nosso café e do clima de paz que viviamos nas nossas manhãs. Aí milagrosamente uma senhora apareceu e deu a Ele um café.

4) - Eu não dou comida aos pobres, eu dou comida a Jesus.
[Assim aprendi com a Madre Teresa].

5) - A globalização, a grande cidade, a cultura do veloz, da técnica, o dinheiro, a TV nos tornam cada vez mais insensíveis ante a dor do outro. Se eu não estabeleço contato com o marginalizado do sistema vou entrar numa espécie de ilusão. Eu preciso dele, não ele de mim. Eu não dou comida, eu mendigo um pouco do sentido de ser humano. O pouco que me resta.

6) - Hoje eu ajudo. Um dia eu posso precisar de ajuda.

7) - Um dia pode ser você.
*
E toda vez que volto pra casa faço o teste: se estou com a consciência tranquila por ter feito a minha parte é porque estou num falso espírito de solidariedade, mas se volto com o coração doído por ter feito pouco, por sentir que aquelas pessoas merecem mais e que há muito mais gente a ser ajudada, aí sim, estou no espírito de verdadeiro amor.