segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Aristocracia Brasileira


Hoje fui ao Rio Sul, shopping localizado na Zona Sul carioca.
Interessante observar, logo ali na entrada, a existência da radical divisão de classes que vivemos no Rio, especialmente quando a gente entra pelos fundos. O pessoal que trabalha no shopping sai um pouquinho para poder fumar, e também ali estão, nas idas e vindas de seus postos de trabalho, demais funcionários, todos em contraste com a chegada animada e triunfal dos clientes. A diferença é visível, ao menos para quem vive a cultura por dentro. Está na qualidade das roupas, nos cortes de cabelo, na postura, no jeito de andar, de falar, de respirar e, até, de flertar. Tudo é símbolo de distinção. Vivemos numa sociedade radicalmente dividida. Até mesmo naquilo que seria um campo equalizador, por nos aproximar a todos da natureza, do lado cru da vida, o campo do flerte sexual, a diferença surge impondo muros de distinção e proibições. Raro, muito raro, um proletário acreditar que tem chance com a princezinha zona sul, daquelas "tão lindas que acho que cresceu só comendo filé". Muito difícil, quase impossível, o homem rico mexer com a pobre, sem que seja no jogo sujo do sexo imaginário violento e despudorado, mas que não seja nunca para casar, pois afinal, não vão aceitar lá em casa. Casamento só dentro da casta. Sim, lembro que li, há alguns anos, em Gilberto Freyre sobre o Brasil colonial: "negra pra trabalhar, mulata pra f... e branca pra casar". No que pese as (poucas) mudanças na cor, a regra continua valendo. É engraçado quando brasileiro se horroriza com a sociedade de castas indiana, com suas delimitações rigorosas e a vergonha dos intocáveis. Ora, ora, ser humano é ser humano, aqui e na China (e na Índia). Aqui também há castas: internalizadas no nosso imaginário. Tem gente que se a gente toca na rua, precisa correr pra lavar a mão. Sim, Brasil aristocrático. Lembro da aula da filósofa Marilena Chauí sobre a filosofia política em Baruch Spinoza (seu preferido). Segundo ele o que marca um regime democrático ou aristocrático de sociedade não é a forma de se contar os votos, é a busca por distinção social que há nas aristocracias. E não é que o judeu excomungado e expatriado tinha razão? Não é que a corrida simbólica em nossa sociedade é, mais do que dinheiro e poder, corrida por distinção? Brasil, eis a tua cara. Homem, ei-lo homem. É tudo humano. É tudo humano.

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