É tudo um sonho.
Espelho, espelho meu...
Existe alguém, no mundo, mais bonito do que eu?
Olhei no espelho e ele me falou:
Sou forte. Para me enfrentar é preciso ser valente.
Eu sou prepotente, arrogante e tenho orgulho, valor. Superior a todos a minha volta gosto de olhar as fraquezas dos outros
para sustentar a minha auto legitimação.
É assim que eu sou.
Existe o certo e o errado. Eu sei o que é certo. Minhas opiniões são absolutas.
O conhecimento é importante para
mim. Sei que sei. E o que não sei, sei que posso saber. Por isso estudo tanto.
Se eu não souber não tenho valor. Não reconheço o valor de quem não sabe. Quem não
sabe, precisa aprender.
Quero saber, quero possuir, quero
ser. Mais, mais, mais. Sempre mais.
Sou crítico. Falo uma coisa e vivo outra. Tenho visão estreita, não me importo. Vejo
com facilidade o que me deixa em meu lugar cômodo. Mas não enxergo o chão da
minha casa.
Não sinto culpa. Culpo a todos os
que não seguem minhas palavras.
Não sou eu que engraxo meus
sapatos.
Falo em aberturas e não vejo minhas
fechaduras.
Não vejo outras culturas e falo em
diversidade. Reduzo tudo a mim.
Falo de amor e sou indelicado.
Sou contra a delicadeza, a ternura,
a bondade, acho isso tudo conversa de gente fraca.
Minha regra oculta é ferir. Meu
ódio sutil se destila ao tempo da propaganda de estar bem.
Sustento a minha doença falando em
saúde. Proponho cura e afundo em sofrimento.
Sou fruto de uma propaganda que
faço de mim mesmo.
Vejo o desleixo do outro, mas não
vejo o meu próprio desleixo, nem o descaso, nem o descuido.
Escudo.
Sustento relações de opressão,
falando em liberdade
Critico os
gurus porque sou o maior dos gurus.
O que critico está em mim. Critico
as religiões e sou cheio de moralidades.
O certo e o errado são um peso para
mim. Nas coisas simples.
No palco sou herói da liberdade, em
casa sou patrão.
Mais um.
Sou a falsa espiritualidade.
Cultivo a indelicadeza, uso as
palavras do outro contra ele. Crio o meu próprio jogo, onde a grande câmera sou
eu mesmo, o Grande Irmão está em meus olhos.
Tento controlar tudo e todos. E se
falo em confiança é para que confiem em mim e entreguem seus segredos para,
quando for a hora, usar como armas contra eles. E assim vivo por cima.
Não consigo estar por baixo. Falo que
não há alto nem baixo, mas assim falando busco o alto. Desprezo o baixo.
Excluo. E sustento o amor restrito
aos seletos que jogam o jogo e permanecem na família.
Minto.
Omito, o que é a versão polida da
mentira.
Sustento tanto esforço falando em abrir
mão de esforço.
Sou a contradição em pessoa.
Aprendi a escutar. Desaprendi a
escutar.
Falo sozinho e acho certo!
Socorro. Um pequeno vírus em mim
pede socorro.
Acendo as luzes mas pressinto os
fantasmas escondidos atrás do armário.
Tormenta.
Tenho medo e falo da falta de medo.
Para ver se despisto o medo. Inutilmente.
Sou um buscador. Não me contento.
Continuo buscando. Esperança é o lema com que me engano.
Não vejo nada nem ninguém acima de
mim.
Destronei Deus e me entronizei no
altar da consciência.
Humildade é palavra que risquei
aqui de casa. Só entra pela porta dos fundos com aqueles que aceitam me servir.
Fiquei na infância filosófica da
crítica prematura.
Não leio nenhuma escritura sagrada.
Creio em mim todo poderoso. Criador
do céu e da terra.
Me vejo livre. Mas sou do tamanho
da tela na qual apareço.
Me orgulho de não ter preço. Mas
pago uma alta conta para sustentar minha empáfia.
Sou coca cola. Sempre coca cola.
👏👏👏👏 Muito bom André!🤯
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