Não tem como relatar essa experiência.
Cada um teve vivências muito profundas e de amplitude.
Cada um teve vivências muito profundas e de amplitude.
Passear pela cidade, metrô, ônibus, olhar a cidade com outros olhos, junto a equipe do yoga de rua...
Visitar uma favela, uma região desconhecida, famosa e misteriosa, ver de perto, ouvir os sons, caminhar pelas ruas, ver um pouquinho os diferentes mundos que convivem ali no mesmo espaço.
Visitar uma favela, uma região desconhecida, famosa e misteriosa, ver de perto, ouvir os sons, caminhar pelas ruas, ver um pouquinho os diferentes mundos que convivem ali no mesmo espaço.
Conviver, conversar, passar tempo junto, ver gente nova, ver o velho ao lado de gente nova, comer junto, sentir medo junto, dar risada junto, silenciar junto e depois voltar diferente do que foi.
O galpão, a prática, quase 50 pessoas num círculo, a meditação, os desafios das posturas, os sons ao redor, o relaxamento, a música calma de fundo, a vibração de amor emanada por todos.
Yoga de rua: um oásis no deserto.
Yoga na maré: uma clareira na floresta.
Yoga na maré: uma clareira na floresta.
Os antigos sábios da Índia que, se afastando da correria da cidade, iam a um lugar à parte para mergulhar na sutileza, no silêncio, e desvendar a ciência que observa o corpo e a mente em profundidade. Anseio de libertação, amor, paz, integração. Meio: retirar-se, simplicidade, observação, dedicação.
Estamos no caminho.
Alguém quer falar algo após a aula? De repente um senhor se levanta e vai agradecer... e inicia uma linda oração pedindo, emocionado, bênçãos a todos... a religião dele? Ninguém perguntou. Só agradecemos. O jeito de orar lembra o pentecostalismo cristão. Após uma aula de yoga!!!! Isso é absolutamente coerente com o ecumenismo natural do yoga. A expressão espontânea de uma devoção sincera! Isso é uma aula para todos. Yoga vem da Índia. Sim. Seus praticantes no ocidente, ao longo do caminho de prática, vão conectar-se com seus sentimentos. E não precisam necessariamente aderir às religiões e rituais indianos. Isso é uma bela quebra de paradigma para a forma convencional como a penetração do yoga costuma se fazer aqui. Que maravilhoso poder viver, ali numa favela carioca, essa potência da presença do Yoga em diálogo com a expressão da cultura popular! Que outras formas de expressão e potencialização de nosso povo o yoga poderá nos proporcionar! Despertar! Despertar não é copiar. É deixar vir o que tem dentro. E assim vamos.
Humanidade: mesa de café da manhã abundante após a prática. Partilha de alimentos. Oferenda de amor, comida, roupas, vontade de conversar e aconselhar os meninos que moram na rua. Um deles, antigo morador da Maré!
O Yoga na Maré é um projeto lindo! As aulas são abertas, gratuitas, quartas e sextas. Sexta-feira, especialmente, as 9:30 no galpão das artes da Maré, recebe muitos visitantes, o que é maravilhoso nesse intento de aproximar as pessoas da cidade.
Depois da comilança a Ana Olívia, professora responsável pelo projeto, nos levou para conhecer outros espaços de aula e fomos sentindo as ruas, a movimentação, a inspiração de tantos projetos que se destacam pela inclusão social com consciência crítica. Gente que promove ações de profissionalização e expressão artística e que pensa a sua realidade, o protagonismo histórico das mulheres, as causas evidentes da guerra particular entre polícia e tráfico, a estética da mulher negra, etc.
É muito emocionante ouvir (num dia sem tiroteios), os relatos do que ocorre quando ocorrem os confrontos e de como essas instituições ao invés de fechar, abrem suas portas para acolher as pessoas que passam na rua e encontram ali proteção. E de como as aulas podem continuar, mesmo com a guerra lá fora.
E assim o Yoga na Maré vai construindo e somando com outros projetos locais, uma presença territorial. Juntamente com as pessoas que tem ali seu espaço de vida, de trabalho, e que encontram, naquelas horinhas ali na "clareira da floresta", horas de bem estar, de paz interior, de afetos... vai-se construindo um lugar-referência, concreto e simbólico para a Maré. Algo vai se formando juntamente com as pessoas.
Nossos alunos tiveram sorte e pegaram uma festa de encerramento de uma turma do curso de espanhol. E mais festa e mais comilança. E seus olhos brilhavam porque viam ali naqueles jovens, naqueles projetos, perspectivas de investimento na vida que eles, uma vez na rua, perderam. E, quem sabe, ali, nesse encontro podem redescobrir projetos de vida. Um dos meninos, revisitando a favela onde morou, pode entrar em prédios que nunca havia entrado. Viu a favela por um ângulo que ele não viveu. Viu que tem um outro mundo possível, paralelo ao que ele viveu antes de ir pra rua. (Quem saberá os frutos que esses passeios do Yoga de Rua vão dar? Estamos querendo passear mais. Dia 22 vamos estar juntos de novo na Praia Vermelha num aulão do Yoga na Maré...)
'Que possam existir mais Olívias nesse mundo, espalhando amor e fomentando esse amor na gente", disse uma das participantes.
Uma linda frase que expressa a gratidão e a amizade que está se formando ali entre aqueles alunos e sua professora. Uma frase que se repete há milênios no universo do Yoga. No Katha Upanishad, no famoso diálogo entre Naciketas e Yama, o deus da morte, este lhe diz:
“A verdade sobre o Ser não pode obter-se através de alguém que não percebeu o Ser como sua própria natureza essencial. A mente não pode revelar o Ser. Para além das dualidades, aqueles que percebem a si mesmos em todos os seres e a todos os seres em si mesmos, auxiliam os demais a terem a revelação do Ser”.
E termina elogiando a escolha de renúncia do jovem, que abriu mão de muitos prazeres efêmeros que lhe foram oferecidos em troca de uma felicidade perene que sentiu poder encontrar ali naquele ensinamento:
"Sábio eres, Naciketas, pois estás em busca do Ser. Que possa haver mais buscadores como tu!”
E assim, o que aquela senhora, interpretando o sentimento de todos nós, está dizendo à professora é: "Obrigada por estares sinceramente em busca do Ser. E a sua busca te trouxe aqui. E a Sua busca nos inspira também. Que isso se multiplique!"
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