domingo, 22 de dezembro de 2013

Nada a te oferecer senão eu mesmo...


Uma amiga muito querida começa a namorar. Anuncia no facebook e as pessoas desandam a dizer parabéns. 
Meto-me a filosofar nessas horas. 
Filosofia é sempre um misto de encanto e crítica = espanto. O que é o encontro humano? O que é o encontro de olhares que se veem um no outro como algo mais?
Sinceramente me estranha essa cultura de dar parabéns a quem começa um relacionamento, como se fosse a vitória conquistada, a saída do purgatório da solidão e 'agora sim, você conseguiu alguém'. Isso é prova de uma sociedade que não aprendeu a lidar com o afeto, com a sexualidade, como expressão de pessoas maduras, bem resolvidas, dispostas a se doarem e não mais vivendo na carência desesperada e infantil de alguém que venha lhe 'tirar da solidão'. Vítimas dessa cultura que encontra seu símbolo nos contos de fadas, onde o 'príncipe encontrado' é a cura para todos os males e... enfim... 'viveram felizes para sempre'.
Parabéns dou a quem está se trabalhando, se conhecendo melhor, buscando sair dos velhos hábitos, buscando se lançar no novo, no desconhecido, na aventura do viver. Começar um relacionamento novo, pode ser a maior das mesmices para muita gente, se não há um trabalho interior de renovação e de abertura, de cura das feridas e dos condicionamentos.
Amigos, o que vem depois do 'para sempre'? Cá entre nós... começar um relacionamento é o começo de uma jornada e não o fim dela. E as maiores dores e as maiores tragédias humanas se dão na má condução de si mesmos nesses encontros. Talvez sim faça sentido desejar parabéns no verdadeiro sentido dessa palavra única da língua portuguesa: para bens, porque pode ser para males. E é nos relacionamentos que fazemos mal um ao outro.
Atenção!
Amar é cuidar, respeitar, conhecer, se entregar.
É aí que nos ferimos e ferimos o outro porque não nos conhecemos e não sabemos lidar com nossos desejos, e temos medo de parecer ridículo ao outro e não nos entregamos de fato e a vida a dois tende a uma catástrofe de mentiras e bloqueios.
Desejo a essa amiga queridíssima, esse encanto de pessoa, que possa se entregar a cada momento de sua vida, como vem fazendo, com o coração. Que pense pouco com a mente-neurótica e se doe inteiramente com o coração.
A vida é sempre um desafio.
Desafio de ir além: transcender. Isso vale para os solteiros e vale para os casais.
Transcendemos a nós mesmos só se nos entregamos inteiramente ao momento presente. Essa a magia da vida presente nas grandes filosofias do mundo: 'viver é melhor que sonhar'.
Presença, consciência, entrega.
Tem um texto aqui na parede de casa muito lindo que quero citá-lo nessa hora comovente e sagrada. Que possa te servir de inspiração.
"Eu prometo não te prometer nada. Nem te amar para sempre, nem não te deixar jamais. Nada a te oferecer senão eu mesmo. Nada a te pedir senão que sejas quem tu és, a Verdade é o que melhor temos a compartilhar. Companheiros de uma viagem que está começando, cada vez que nos encontramos novamente."

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Libertar meu eu interior - Lição de Anne Frank


Mais uma vez essa menina de 16 anos me emocionando pelos seus ensinamentos.
Ela me surpreende e me ensina coisas novas.
Dessa vez, lendo na turma em sala, destacamos o último dia do seu diário, o dia primeiro de agosto de 1944.

No geral as pessoas acham que são uma só.
Ela reconhece, em sua humanidade, que é um "pequeno feixe de contradições" e diz que há duas Annes dentro dela.

"Já te contei em tempos que não tenho só uma alma mas sim duas."

Isso é maravilhoso de se reconhecer! Não somos um só, temos sempre dois lados. Isso nos faz mais humanos.

Mas há ainda algo mais.

Mesmo pessoas que sabem-se duas, e reconhecem que escondem um dos lado, dizem que escondem o lado ruim, o lado negativo.

