segunda-feira, 19 de abril de 2010

Bota na Internet pra ver se pára essa covardia.



- Irmão André, irmão André, preciso falar com o senhor.
O homem vinha alterado e já achei que vinha me pedir uma passagem de ônibus ou algo do gênero.
- Irmão você precisa botar lá na Internet o que estão fazendo com a gente.
- Você quer que eu divulgue. O que aconteceu?
- Foi hoje irmão. Me acordaram as três da manhã, na rua A... em Botafogo.
- Quem te acordou?
- O choque de ordem. Aí me recolheram e me levaram pro abrigo na Ilha do Governador.
- E como te recolheram? Te convidaram pra ir?
Ele me olhou rindo com aquele olhar magoado de quem sabe que não sou ingênuo.
- Que convidaram!! Me acordaram dando pontapé, jogaram minhas coisas no lixo, depois me empurraram pra dentro do ônibus gritando: entra aí! Eles fazem assim: jogam nossas coisas no lixo, vai documento e tudo e gritam: perdeu! perdeu!
- E aí você foi pra Ilha... - indaguei querendo ter logo uma visão do todo do ocorrido.
- Aí me largaram no abrigo lá da Ilha do Governador.
- E aí?
- Aí fiquei duas horas sentado no chão, depois veio um homem dizendo que não tinha vaga e me mandou embora.
- E o que eu posso fazer por você?
- Bota na Internet pra ver se pára essa covardia com a gente.

Todos semana ouço histórias assim de meus companheiros na Escola da Rua.
Assistimos a uma violência estatal e pouco fazemos para evitar tudo isso.
Meus irmãos que tem cama parecem ter perdido a capacidade de sentir. Apesar de sorrirem para mim e dizerem que me apóiam.
A racionalidade dessa política me parece sem Razão. Além de desumana e brutal, leva a resultados contrários das metas estabelecidas: mais gente na rua, sem lenço, sem documento.
Quem pode apoiar essa política?






domingo, 18 de abril de 2010

Professor e aluno - lição espiritual de Gandhi

Esse texto do Gandhi é muito importante para mim. Como educador, percebi a importância da coerência ética de minha própria vida. Perecebo que minha oratória fica vazia quando o que eu falo não é acompanhado de atitudes. Mesmo que ninguém saiba... eu sei. Então percebi que para ensinar era preciso um compromisso maior com a vida.
Outro momento importante que vivi foi quando, ainda na minha primeira turma, nas primeiras aulas, li o evangelho de Mateus e ali encontrei: "qualquer, pois que violar um destes mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos Céus; aquele porém que os cumprir e ensinar será grande no Reino dos Céus" (Mt 5, 19). Lendo isso tive um insight poderoso acompanhado de um estremecimento interno: ensinar é coisa seríssima. Não me afastei, até hoje, dessa impressão profunda que a fala de Jesus me proporcionou. E no contato com os meus alunos, sempre trago essa verdade comigo.

Aí vai o texto do Gandhi:

"É possível que um instrutor, a quilômetros de distância, influencie por seu modo de vida o espírito dos alunos. Para mim, seria inútil ensinar os meninos a dizer a verdade se eu fosse um mentiroso. Um professor covarde jamais conseguirá tornar valentes os seus discípulos, e um desconhecedor do autocontrole não passará para seus alunos o valor da autodisciplina. Vi, portanto, que precisaria ser um eterno objeto-lição para os meninos e meninas que viviam comigo. Dessa forma eles se tornaram meus professores, e assim aprendi que preciso ser bom e viver com retidão - se não por mim, pelo menos por eles. Posso dizer que a disciplina e o autocontrole, cada vez maiores, que me impus na Fazenda Tolstoi eram devidos principalmente a esses meus guardiães."
Mohandas K. Gandhi, Autobiografia, p. 294