terça-feira, 25 de outubro de 2011

Agradecimento aos professores


Aqui vai o texto de Diego, lido ao final da palestra de Dora Incontri, sobre Educação e Espiritualidade, no encerramento de nossa semana científica no IEAR, UFF, Angra dos Reis.

A beleza está na gratidão, ou seja, ver as qualidades de todos.


Agradeço primeiramente à Dora Incontri, porque graças a seus livros e suas ideias que optei mudar de profissão, a ariscar em meus sonhos, de um dia me tornar um filósofo da educação. E não por acaso estou aqui no IEAR para me tornar um ótimo Pedagogo. (Obs.: Agradeça ao Alessandro Bigheto por suas contribuições e por sua forma apaixonante de falar da filosofia. Porque o melhor fertilizante para uma pequena árvore sonhadora são as lagrimas embalsamadas de paixão.)

Agora em ordem de chamada vou agradecer aos meus professores:

Anderson Tibau, agradeço a você, professor, por aquela pergunta respondida de mestre e discípulo onde pude conhecer você mais profundamente e onde você me provocou ainda mais profundamente. Obrigado!

Andréia Pavão, agradeço a você, professora, por sua seriedade em dizer o que precisa melhorar, em me dar chances de escrever e rescrever várias vezes até aprimorar minha escrita, por ter todo esse cuidado e atenção comigo. Obrigado!

André Dias, agradeço a você, professor, por sua alta sensibilidade ética, por nos respeitar a tal ponto de ser julgado como arrogante, e suportar esse fardo, cada dia mais enxergo a sua paixão e aprendo a apaixonar-me, buscando tornar-me um bom intelectual como nossas conversas de aula. Obrigado!

André Pereira, agradeço a você, professor e 1o Pai acadêmico, por ser além de mestre um fecundo amigo em quem posso confiar, em quem posso encher o saco e ficar perguntado até você não mais aguentar. Agradeço por sua fecunda espiritualidade e amor, que ajuda-me a tornar-me cada vez mais humano. Obrigado!

Augusto, agradeço a você, professor, pelo seu jeito “Exu” de ser, brincalhão e descontraído, sensível e responsável. Obrigado pelo seu comprometimento, por sua persistência e dedicação. Sinto muito não ter “memória corporal” para dançar nas suas aulas, mas foi nelas que eu comecei a desenvolve-la, valeu pela oportunidade. Obrigado!

Cida, agradeço a você, professora, por ser uma das mais meigas professoras desse instituto, por ser tão sensível e ao mesmo tempo tão crítica a esse mundo que vivemos, obrigada por ser tão carinhosa e dedicada conosco, para quem optou por não estar com você nesse período, sinto muito. Obrigado!

Cláudio, agradeço a você, professor, por ensinar essa temporalidade da análise, do estudo, das descontrações, da crítica. Valeu por não ter pressa, valeu por sempre nos apoiar enquanto estudante e de sempre nos incentivar na luta por mudanças. Obrigado!

Dagmar, agradeço a você, professora, por me potencializar, por algum motivo ter escolhido o dispositivo cognitivo que me tocasse, provocando-me ao molecular e não ao molar. Por me fazer refletir e olhar com outros olhares. Obrigado!

Domingos, agradeço a você, professor, por ser quem mais me esclareceu “o que é ser o Pedagogo”, por sua incrível simplicidade, por admirar profundamente sua humildade intelectual, por sua capacidade extrema de sintetizar e sistematizar as ideias, valeu professor, só precisa de maior paciência de Guarani professor, valeu por esse compromisso com o Outro, com a outras culturas. Obrigado!

Elionaldo, agradeço a você, professor, por sua organização e acompanhamento, por todo seu incentivo constante a estarmos engajados politicamente, por se esforçar em de nos possibilitar todos caminhos possíveis. Obrigado!

Francine, agradeço a você, professora, por seu engajamento nesse evento e em outros, por sua insistência, por sua obstinação e esforço, por ser tão “positivista”, brincadeira. Por ser tão comprometida com a ciência, com o conhecimento e com o humano. Obrigado!

Luciana, agradeço a você, professora, por seu jeito muito animado de dar aula, por discutir assuntos delicados de forma tão lúdica e legal, valeu pela música e pela atenção. Obrigado!

Marcos Marques, agradeço a você, professor e 2o Pai acadêmico, por seu “bom-senso”, por sua incrível capacidade pluralista, por sua incrível capacidade de nos fazer refletir e refletir conosco essa própria capacidade, como você gosta de dizer “vícios e virtudes”, seu vício é ser botafoguense. Mesmo assim, Obrigado!

Onete, agradeço a você, professora, por seu cuidado com a História, por desconstruir todas aquelas concepções fechadas. Por nos fazer refletir nosso próprio país e suas concepções educacionais. Obrigado!

Rodrigo Torquato, agradeço a você, professor, por me fazer acreditar que é possível falar direto com o escritor e não suas mil e umas interpretações, em acreditar que é possível acessar aos clássicos e principalmente pelo seu próprio exemplo de vida. Obrigado!