Anne nos mostra algo novo. O lado que ela esconde, é justamente o lado melhor. Onde há mais amor, mais sentimento, mais profundidade. Esse ela esconde por ter medo de que os outros zombem dela. 

Ela diz: "Uma dá-me a minha alegria exuberante, as minhas zombarias a propósito de tudo, a minha vontade de viver e a minha tendência para deixar correr, isto é, para não me escandalizar com flertes, abraços ou uma piada inconveniente. Esta primeira alma está sempre à espreita e faz tudo para suplantar a outra que é mais bela, mais pura, mais profunda. Essa alma boa da Anne ninguém a conhece, não é verdade?"

Como é doloroso ouvir isso. Saber que a parte boa fica escondida. Que desperdício para todos nós... Ela fica entre um lado superficial e um mais profundo: "Este meu lado superficial tentará sempre afastar o outro, o mais profundo, e alcançará, por isso, a vitória."

E isso nos faz pensar tantas coisas...

Vivemos num mundo de repressões. E achamos que se soltarmos nosso lado interior o mundo seria um caos.

Mas é o contrário. Des-reprimir, des-controlar, será permitir que o nosso lado oculto, que é puro, inocente, amoroso e profundo revele-nos uma forma de viver mais bela e plena, com mais alegria e comunhão entre as pessoas. 

E temos medo justamente de mostrar o nosso lado melhor. "Tenho medo de que todos os que me conhecem, tal como costumo ser, possam descobrir o meu outro lado, o mais belo, o melhor. Tenho medo de que trocem de mim, me achem ridícula e sentimental, e não me tomem a sério. Estou habituada a não ser tomada a sério."

Por isso, o convite é: seja você, em sua profundidade. Se as pessoas vão te achar ridículo, aproveite e ria do seu eu ridículo antes deles. Liberte seu eu interior. Ele é bom.

Obrigado Anne Frank, minha menina-amiga.
Obrigado mais uma vez.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Quem é Jesus?


O Natal se aproxima e como professor, trabalhando numa universidade, convivendo nos círculos acadêmicos, eis que a pergunta por Jesus se faz viva novamente.

Vários colegas cientistas, de diversas opiniões a respeito da fé, mas em geral, silenciosos a respeito desse tema nos meios onde há uma dominante cultura materialista, irão comemorar o Natal com seus familiares, e se verão mais uma vez, assim como eu, indagados acerca de Jesus.

Hoje, lendo um livrinho de Chico Xavier (e Emmanuel) onde eles comentam diversas passagens do Evangelho, encontrei essa que se dirige a todos nós: acadêmicos.

Está no livro chamado: Pão Nosso, no capítulo 161. E o trecho comentado é quando Jesus pergunta aos discípulos: "E vós, quem dizeis que eu sou?" (Lc 9, 20).

O comentário é uma boa provocação, que gostaria de compartilhar nesse momento (sublinhando alguns trechos):

"Nas  discussões  propriamente  do  mundo,  existirão  sempre  escritores  e  cientistas  dispostos  a examinar  o  Mestre,  na  pauta  de suas  impressões  puramente intelectuais, sob os pruridos da presunção humana.
Esses amigos, porém, não tiveram contacto com a alma do Evangelho, não  superaram  os  círculos acadêmicos  e  nem  arriscam  títulos  convencionais,  numa  excursão  desapaixonada  através  da revelação divina;  naturalmente,  portanto,  continuarão  enganados  pela  vaidade,  pelo  preconceito  ou  pelo temor que lhes são  peculiares  ao  transitório  modo  de  ser,  até  que  se  lhes  renove  a  experiência  nas estradas da vida imperecível.
Entretanto,  na  intimidade  dos  aprendizes  sinceros  e  fiéis,  a  pergunta  de  Jesus reveste-­se de singular importância.
Cada um de nós deve possuir opiniões próprias, relativamente à sabedoria e  à misericórdia com que temos sido agraciados.
Palestras  vãs,  acerca  do  Cristo,  quadram  bem  apenas  a  espíritos  desarvorados no caminho da vida. A nós outros, porém, compete o testemunho da intimidade  com  o  Senhor,  porque  somos  usufrutuários  diretos  de  sua  infinita  bondade.
Meditemos  e  renovemos  aspirações  em  seu  Evangelho  de  Amor,  compreendendo a impropriedade de mútuas interpelações, com respeito ao Mestre,  porque  a interrogação sublime  vem  d’Ele  a  cada  um de  nós  e todos  necessitamos  conhecê­-lo, de modo a assinalá­-lo em nossas tarefas de cada dia."

