Você tem sentido benefícios com a meditação? Uma amiga me perguntou isso ontem.
Eu sempre acho difícil responder a essa pergunta.
Faz 20 anos que estou envolvido com meditação. Ao longo desse tempo acho que consegui manter alguma prática diária por mínima que fosse. Agora este ano retomei uma prática que está sendo novamente meu foco nesse investimento de trabalho pessoal. Minha amiga também conhece esta técnica e certamente me perguntou para, além de ser acolhedora em me escutar, de alguma forma, se sentir estimulada a retomar a disciplina com esta técnica. Daí se torna um desafio ainda maior responder porque eu quero tentar ser sincero e ao mesmo tempo útil para o que a pessoa está perguntando.
Consegui responder que nesse pique de duas meditações diárias, é verdade que consigo observar em mim mesmo, nas pequenas situações da vida, um maior grau de equanimidade nas situações. Lidar melhor com as coisas que não saem exatamente dentro dos planos, sem perder a cabeça. É possível observar aqueles micro momentos em que a reatividade começa a surgir no corpo e na mente e a atenção e a presença vão fazendo emergir novas respostas mais pacientes, tolerantes, menos violentas, menos apaixonadas e sofridas.
Minha amiga é mãe de duas crianças, trabalha com massagens, é um pessoa envolvida com o cuidado, e certamente tem por base o autocuidado. Sei que em sua alimentação ela já tem um caminho bem interessante de escolha de alimentos saudáveis, de abrir mão de alimentos prejudiciais ainda que gostosos, porque isso é parte de uma dieta que conduz a um caminho de vida coerente com ideais ecológicos, de bem viver, de saúde, de evolução espiritual. Uma dieta, diferente de um regime de curto prazo, é uma disciplina para a vida toda. (Estou lendo a Cabala da Comida, do Nilton Bonder, que está sendo citado no fundo desse texto).
Então fiquei pensando na resposta que dei no momento da pergunta e mais tarde algo na minha mente ficou buscando quais outras respostas seriam mais verdadeiras, mais sinceras, mais profundas. Afinal por que há 20 anos abro mão de alguma coisa que eu gosto de fazer no meu dia a dia, como ler, por exemplo, para ficar sentado em silêncio, conduzindo a mente para algum tipo de exercício com o fim de treiná-la?
Então eu diria para minha amiga que voltei a meditar com mais dedicação por me sentir engajado em um caminho de longo prazo. É difícil escolher as palavras para falar disso. E hoje ao mesmo tempo que vivemos uma ideologia do imediatismo, também vivemos uma filosofia muito coerente do momento presente. Então é justo que eu queira reconhecer os benefícios de curto prazo, algo que seja bom agora, pois afinal "senão agora, quando?" A própria meditação busca lidar com o fato de que esta pode ser a última exalação, ou até mesmo que o agora é o único momento!
Mas ainda assim meditar é me engajar em objetivos de longo prazo. Quero envelhecer com mais saúde, física e mental. Esse treino da mente pode me livrar do Alzheimer, da depressão, de uma velhice sem sentido? Quero tornar-me uma pessoa mais leve, e acho que ao longo dos 20 anos consegui perder um pouco de peso, e isso me faz querer continuar com a promessa de que dá pra ser uma pessoa mais feliz e amorosa. Eu medito para, nesse caminho de longo prazo (que não sabemos até onde vai, quem sabe quantas gerações podem se beneficiar desse trabalho?) perseguir uma promessa de evolução.
Desde a primeira vez que fui mordido pela ideia da meditação, abracei isso com um engajamento do coração (apesar de sentir que era um trabalho suado e que não me era um dom natural). Ao longo do tempo encontrei umas raras pessoas que pude reconhecer, não sei bem através de qual sexto ou sétimo sentido, que aquela pessoa tinha uma paz dentro de si e alguma fome em sei lá qual víscera dentro de mim me dizia: "eu também quero chegar lá e preciso encontrar um caminho!"
Então pra ser mais sincero com minha amiga, essas duas meditações que voltei a fazer todo dia (que Deus ajude a me concentrar bem em cada uma delas porque não basta sentar e rolar em pensamentos dispersos) acho que o maior benefício de curto prazo que estou sentindo, é a relativa paz (ou crença) de que estou fazendo algo que me engaja em um sentido de longo prazo, e que é bom para mim e para todos os seres.
Pode parecer um jogo de palavras. O curto prazo é sentir-me engajado em algo de longo prazo. E não é assim?
Lembrei-me agora de um estudante da faculdade de direito, quando eu dava aulas de economia na Universidade de Juiz de Fora, e discutindo com eles sobre revoluções, eu acabava defendendo os movimentos de não violência. No fim da aula um jovem muito inteligente me perguntou: o senhor acredita em reencarnação?

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