Rosilda, agradeço a você, professora, por não se esquecer daqueles como eu, que vem de uma cultura onde a história oral e valorizada, por me mostrar fotos dos meninos trabalhadores na história desse Brasil, valeu por essa oportunidade. Obrigado!

Silmara, agradeço a você professora, por sua meiguice e ao mesmo tempo compromisso com qualidade, são ótima todas as nossas conversas, obrigado por me ouvir e dispor de seu tempo em me ajudar e indicar caminhos. Obrigado!

Obrigado a todos vocês que aqui estão, por me ouvir. Desculpas por não falar de todos, mas apenas daqueles que tive contato mais próximo. Agradeço meus companheiros de República, por sua paciência e dedicação em me suportar, obrigado por estarem junto comigo. E para finalizar, obrigado a você Verônica que me ensina o que há de mais importante no mundo “a arte de amar”.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Interpretando mitos do Candomblé


Ogum repudia Oiá por causa de Xangô

Ogum vivia com Oiá.
Um dia seu irmão Xangô foi visitá-lo
e, na casa de Ogum, Xangô deparou com sua bela mulher.
Voltou para casa atormentado pela beleza que vira.
Desejou Oiá ardentemente.
Não desistia da idéia de possuir a mulher do seu irmão.

Xangô voltou à casa de Ogum
dizendo-se doente, nem conseguia se alimentar.
Ogum acudiu-o e pediu-lhe que ensinasse a Oiá
o preparo do seu prato predileto, o amalá,
que sem dúvida saciaria sua fome e o curaria.
Oiá preparou o amalá conforme ensinado.
Antes de comê-lo,
Xangô pediu a Oiá que acrescentasse um pó,
advertindo-a contudo que não provasse da comida.
Xangô comeu com gula e saciou a fome.
A proibição deixou Oiá muito curiosa

No dia seguinte, Oiá fez novamente a comida,
mas desta vez não resistiu e provou dela.
Disse a Xangô não ter sentido nada especial.
Xangô entregou-lhe o pó para acrescentar.
O pó tinha o poder de botar labaredas pela boca.
Oiá pôs o pó no amalá e comeu dele.
Desde então Oiá tem o poder de botar fogo pela boca.
Ogum, ao ver sua mulher cuspindo fogo,
repudiou Oiá e a entregou a Xangô.
Xangô cinicamente recusou a oferta.
Ogum insistiu para que levasse Oiá dali.
Xangô tinha enganado Ogum.
Xangô levou Oiá para casa,
feliz com sua vitória.

[do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi]

Começando umas interpretações:

1- Interessante a relação entre doença e as nossas tramas escondidas. Ou seja, quando ficamos doentes é porque queremos algo, mas as vezes não temos nem consciência disso.
2- Escutar os desejos profundos na hora da doença.
3- Curiosidade... transgressão... ultrapassar de limites.

Vamos pensando...

Freud explica: Oxóssi mata a própria mãe


Continuando o nosso diálogo entre o Candomblé e o autoconhecimento vale aqui observar que, a semelhança com as discussões da atual psicanálise, podemos pensar o nosso processo de maturidade em conexão com nosso processo de autonomia frente aos pais, simbolicamente expresso na morte destes. Sabemos como Freud se inspirava na mitologia grega, e aqui um exemplo similar pode ser explorado na mitologia iorubá.

Nessa história, Orunmilá (Orixá do oráculo) fora encarregado por Olodumare (o Supremo Criador dos Orixás) a trazer uma codorna, em tempos de escassez. Parte então em busca de um caçador, Oxóssi.
Vejamos esse trecho:

"Orunmilá apresentou-se e disse da sua vontade de falar com aquele caçador.
Todos se curvaram perante sua autoridade e trataram de trazer Oxóssi à sua presença.
O velho adivinho dirigiu-se a Oxóssi e disse que Olodumare o havia encarregado de conseguir uma codorna.
Seria esta, agora, a missão de Oxóssi.
Oxóssi ficou lisonjeado com a honrosa tarefa e prometeu trazer a caça na manhã seguinte.
Assim ficou combinado.

Na manhã seguinte, Orunmilá se dirigiu à casa de Oxóssi.
Para sua surpresa, o caçador apareceu na porta irado e assustado, dizendo que lhe haviam roubado a caça.
Oxóssi, desorientado, perguntou à sua mãe sobre a codorna, e ela respondeu com ares de desprezo, dizendo que não estava interessada naquilo.
Orunmilá exigiu que Oxóssi lhe trouxesse outra codorna, senão não receberia o Axé de Olodumare.
Oxóssi caçou outra codorna, guardando-a no embornal.
Procurou Orunmilá e ambos dirigiram-se ao palácio de Olodumare no Orum.
Entregaram a codorna ao Senhor do Mundo.
De soslaio Olodumare olhou para Oxóssi e, estendendo seu braço direito, fez dele o rei dos caçadores.
Agradecido a Olodumare a agarrado a seu arco, Oxóssi disparou uma flecha ao azar e disse que aquela deveria ser cravada no oração de quem havia roubado a primeira codorna.
Oxóssi desceu à Terra.
Ao chegar em casa encontrou a mãe morta com uma flecha cravada no peito.
Desesperado, pôs-se a gritar e por um bom tempo ficou de joelhos inconformado com seu ato.
Negou, dali em diante, o título que recebera de Olodumare."

