quinta-feira, 7 de abril de 2011

Carta de desculpas - a ética do educador

Rio de Janeiro, 07 de abril de 2011

Queridos companheiros do IEAR,

Com esta carta aberta gostaria de pedir desculpas publicamente a cada estudante, técnico e professor do nosso instituto por uma grave incoerência entre meu discurso e minhas atitudes. Como sabem, sou um dos que estimulam a participação democrática em nossa UFF. Numa reunião de departamento, integrei, com mais 3 professores, a comissão eleitoral que se responsabilizou por elaborar o processo das 4 eleições que estamos tendo nesse período. Começamos trabalhando coletivamente. E quando era para ser dado início ao primeiro pleito, convidei um aluno e uma técnica para compor a primeira comissão que organizaria o debate e a eleição para chefe de departamento. Tudo correu muito bem e a participação foi intensa por parte de todos. Todos crescemos muito. Mas preciso dizer que, fazendo um exame de consciência, percebo que cometi o grave equívoco de iniciar o processo sem consultar os demais 3 professores que estavam na comissão eleitoral. Atropelei o processo, por uma ansiedade, por um simplismo, por uma imaturidade ética. Ou seja, nesse momento tenho que me perguntar: como pode o professor que dá aula de ética, que diz acreditar na participação, no diálogo e na democracia, agir de uma forma tão autoritária, desprezando os colegas, esquecendo-se de consultá-los antes de agir em nome do coletivo?

Uma das pessoas que orientam meu posicionamento ético, com bastante radicalidade na busca de coerência, é Mahatma Gandhi. Uma história de sua vida costuma me orientar: uma vez foi com o filho para a cidade e pediu que ele levasse o carro para a oficina mecânica. O menino aproveitou que o pai estaria numa conferência e tirou a tarde para passear com o carro. Ao fim do dia o pai descobriu, pelo dono da oficina, a mentira do filho. Quando o menino pediu ao pai para entrar no carro e irem para casa, Gandhi, ao invés de dar a bronca, diz que vai andando até em casa. “Mas são quilômetros, pai!” “Preciso ir andando” – respondeu – “para pensar onde foi que errei, onde estou errando para que você precise mentir para mim.”

Esse é o exemplo do verdadeiro educador. Que busca constantemente se educar. Que faz a auto-crítica. Meu objetivo na vida é crescer como ser humano. Então de nada adianta julgar os outros. Devo buscar em mim mesmo as respostas dos meus erros, e tentar acertar da próxima vez. Se as coisas no meu grupo de trabalho não vão bem devo me perguntar onde errei. E aqui posso admitir minha parcela de responsabilidade.

Pelo imperativo categórico de Kant me vejo na obrigação de fazer esse pedido público de desculpas porque gostaria de viver num mundo em que as pessoas reconhecessem publicamente seus erros. A República Ideal não é composta por homens infalíveis, porque é do humano a incoerência. Mas a boa república é aquela onde as pessoas buscam o autoconhecimento, reconhecem seu erros e tentam acertar.

Gostaria que recebessem meu pedido de desculpas. Estou a disposição para continuar tentando acertar. No entanto, gostaria que, para as eleições do coordenador, outra pessoa tomasse a frente do processo para que eu pudesse ver e aprender, com seus acertos e erros, aprender também com sua diferença de estilo, por que não?

Agradeço a todos pelos desafios que nos lançam ao crescimento e ao eterno aprendizado da vida.

Paz, paz, paz!

Prof André Andrade Pereira

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