terça-feira, 17 de setembro de 2013

Viver o presente: sabedoria hindu e... indígena!


Fico cada vez mais impressionado com a proximidade das concepções indígenas de vida e as que se desenvolveram ao longo dos milênios na Índia. Cá com minhas fantasias fico imaginando onde a cultura indígena chegaria não fossem os invasores europeus. E a comparação me dá clareza para entender a Índia, com sua ancestralidade milenar e riquíssima diversidade.
Estou lendo Mundurukando, um livro de Daniel Munduruku, autor de diversos livros expressando como educador a sabedoria de vida de sua cultura. Há muito a aprender.
Especialmente a viver o momento presente sem a mente racional controladora. Ele diz:

“A gente não filosofa a respeito da vida. Nossos avós nos lembram sempre que a vida é para viver, e não para filosofar. Quando você filosofa, você sofre, pois tenta amarrar o tempo. Você tenta amarrar o seu futuro a seu presente, o que é um grande equívoco para o pensamento indígena. Não atuamos dessa maneira, não temos intelectuais – no sentido acadêmico – que ficam imaginando se a vida pode ser melhor se fizermos isso ou aquilo. A gente simplesmente vive.” p. 28

O educador também desmente a ilusão de que índio vive em harmonia porque está próximo da natureza. Não, diz ele, há que se lidar com o sofrimento também. E para isso, desenvolveram uma sabedoria própria, que novamente tem a tônica na busca pela vida no momento presente, no aqui e agora:

“Desde criança aprendemos a conviver com o sofrimento. E, apesar de não ser um sofrimento ansiado ou procurado, somos obrigados a aprender a lidar com ele com uma forma de afugentar uma vida triste, composta de choro e depressão. E sabemos que, vivendo o presente, permitimo-nos viver os momentos sem nos preocupar com o que vem depois, o que não deixa de ser uma atitude instintiva de grande sabedoria.” p. 29

E aqui, as analogias com a sabedoria hindu são impressionantes, pois ao lado da busca pela vida espontânea, sem a racionalização que procura tematizar passado e futuro, surge o ideal da possibilidade de atingir o máximo da experiência de vida, que é o silêncio, que é a única maneira de estar por inteiro nas situações, integrando corpo e mente:

“(...) o nosso silêncio não é o silêncio de boca. Um silêncio em que a boca está apenas fechada é um silêncio que as pessoas até fazem aqui na cidade. O silêncio difícil é o do pensamento, quando a gente não permite que o pensamento crie asas e vá para lugares em que o nosso corpo não está. O difícil na cidade, e o difícil para nós também, na aldeia, é estar inteiro em algum lugar, ouvindo pessoas ou passeando com os filhos, enfim, estar ali, presente.” p. 35

E ao falar da importância da oralidade, relaciona essa tradição de memorizar as histórias com a necessidade de um povo nômade de não acumular bens, inclusive livros nas estantes. Isso expressa um valor fundamental, que também conecta as civilizações: o ideal do desapego.

“Um povo nômade sabe que é um povo que está de passagem, está andando por este planeta. Não por estar mudando de lugar, mas porque, dentro de si, ele também está de passagem, assim como todas as pessoas (...) Estamos vivendo aqui, agora, e temos de viver com intensidade, mas sabendo sempre que somos apenas passageiros. E passageiros não podem acumular coisas.” p. 33-4

Viva o presente, seja inteiro e intenso em cada situação, elimine o pensamento e desapegue-se. Sim, há muito que aprender. Um aprendizado prático que pode enriquecer nossas vidas e revolucionar nossa forma de viver em sociedade.


Bom trabalho a cada um!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Yoga, Política ou Amor? - Tempo e Eternidade na mitologia Hindu


Um dos dilemas que surgem entre os buscadores está o de tornar-se um iogue e se isolar na floresta ou participar do mundo com um nível de consciência mais elevado. No livro de Joseph Campbell, onde ele é entrevistado por Bill Moyers, "O poder do mito", o mais importante mitólogo de nosso tempo, nos lembra de um antigo mito hindu presente nos Upanishades, acerca do deus Indra, que nos dá uma interessante visão a esse respeito. É uma bela história!

