segunda-feira, 20 de abril de 2020

Noite e Dia

Era uma vez um homem que amava a noite.
Mas a noite tinha seus perigos e o homem quase morreu.
Por sorte ele conheceu o dia e o homem seguiu em segurança por longos anos.
O tempo passou e um dia ele reencontrou a noite e sentiu novamente seu fascínio.
Por algumas vezes, arriscou-se a trocar o dia pela noite. Mas só de vez em quando. De modo que teria alguns dias seguidos para garantir-se novamente com o dia.
Na verdade em suas novas andanças pela noite ele se perguntava se não haveria um jeito de desfrutar de ambas: noite e dia.
Lembrou-se de que quando era todo dedicado à noite, dormia um pouco de dia e passava o resto do tempo esperando que a noite chegasse e pudesse entregar-se a ela e passar um bom tempo acordado em meio ao obscuro mistério que só a noite lhe trazia. E ficava de dia, lembrando-se do que ouvira da noite.
E pensou também de que quando se encontrou inteiramente com o dia, procurava ir dormir bem cedo para estar bem disposto e aproveitar o dia para dar o seu máximo naquele consciente luminoso que só o dia lhe trazia. E procurava iluminar um ou outro ruído que a noite lhe trazia.
Mas agora o homem que amava a noite, passou a amar também o dia e, assim que voltou a amar a noite, decidiu que toda a sua vida era mesmo feita de amor.
E foi então que o homem nunca mais dormiu.

Um comentário:

  1. Oi André! Vc escreve muito bem. Talvez seja a hora do livro. Talvez! Seu texto me fez lembrar de quase 3 anos de insônia em que não aprendi a amar a noite, e que se encerrou há pouco em plena era do CV. O que isso significa, reflito agora, ainda não sei. Gratidão querido irmão

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