A reflexão aponta para a presunção do intelectualismo que não considera outras formas de conhecer a realidade, que não seja a racional. De fato, alguns de nós, ainda excessivamente modernos em matéria de epistemologia, ainda não percebemos o lugar das emoções, dos sentimentos, da sensibilidade, da corporeidade, da intuição e do impulso de transcendência na própria busca de conhecer a realidade que nos cerca.

O texto questiona ainda o obstáculo epistemológico dos sábios do mundo, que se alimentam de uma estranha articulação entre saber e poder, denunciando que nossa recusa em mudar paradigmas decorre de um apego ao título e ao lugar social que ocupamos.

E o que me toca profundamente é o desejo de participar dessa "intimidade dos aprendizes". Conhecer é se fazer íntimo.

Tão belo isso!

Só aquele que ama pode conhecer o outro, dizia Victor Frankl.
Erich Fromm mostra que o inverso também é verdadeiro: só se pode amar aquele que se conhece.

O convite à intimidade me soa como um convite a um viver perto, com abertura de coração.
Só aqueles que já viveram intimamente com alguém podem saber do que se trata.

Entrega, aceitação do outro, aceitação de si mesmo. Intimidade dá medo porque o outro vai conhecer e descobrir que somos ridículos, vai entrar em contato com aquilo que a gente tenta esconder sob máscaras e "papéis sociais".

Essa página me convida a debruçar-me filosoficamente ao significado do Natal. Para nós, que vivemos da pesquisa científica, é um convite a um outro paradigma, já anunciado por diversos pensadores.
É sair do paradigma do saber-poder, e adentrar no paradigma do amor-saber.

Olhe nos olhos daqueles que convivem com você e se perguntem: quem é você? de onde você veio para partilhar dessa vida, e dessa intimidade, e dessa entrega absoluta que me amedronta porque vai além do controle da mente neurótica-racional-controladora? Quem é você?

O texto, ou ainda, o Natal, nos convidará a olhar para essa dimensão de transcendência com esses olhos inocentes.

Mais do que comunidade de cientistas ou sábios, quero participar dessa comunidade de aprendizes, aqui sim, poderá haver intimidade, porque, só como aprendizes podemos fazer aquele gesto de entrega dos que sabem que não sabem.

Sinto que esse é o retorno da boa filosofia.

Jesus tem muito mais afinidade com Sócrates e com todos os pensadores que tiveram a humildade do verdadeiro espírito científico, todos aqueles que tiveram verdadeira reverência ante ao mistério da vida.

E os pretensos sábios e doutos, continuaram falando às paredes, sob aplausos dos fantasmas sem vida que os rodeiam.



domingo, 8 de dezembro de 2013

Vida na rua


A vida é chata, é rotineira por aqui
Por isso que as pessoas pensam logo em sumir.
Pensa que o mundo lá fora é brincadeira
Mas são sexo, drogas e justiça na cadeia.
Querem curtir bastante a liberdade
Mas seus olhos brilhando cheios de felicidade.
Iludida na rua pensando em se dar bem
Mas acaba voltando pra FEEM.
Daqui vou pra Copacabana
Querendo comida, agasalho e boa cama
Mas quando percebe cai logo na real
É puro balanço e muito marginal.
Tem homem bonzinho que te compra até pastel
Depois te convida logo pro hotel.
Se não tiver cabeça e também não se cuidar
Uma AIDS da vida você pode até pegar
Queremos curtir, conhecer o mundo inteiro
Mas só que pra isso tem que ter muito dinheiro.
Pois a vida não é só se aventurar
Você tem que se manter porque precisa trabalhar.

Adriana Neto, compôs esse rep, com outros companheiros quando estavam no Educandário Santos Dumont (Degase)