sexta-feira, 8 de junho de 2018

Na praça outra vez

Dessa vez fomos a uma praça com grama, árvores, mais afastada do centro comercial.
Um lugar reservado.
Ainda assim, as vezes passavam pessoas e eu me perguntava o que impactaria nelas, ver um grupo de cerca de 30 pessoas, na sua maioria jovens, sentados em roda ali.
Nesses tempos de medo.
Pontos positivos, na minha percpectiva, ou seja, o que para mim trouxe aprendizados, insights, alegria.
Pudemos cozinhar juntos: Ana Claudia, Dayane e eu. Foi um momento em que me trouxe a sensação de que já somos amigos há muito tempo. Ali cortando cebola, botando água para ferver, preparando as salsichas e cenoura... o tempo transcorreu com leveza. E pude alongar meu tempo de vínculo com elas, já que tivemos que começar antes do horario da aula normal. Um vínculo extra-classe.
A lua e o céu estavam muito lindos nesse dia.
A grama estava molhada, então meio que de improviso, fui até a UFF buscar esteiras para nos sentarmos com mais conforto.
Apesar de não ter planejado fazer uma roda sentados. Parece que era o que se desenhava no início. Um pic-nic.
E assim nos sentamos em círculo e esperamos que o alimento fosse trazido para o centro.
E em roda ficamos um tempo em conversas informais até que veio a ideia: vamos brincar?
Então pensaram em telefone sem fio.
Incrível como sempre que se brinca de telefone sem fio, o grupo ganha uma coesão e todos ficamos muito atentos a todo o processo. Não é só escutar e falar na sua vez. Todos acompanham o caminhar ao longo do fio da mensagem e ficam especulando se a mensagem já se transformou ou não.
Depois a-do-le-ta.
Algumas pessoas conheciam uma letra maior da música e foram cantando e o grupo aceitou e pode se abrir para aprender o que seria a "música completa". Me chamou a atenção a atitude impaciente das pessoas com as pessoas que erravam, ou faziam errado. e de como ali em roda estávamos numa brincadeira, rindo e a impaciencia (desejo de controle) se via obrigada a ceder ali e a pessoa a rir de si mesma. Um aprendizado em lidar com a emoção e com as dinâmica naturais dos grupos grandes e com o imprevisível. Dessa vez eu estava achando tudo engraçado. Mas sei bem o que é estar nesse lugar impaciente, querendo ensinar (eu sei o que é certo!), querendo que dê certo (vamos controlar o grupo). E fiquei curioso para conhecer o processo dessas pessoas que dessa vez ficaram nesse lugar emocional.
Depois a brincadeira de galinha choca. Me chamou a atenção que as pessoas corriam para valer. A toda velocidade. Entraram mesmo no espírito da brincadeira. E gostei das transgressões criativas da regra que algumas pessoa propuseram: a Laila e a Cristiana.
Então comemos. Bebemos sucos. E pudemos estar ali nesse momento integrativo.
Depois propus 20 minutos onde eu ia expor uma reflexão sobre Simone Weil.
Acabei usando essa citação: "O poeta produz o belo pela atenção fixada no real. Do mesmo modo o ato de amor. Saber que este homem, que tem fome e sede, existe realmente tanto quanto eu – isso basta, o resto vem por si."
Percebi que não entenderam de imediato. Então sugeri que olhássemos a árvore, que a contemplássemos um pouco. E que daí, da atenção, poderia nascer em nós a sensação de beleza, o encantamento. E então assim seria com o amor. Uma analogia. Porém senti que a analogia também não foi entendida de imediato. Então expliquei que para amar é preciso olhar as pessoas, dedicar atenção, para reconhecer que o outro existe. E que esse reconhecimento do outro como legítimo outro, é o início do amor. Inclusive, essa é a definição de Humberto Maturana (um biólogo).
daí segui para a outra citação sobre o não julgamento (entendi que seria uma continuidade natural):
"Devemos ser indiferentes ao bem e ao mal, mas, sendo indiferentes, isto é, projetando igualmente sobre um e outro a luz da atenção, o bem leva a melhor graças a um fenômeno automático. Essa é a graça essencial. E é a definição, o critério do bem." Também senti necessidade de destrinchar parte a parte. E, evidentemente, a ideia de ser indiferente ao bem e ao mal sempre traz dúvidas nos grupos. Então conversamos sobre exemplo que foi trazido por uma participante do grupo: uma criança que morde a outra na escola. Então fomos intendendo que ficar indiferente ao bem e ao mal, inclui se posicionar diante das ações dos outros, mas com as emoções neutras, sem tomar partido, etc. O tempo dos 20 minutos acabou. A conversa queria continuar viva em assuntos de cotidiano escolar, questões de transtornos mentais, comportamento, etc. 

E então começamos a nos organizar para a brincadeira que estava sendo desejada por parte da turma: pique bandeira.

Ali a turma se dividiu: uma parte ficou num cantinho conversando e comprando bijuterias. Outra parte se envolveu com o jogo.
Uma coisa que me impactou no jogo foi quando meu time foi "invadido" pelo adversário que veio tomar nossa bandeira. Foi tão rápido. Fiquei atônito. Sem tempo para pensar. Invadiram nosso campo ao mesmo tempo, por todos os lados. Tive uma sensação muito forte de acontecimentos semelhantes como deve ser em uma guerra, um ataque surpresa. Foi tudo muito rápido dentro de mim, mas foi um insight desse nível.

Ao terminar o encontro pedi que nos aproximassemos. Eu estava com a sensação de que faltava algo. Mas não me vinha nada que pudesse "salvar" uma sensação de que nos dispersamos, de que de alguma maneira perdeu o sentido a atividade ali. Então a ideia salvadora foi passar uma tarefa para a proxima aula: que escrevessem uma avaliação sobre o que vivemos. Então acho que foi uma ideia boa para amarrar a experiencia ao proximo encontro, para trazer a reflexão ao que foi sentido, vivido, etc.

E assim terminamos. Resolvi escrever esse texto para fazer a minha tarefa de casa.

Se eu pudesse escolher um ponto positivo: viver a invasão no pique bandeira. foi o que me trouxe o maior insight da noite. O que isso tem a ver com educação?fala de como os jogos podem ser educativos para a experiencia humana. Ali, pude viver uma experiencia de guerra (humana e que graças a Deus eu nunca precisei viver)
Um ponto negativo: a roda de "aula" em que eu centralizei demais a fala.  Oque eu faria diferente? Eu teria lido o texto todo da Simone Weil antes de começar a falar. A leitura poderia ter dado um espírito comum ao grupo, focado a atenção das pessoas, e traria mais conteúdo que poderia seguir um bate papo com base no que interessou mais as pessoas no texto.






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