[do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]

Iniciando algumas interpretações:
1- Expressa a eterna tendência dos pais sabotarem os planos de autonomia dos seus filhos.
2- Para crescer, o filho precisar romper simbolicamente com os pais, ou seja, com o lugar que os pais insistem em que os filhos fiquem.
3- Para ganhar reconhecimento diante de Deus é preciso seguir seu próprio caminho, sua busca por si mesmo, sua autonomia frente aos pais, tornar-se pessoa, ensimesmar-se.
4- O mito, no entanto, aponta para o fim trágico a que esse processo pode nos levar quando exageramos nessa autonomia, a ponto de não reconhecermos a influencia dos pais em nós, negando também o sentimento de gratidão expresso no "honrar pai e mãe".

Liberdade sim, mas sem orgulho.
A verdadeira liberdade é servir a Deus.
Percebo muito isso lendo esses mitos do Candomblé, e vendo como os Orixás inspiram-nos temor e reverência.
A natureza é muito poderosa.
A Divindade é muito poderosa.
A Humanidade precisa integrar-se e não dominar.
Se baixarmos a crista, teremos esperança!

paz!

Exu e o autoconhecimento


Lendo os mitos que compõem a tradição do Candomblé, percebemos como são ricos e como expressam nossos sentimentos, desejos, nossas características bem humanas. Falam daquilo que temos escondido. Por essa razão, conhecê-los é um excelente meio de trilharmos o conhecimento de nós mesmos.
Eis aqui um exemplo, uma história que fala sobre Exu, vejamos como fala de nós mesmos e como nos orienta em nosso caminho espiritual.

"Exu era o filho caçula de Iemanjá e Orunmilá,
irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi.
Exu comia de tudo
e sua fome era incontrolável.
Comeu todos os animais da aldeia em que vivia.
Comeu os de quatro pés e comeu os de pena.
Comeu os cereais, as frutas, os inhames, as pimentas.
Bebeu toda a cerveja, toda a aguardente, todo o vinho.
Ingeriu todo o azeite-de-dendê e todos os obis.
Quanto mais comia, mais fome Exu sentia.
Primeiro comeu tudo de que mais gostava,
depois começou a devorar as árvores,
os pastos, e já ameaçava engolir o mar.
Furioso, Orunmilá compreendeu que Exu não pararia
e acabaria por comer até mesmo o Céu.
Orunmilá pediu a Ogum
que detivesse o irmão a todo custo.
Para preservar a Terra e os seres humanos e os próprios orixás,
Ogum teve que matar o próprio irmão.

A morte, entretanto, não aplacou a fome de Exu.
Mesmo depois de morto
podia-se sentir sua presença devoradora,
sua fome sem tamanho.
Os pastos, os mares, os poucos animais que restavam,
todas as colheitas, até os peixes iam sendo consumidos.
Os homens não tinham mais o que comer
e todos os habitantes da aldeia adoeceram
e de fome, um a um, foram morrendo.
Um sacerdote da aldeia consultou o oráculo de Ifá
e alertou Orunmilá quanto ao maior dos riscos:
Exu, mesmo em espírito, estava pedindo sua atenção.
Era preciso aplacar a fome de Exu.
Exu queria comer.
Orunmilá obedeceu ao oráculo e ordenou:
"Doravante, para que Exu não provoque mais catástrofes,
sempre que fizerem oferendas aos orixás
deverão em primeiro lugar servir comida a ele".
Para haver paz e tranquilidade entre os homens,
é preciso dar de comer a Exu,
em primeiro lugar.

(Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi).

Começando algumas interpretações:
1- Exu fala da nossa fome insaciável, fala de nossos desejos sem fim. Em nossa tentativa de esconder esses desejos seremos sempre mal-sucedidos pois ele sempre pedirá atenção.
2- Se não reconheço meus desejos (minhas tendências), por mais que tente buscar grandes realizações, não conseguirei evitar a catástrofe.
3- Em nosso contato com a Divindade é preciso antes de tudo olhar e atender as cobranças do eu interior mais profundo. Isso me lembra a frase do Sermão da Montanha, em Mt 5: "Se estiveres, no entanto, para trazer a tua oferenda sobre o altar e lá te lembras que um irmão teu tem algo contra ti, deixa lá a oferenda, diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, e então, vindo, faz a tua oferta."
4- Qual a relação entre a fome de Exu e a fome no mundo? Será que para resolvermos o problema da fome mundial, temos que olhar para a estrutura de desejos que o capitalismo produz?

paz!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O professor está sempre errado

A pedido dos alunos, eis um texto do Jô Soares.

O material escolar mais barato que existe na praça é o
PROFESSOR!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.

É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,
agradeça a ele!