quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Os milagres não planejados


Ontem voltando de viagem, chego na rodoviária Novo Rio, uma e meia da madrugada, e sinto aquele clima tenso, muitos taxistas e papagaios de vans gritando, te chamando. Além dos meninos de rua que ficam ali no entorno.
Eu vinha de um dia de aula muito tranquilo e zen: estudamos sobre budismo e o seminário de nossa aluna foi simplesmente uma vivência cheia de entusiasmo que nos emocionou a alma.
Chegar no Rio assim, é meio tenso. Ficando ali dentro ninguém te aborda. Eis o segredo.
Até que chegou meu ônibus. 178.
Fui a passo largo. Um menino me disse bom dia, já pronto para um pedido e eu disse bom dia de volta sem dar atenção.
Subo as escadas do ônibus e um outro menino me pede um real.
Fico ali na escada do ônibus, em fila, exposto, olhando para ele.
Eu digo: não posso te ajudar.
Ele insiste: um real, um real, só um real (está em transe de abstinência).
Eu digo: não posso te ajudar agora.
Ele pergunta: o quê? (provavelmente é a primeira vez que respondem olhando no olho e ele quer entender o que eu estava dizendo)
Eu repeti: hoje não posso te ajudar. Amanhã!
E entrei no ônibus. Seguro. O medo, correndo em meu corpo. Seguro estava dos perigos de fora. Mas não dos perigos de dentro.
Eu disse amanhã. Em voz alta e o eco ficou em minha mente. Amanhã... Como? Teria eu mentido? Como dormir tendo mentido?
Eu sabia que teria de ir na rodoviária no dia seguinte, mas como eu iria encontrar o menino? Que garantias tinha de que esse menino estaria lá.
E fui pra casa com esse péssimo sentimento: ao tentar ser gentil, falar olhando no olho... com esses meninos nesse estado não dá para ser bonzinho e justo, honesto, verdadeiro ao mesmo tempo. Traí a verdade e não fui nem justo nem bom.

Dia seguinte, hoje, no trabalho com população de rua, levo alguns companheiros para pegarem ônibus para suas cidades natal.
Uns vão para Paraty, outro Recife.
Tudo resolvido, amigos embarcados, sento para comer e pensar no que fazer.
Voltar para casa? É o caminho do embarque onde pego os ônibus amarelos.
Ir para Tijuca, cortar o cabelo? É o caminho do desembarque, pegar o 606.
Ligo para o salão. Ocupado. Como ir ao salão sem marcar? E se estiver lotado?
Estranhamente resolvo ir para a Tijuca assim mesmo, na aventura. Qualquer coisa passeio um tempo por lá.
Saio da rodoviária indo na direção do 606. E ali, milagrosamente, quem eu encontro?
Já tinha esquecido completamente da promessa.
Mas ele estava ali. O mesmo menino. Com 3 amigos. Todos doidos. Olho para ele e pergunto: "lembra de mim? Ontem eu dise que não podia te ajudar mas que te ajudaria hoje. Dinheiro eu não dou mas vamos ali que vou te comprar um lanche." E ele levou uma coca de 600ml, mais um biscoito cream cracker (que ele escolheu!) mais uns doces e uns pingos de leite.
E disse: Escolhe aí e toma esses docinhos, pois Deus quando dá, dá em abundância.

Certo de que foi presente de Deus a mim também, saí confiante nos caminhos não planejados.
Feliz com mais um milagre das coicidências.
Quem está no controle das coisas?

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