quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Conversa com minha mãe na igreja

 Conversei com minha mãe no interior de uma igreja.

Ela me ajudou a silenciar um pouco e então me falava do André e de todos nós. 

Somos uma espécie de compressão do Todo na esfera do indivíduo.

E cada um é uma manifestação particular do que somos em essência.

Quando voltamos nossa percepção à Fonte vemos com clareza e assombro: somos um! O grande todo, oceano em movimento.

"Tudo é o meu eu."

(Palavras sugeridas por Vivekananda: "Ah como eu sou abençoado. Sou a liberdade. Sou o infinito. Minha alma não tem começo nem fim. Tudo é o meu eu").

E eis que o Todo vem à vida como André. 

Com seus limites, suas heranças genealógicas, seu corpo. O Ser vem aqui e vai atuar no e a partir do André. 

Só pela luz de sua presença já será uma purificação e uma evolução na estrutura da matéria.

E assim o ser se manifesta em incontáveis indivíduos. E em diferentes épocas. Começos e recomeços em ascensão.

E eu sou todos!

Um laço de fraternidade universal. O amor.

Tudo isso minha mãe me diz em silêncio de haustos amplos e lentíssimos, quase insuportáveis (ao inspirar preenche-te do Todo, ao expirar esvazia-te dando lugar a chegada do Todo). E suas explicações fazem sentido. E dão sentido à vida também.

Aceitar incondicionalmente o que se apresenta, com amor às próprias limitações, e fazer o que pode ser feito a partir de onde estou, de onde posso atuar. 

Minha mãe também me mostra como ela mesma está em diversas formas, em diversos tempos. 

E ela se faz tão bonita que me comove o coração a tal ponto que já não sei se busco a mãe para que me ajude a chegar ao filho ou se procuro no filho a brecha que revele o segredo da mãe oculta por trás de tudo o que diz e faz.

Uma visão que com certeza seria insuportavelmente arrebatadora a meus olhos tão pequenos, a meu peito tão apertado.

Fiquei com essa fala de minha mãe, essa sua explicação. Contemplei seu pensamento ao longo do dia, depois de já termos nos despedido lá na igreja.

Até que um outro pensamento surgiu como uma indagação. 

E o milagre da transmutação? E se André morrer inteiramente para essa vida? O que virá?

O problema que parecia resolvido, o espirito consolado, ressurgiu em uma nova agitação. Não é um gradual processo de evolução na aceitação dos fluxos evolutivos de cada estrutura. 

É uma inquietação por um salto, uma morte, uma simplificação extrema da estrutura. 

Viver não é só viver. É também morrer.

Queria levar esse pensamento a minha mãe numa próxima conversa.

Pressinto que ela mesma tenha-me intuído e confundido como se, para além das explicações compreensíveis à mente, em segredo ela me flechasse o espírito convidando-me à entrega total do coração.

Que força de atração!

Orar sem cessar.

"Levante, desperte e não se detenha até que a meta tenha sido alcançada" (ainda Vivekananda).

E afinal somos mãe e filho também um na fonte? Como requerer essa herança total?

Isso é coisa grande demais a se pensar e dizer. Não é coisa que caiba em palavras e permaneça imaculada. Minha mãe não o diria. Ela me sorriria isso.

Morrer não é só morrer. É também viver.

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