"Aconteceu, numa certa época que um monstro gigantesco engoliu toda a água da terra, de modo que houve uma terrível seca e o mundo se viu em péssimas condições. Indra levou algum tempo até se dar conta de que possuía uma caixa repleta de raios e tudo o que tinha de fazer era lançar um deles sobre o monstro, fazendo-o explodir. Quando ele fez isso, as águas jorraram e o mundo se refrescou. E Indra disse: "Que sujeito formidável eu sou!"       
    Assim, pensando no sujeito formidável que era, Indra se dirige à montanha cósmica, que é a montanha do centro do mundo, e decide construir um palácio à altura do seu valor. O melhor carpinteiro dos deuses põe-se a trabalhar e rapidamente o palácio está erguido e em excelentes condições. Mas cada vez que vai inspecioná-lo, Indra tem idéias mais ambiciosas a respeito de quão esplêndido e grandioso o palácio deveria ser. Por fim o carpinteiro exclama: "Meu Deus, ambos somos imortais, e não há limites para os desejos dele. Estou preso por toda a eternidade!". Então decide dirigir-se a Brahma, o deus criador, para reclamar.
    Brahma está sentado num lótus, o símbolo da divina energia e da divina graça. O lótus cresce no umbigo de Vishnu, o deus adormecido, cujo sonho é o universo. Assim, o carpinteiro se aproxima da borda da grande lagoa de lótus do universo e conta sua história a Brahma. Brahma diz: "Pode ir para casa, eu darei um jeito nisso". Brahma deixa seu lótus e se ajoelha para se dirigir ao adormecido Vishnu. Vishnu apenas esboça um gesto e diz qualquer coisa como: "Ouça, fuja, alguma coisa vai acontecer".                
     Na manhã seguinte, no portal do palácio que estava sendo construído, aparece um belo garoto negro-azulado, com um bando de crianças ao seu redor, admirando o esplendor da construção. O porteiro, que estava na entrada do novo palácio, corre até o Indra e este diz: "Bem, mande entrar o garoto". O garoto é levado até o Indra, e o deus-rei, sentado em seu trono, diz: "Seja bem-vindo, jovem. O que o traz ao meu palácio?"
    "Bem", diz o garoto com uma voz que soa como um trovão rolando no horizonte, "ouvi dizer que você está construindo um palácio como nenhum Indra antes de você jamais construiu". 
    E Indra diz: "Indras antes de mim... de que você está falando?"
    O garoto diz: "Indras antes de você. Eu os tenho visto vir e desaparecer. Pense nisto, Vishnu dorme no oceano cósmico, e o lótus do universo cresce em seu umbigo. No lótus se assenta Brahma, o criador. Brahma abre os olhos e um mundo se cria, governado por um Indra. Brahma fecha os olhos e um mundo desaparece. A vida de um Brahma conta quatrocentos e trinta e dois mil anos. Quando ele morre, o lótus se desfaz e outro lótus se forma, e outro Brahma. Agora pense nas galáxias para além das galáxias, no espaço infinito, cada qual com um lótus, com um Brahma sentado nele abrindo e fechando os olhos. E Indras? Deve haver homens avisados em sua corte que se prestariam a contar as gotas de água dos oceanos ou os grãos de areia nas praias, mas nenhum contaria aqueles Brahmas, muito menos aqueles Indras".
     Enquanto o garoto fala, um exército de formigas desfila pelo chão. O garoto ri, ao vê-las; os cabelos de Indra ficam arrepiads, e ele pergunta ao garoto:    "Por que você ri?"
    O garoto responde: "Não pergunte, a menos que você queira ficar magoado".
    Indra diz: "Eu pergunto, ensina-me". (Esta é, aliás, uma bela idéia oriental: não ensine, até ser instado a isso. Você não pode impor seu conhecimento goela abaixo das pessoas.)
    Então o garoto aponta para as formigas e diz: "Todas antigos Indras. Através de muitas vidas, eles se elevam das mais baixas condições à mais alta iluminação. Aí eles lançam um raio sobre um monstro e pensam: 'Que sujeito formidável eu sou!' E voltam a despencar."    
    Enquanto o garoto fala um velho iogue extravagante adentra o palácio, com uma folha de bananeira servindo como pára-sol. Ele veste apenas uma tanga, e tem no peito um chumaço de cabelos formando um disco, no centro do qual metade dos pelos foram arrancados.
    O garoto o saúda e pergunta-lhe exatamente o que o Indra ia perguntar: "Bom velho, qual é o seu nome? De onde você vem? Onde está sua família? Onde está sua casa? E qual o significado dessa curiosa constelação de cabelos em seu peito?"
    "Bem", disse o velho, "meu nome é Cabeludo. Eu não tenho casa, a vida é muito curta para isso. Só tenho este pára-sol. Não tenho família. Apenas medito nos pés de Vishnu e penso na eternidade, e em quão fugaz é o tempo. Você sabe, toda vez que morre um Indra um mundo desaparece - coisas assim somem como uma faísca. Cada vez que morre um Indra cai um fio de cabelo desse círculo em meu peito. Até agora, metade dos cabelos já se foram. Muito breve, todos terão ido. A vida é curta. Por que construir uma casa?"
    Então os dois desapareceram. O garoto era Vishnu, o Senhor Protetor, e o velho iogue era Shiva, o criador e destruidor do mundo, que tinha vindo exatamente para a instrução de Indra, que é simplesmente um deus da história que pensa que é o espetáculo todo.
    Indra continua sentado no trono, completamente desiludido, completamente abatido. Aí chama o carpinteiro e diz: "Estou suspendendo a construção do palácio. Você está dispensado". Assim o carpinteiro conseguiu seu intento. É dispensado do trabalho e não há mais nenhuma casa a construir.
Indra decide se tornar um iogue, para apenas meditar aos pés do lótus de Vishnu. Mas ele tem uma bela rainha chamada Indrani. E quando Indrani ouve falar no plano de Indra, dirige-se ao sacerdote dos deuses e diz: "Agora ele pôs na cabeça essa idéia de largar tudo para se tornar um iogue".
    "Bem", diz o sacerdote, "Venha comigo minha senhora e eu darei um jeito nisso".  
   Então eles se sentam diante do trono do rei e o sacerdote diz: "Pois bem, eu escrevi um livro para você muitos anos atrás sobre a arte da política.Você ocupa a posição de rei dos deuses. Você é a manifestação do mistério de Brahma na esfera do tempo. Isso é um alto privilégio. Saiba apreciá-lo, honrá-lo e lide com a vida como se você fosse quem realmente é. Além disso, vou agora escrever um livro sobre a arte do amor, assim você e sua esposa saberão que, no maravilhoso mistério dos dois que são um, Brahma também está radiantemente presente".
    E com estas instruções Indra desiste da idéia de largar tudo para se tornar um iogue, e descobre que, na vida, ele pode representar o eterno como símbolo, pode-se dizer de Brahma.
 

