terça-feira, 21 de julho de 2015

PALAVRAS SOBRE A ESCRITA


Eu escrevo porque a palavra existe.
Sou um artista da palavra.

A palavra nos aproxima: eu de você, leitor, e você de mim.
Aproxima nossos sentimentos.
Nossa forma de ver o mundo
De compreender as coisas do mundo.
É uma espécie de magia, de criação de um mundo comum.

Conduz, emociona, convence.
Palavra é política.
Escrever é um ato político.
Seduzir com as palavras.
Descrever o mundo.

Escrever é dotar o mundo de sentimento.
Carregá-lo de significado.

Sou herdeiro dos poetas: músicos e escritores
Meu mundo é um mundo descrito por eles.
Sou um bom leitor, por isso escrevo o mundo ao meu jeito.
E escrevo para tocar e compartilhar esse meu mundo
Doando amorosamente meu sentimento
Para que você veja e entre em contato com o mundo do sentimento
Com o sentimento do mundo
O sentimento que perpassa as coisas.

Escrevo porque se eu não escrever
As pessoas não vão ter meios de ler o mundo... e criar o seu mundo

Estive à procura de uma arte, música, dança, teatro...
Me sinto muito vivo no palco
Sinto a imensa plenitude ao dançar, cantar junto...
Mas é na escrita que expresso meu amor
Descobri e aceitei que é essa a minha arte.
Ao escrever ponho beleza na vida, ajudo o leitor a ver a beleza da vida.

Nem sempre gosto do que escrevo.
Mas às vezes gosto tanto que me emociono ao me ler.
Me emociono ao me ler mais do que ao escrever, ou mesmo mais até do que o tanto que senti ao viver aquilo que relato em meus textos.
E me surpreendo ao me ler como se eu não fosse o autor, como se fosse outro...
A escrita tem uma vida própria... uma regra própria
Escrever é um meio de entretecer a vida no universo do símbolo
E ler é o meio de sentir melhor o que foi vivido.
O poeta fingidor, dizia Fernando Pessoa... escrever para sentir a dor que sente.
Escrever é a minha arte porque é o meu meio de sentir.
Escrever é o meu ato de amor.

Minha escrita é um desabafo
Muitas vezes nasce da dor. Nasce das minhas derrotas, do sentimento inconsolável de impotência.
Escrevo para denunciar a nossa desumanidade, a nossa falta de arte, de vida.
 E partilho meu sentir. É um desabafo. Mas é também um grito de esperança. De manter acesa uma chama de sensibilidade, de sentimento humano.
Por isso escrevo tanto sobre os oprimidos. Os sem teto e as crianças: que são os grandes oprimidos neste mundo. A quem me ligo para buscar viver mais intensamente e coerentemente a minha crítica, a minha negação ao sistema.
E escrevo com o sangue da indignação, mas com a fragrância da ternura. Como nos contos de Natal, na tradição cristã. Sou romântico, admito. Vejo melancolicamente a beleza na tristeza e sonho com a redenção humana através do sentimento.
E me encanto com os textos que proclamam o nascer de uma flor, em meio à cegueira geral. Mas que alguém reparou. E é aí que mora a beleza.
Como quando uma criança dança e ninguém vê. Estão todos muito ocupados em seus deveres.
Ou quando um pobre da rua divide o seu único pacote de biscoito. E estão todos em sua luta pelo biscoito de cada dia.
Minha escrita está lá, poeticamente, deliciosamente, captando esta beleza oculta, esta epifania: a presença do mistério.
Uma beleza do mundo humano. Do universo do sentimento. Uma mística.

Minha escrita é uma forma de oração.

2 comentários:

  1. "...viver mais intensamente e coerentemente a minha crítica, a minha negação ao sistema."Brilhante!Acredito que trilhando esse caminho encontraremos soluções para os nossos problemas.

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