quinta-feira, 8 de julho de 2010

Arte e Poesia da Rua

Hoje no Centro Espírita na Rua mais uma daquelas histórias:

- irmão, tô com um problemão!
- o que houve? - perguntei ao senhor trêmulo.
- travei meu cartão. ia sacar um dinheiro, mas o cartão bloqueou. meu dia ontem foi horrível.
Mostrou-me o cartão. Banco Real.
- é que tem que pôr a senha e mais três números e esqueci os tais três números.
- puxa irmão, que chato. Mas não fique assim, tudo se acerta.
E quando pensei que a história tinha se acabado, o irmão precisava desabafar:
- tudo começou com o choque de ordem.
Não acreditei. Até em coisas simples, o fantasma do choque de ordem atinge as pessoas em fragilidade social.
- fui acordado no meio da madrugada na Presidente Vargas. Levaram-me a força até Campo Grande. Chegando no abrigo, disseram: "não tem vaga, quem quiser pega o trem de volta". Tive que sair dali. Entrei por um beco. Tráfico de drogas. Sorte que era o pessoal do Comando Vermelho, que não faz maldade de graça. Depois segui o caminho que levava ao trilho do trem, um buraco que dá pra entrar de graça. Aí voltei.
- mas o que isso tem a ver com o bloqueio do cartão?
- ah irmão, fiquei tão transtornado que na hora acabei esquecendo.

Estou farto desse horror político. Um terrorismo físico e psicológico atingindo as pessoas que já estão abaladas. Isso é crueldade! O senhor que me contou sua história tinha idade para ser meu pai.

Fiquei ali, olhando a minha raiva até que me acalmasse e lembrasse que a nossa luta por um mundo melhor é por meios pacíficos e se alimenta da nobreza de nossas atitudes. Caminhei em busca de tornar digna a minha indignação. Desesperar não leva a um lugar bom. Vamos intensificar a nossa ação solidária até que os homens vejam e voltem a ser homens.

Então fizemos um trabalho de arte: pintura com giz de cera nas paredes de madeira da obra. Muito lindo! Desenhos de paz, de amor, da cidade do Rio, protestos honestos. Arte é a loucura santa! Viva o profeta Gentileza.

Um dos irmãos, José Carlos, escreveu o seguinte poema:

O GOSTO DOS DESGOSTOS
DESTA MESA DESUMANA
O COPO MUNDO RASO
DESTES DIAS SEM BOM-DIAS
MEDEM PENEIRADOS FARELOS
PRANTOS CACOS
DO POVO REPRIMIDO NA
AVENIDA RIO

E assim, sua poesia lavou minha alma.

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