segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Conto de Rumi: Moisés e o Pastor


Certa vez, Moisés ouviu um pastor que rezava de forma espontânea: — Ó Deus, mostra-me onde estás, para que eu possa me tornar Teu servo, para que eu amarre Tuas sandálias e que eu penteie Teus cabelos, para que eu lave Tua roupa, mate Teus piolhos e traga Teu leite. Oh!, meu adorado! Que eu beije Tua mão amada, que eu massageie Teu pé amado e no momento de dormir, balance Tua pequena cama. Ó Tu, a quem todas as minhas cabras são ofertadas em sacrifício; ó Tu em quem eu penso, lânguido, pleno de desejo de amor. Ao ouvir a oração do pastor, Moisés, o profeta legalista, repreende-o severamente, identificando-o como alguém perverso e ímpio, por se referir ao Deus juiz de forma assim tão familiar e estúpida. Para ele, o grande Deus não necessitava de um semelhante serviço. Diante de tal atitude, o pastor, envergonhado e transtornado, com a alma queimada, rasga suas roupas e se retira para o deserto. Neste momento, veio do céu uma revelação de Deus a Moisés, que dizia: — Separaste meu servidor de Mim. Eis que viestes para reconciliar meu povo comigo, e não para afastá-lo de Mim. De todas as coisas, a mais detestável a Meus olhos é o divórcio. Dei a cada povo uma forma de expressão. Não tenho necessidade de seus louvores, estando acima de toda necessidade. Não considero as palavras que são ditas, mas o Coração que as oferece, pois o Coração é a essência e a palavra o acidente. Ó Moisés, aqueles que amam os belos ritos são de uma classe, aqueles cujos corações e almas ardem de amor são de outra. Não é preciso se virar para a Caaba quando se está nela, e mergulhadores não precisam de sapatos. A religião do amor é diferente de todas as outras religiões, pois, para os amantes, Deus é a fé e a religião. Em seguida, Deus infundiu no íntimo do Coração de Moisés os mistérios que palavra humana alguma alcança. As palavras invadiram seu Coração, transformando radicalmente sua visão. Após compreender a reprovação de Deus, Moisés correu ao deserto em busca do pastor. Ao se encontrar com ele, assim se expressou, movido de compaixão: — Não busques regra alguma, nem método de adoração; diz tudo o que teu Coração aflito deseja. Tua blasfêmia é a verdadeira religião, e tua religião é a Luz do Espírito. Estás salvo, e graças a ti um mundo inteiro se salvou igualmente.

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