    Assim, cada um de nós é, de certo modo, o Indra de sua própria vida. Você pode escolher, ou se livrar de tudo e se isolar na floresta para meditar, ou permancer no mundo, tanto na vida de sua tarefa, que é a régia tarefa da política e da realização, quanto na vida do amor por sua mulher e família. Bem, esse é um mito muito atraente, assim me parece..."

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O que é coragem?


"Coragem significa enfrentar o desconhecido apesar de todos os medos. Coragem não significa ausência de medo. A ausência de medo acontece se você passa a ser cada vez mais corajoso. Essa é a experiência máxima da coragem - a ausência de medo: é esse o sabor quando a coragem tornou-se absoluta. Mas, de inicio não há muita diferença entre o covarde e o corajoso. A única diferença é que o covarde dá ouvidos aos seus medos e os segue, enquanto o corajoso os põe de lado e segue em frente. O corajoso enfrenta o desconhecido apesar de todos os medos. Ele conhece os medos, eles estão ali.
Quando você explora mares desconhecidos, como Colombo fez, o medo existe, um medo imenso, porque ninguém sabe o que vai acontecer. Você está deixando a praia da segurança. Você está perfeitamente bem, em certo sentido; só uma coisa está faltando - aventura. Enfrentar o desconhecido dá a você certa excitação. O coração começa a pulsar novamente; volta a se sentir vivo, totalmente vivo. Cada fibra do seu ser está vibrando porque você aceitou o desafio do desconhecido.
Aceitar o desafio do desconhecido, apesar de todo o medo, é coragem. Os medos estão ali, mas se você aceita o desafio várias vezes seguidas, devagarinho os medos desaparecem. A experiência de alegria que o desconhecido traz, o grande êxtase que começa a acontecer com o desconhecido, torna você forte o bastante, lhe dá uma certa integridade, aguça sua inteligência. Pela primeira vez você começa a sentir que a vida não é só um tédio, mas uma aventura. Então devagar os medos desaparecem; e aí você não pára mais  de ir atrás de uma aventura."
Osho, em "Coragem - o prazer de viver perigosamente"

Caminho da meditação

Passos by Milena do Vale Madeira
Passos, a photo by Milena do Vale Madeira on Flickr.

"Para um homem, tornar-se um meditador é a maior responsabilidade que há no mundo. Não é fácil. Não pode ser instantâneo. Portanto, desde o início, nunca tenha expectativa demais, assim, você nunca ficará frustrado. estará sempre feliz, pois as coisas crescerão lentamente.
A meditação não é uma flor de estação, a qual aparece em seis semanas. É uma imensa árvore. Precisa de tempo para espalhar suas raízes."
Osho

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Procurando o amor da sua vida?

Você que espera o amor de sua vida. Você que procura o amor de sua vida. Sim, tenho um conselho pra você, um caminho a indicar: procure amar a si mesmo. Procure desenvolver amor por si mesmo, aceitar a natureza que tem dentro de você, caminhar na busca de ser autêntico, natural, e amar mais a vida e a si mesmo, ter mais prazer e alegria de viver. Se você não sabe como fazer isso, posso dar uma dica: você precisa quebrar seu códigos velhos, seus antigos padrões que insistem em te diminuir, em te proibir, te culpar, te colocar contra a vida. Voltemos às origens da vida, o nome já diz, a origem da vida é originalidade! Você precisa ser original. Então se você está reproduzindo padrões, tem algo forçado, tem algo te forçando a ser o que você não é. Amar a si mesmo é tirar as máscaras. Aí sim, o amor começa a acontecer e aquele que você espera e procura poderá ser encontrado. E enquanto seu amor não aparecer você poderá ter a surpresa de se descobrir mais pleno e feliz. Mas, nunca, nunca, nunca, finja ser alguém para conquistar alguém. Aí está o começo do erro, o princípio das relações doentias que perpetuam a infelicidade na sociedade humana. Amar é mais importante do que conquistar. E ninguém pode se forçar a amar. O amor precisa acontecer. Então seu único movimento natural é: ser você. Muita paz!