A oratória é uma das minhas artes favoritas.
Nunca a estudei de forma sistemática mas, ao longo dos anos, foi através de palestras que fui percebendo que minha alma ia sendo tocada pelas ideias e emoções que os palestrantes transmitiam. Foi através de palestrantes, e nesse contato vivo que é a palavra falada, que fui tecendo internamente meu sentido de vida, minha compreensão da vida social, das coisas do universo e do lugar da vida humana aqui no meio disso tudo.
Hoje em dia, quando ouço alguém falar em público fico atento ao jeito de falar, percebendo aquilo que toca o público, aquilo que vem de dentro dos sentimentos do orador, assim como suas manias e imperfeições, nervosismos, etc.
Acho que, mesmo sem estudar, me tornei um especialista no assunto. Ou, ao menos, um chato.
Quando criança, eu era tímido e tremia nas apresentações da escola. Se eu segurasse um papel com anotações para falar, o papel tremia e isso só piorava a situação. Se, com grande esforço, eu conseguia parar as mãos, as pernas é que começavam a tremer.
O engraçado é que quando era para ir ao quadro resolver exercícios de matemática eu adorava. E gostava de me virar para turma e dar explicações. Aliás, foi explicando matemática para uma amiga que comecei a pensar em me tornar professor.
Hoje, aos 36 anos, professor universitário, adoro dar palestras. Falo com alegria para 200 pessoas e um dos dias mais felizes da minha vida foi falar para mais de mil, num teatro municipal. Sou apaixonado por falar em público e pela possibilidade do debate de ideias. Sinto a presença do público, mais ou menos como o ator de teatro diz sentir a sua platéia, acompanho os olhares e, mesmo quando não fazem perguntas, sinto que está acontecendo um diálogo entre nós. Adoro!
Um dia desses, conversando com uma jovem amiga sobre cursos de oratória, resolvi escrever algo a respeito para ajudar as pessoas. Ajudar a quem quer se desenvolver nessa arte apaixonante: falar em público.
Foi na juventude que me deparei com a frase de Oscar Wilde que carrego comigo até hoje: "só existem duas regras para escrever: ter algo a dizer, e dizê-lo. "
Então comecei a entender que a questão principal não está na forma, mas no conteúdo.
Se eu sei o que vou dizer, basta dizer. Ou seja, a maior parte do problema na época da escola estava no fato de que a gente era colocado para apresentar seminários e falar de coisas decoradas, assuntos que a gente não entendia direito. Estávamos apenas começando a estudar e já tínhamos que apresentar. Ainda não dominávamos o assunto.
Minha mãe era sindicalista e falava muito bem em público. Era aquela retórica de comoção, agregadora. Uma vez perguntei a ela qual era o segredo. E ela me respondeu na linha de Wilde: "saber do que você está falando."
Então se um dia eu for dar aulas de oratória, a primeira prática vai ser as pessoas falarem de assuntos que dominam muito bem. Ainda que seja futebol, culinária, a história pessoal, a descrição de um lugar em que a pessoa sente prazer de estar, ou coisas do gênero.
Sei também que a grande dificuldade não está só na questão do que vai ser dito, mas na sensação estranha (apavorante para muitos!) de estar em pé na frente de um grupo de pessoas, tendo que se expor, sabendo e pensando obsessivamente no fato de que as pessoas estão olhando para você. Por que será que é tão difícil estar nessa situação? Por que, emocionalmente falando, a gente oscila entre a vontade de ser notado e a vontade de desaparecer? Qual o medo que temos? Isso é um trabalho longo para terapias e caminhos de autoconhecimento. Um dos exercícios que já fiz com meus alunos na formação de professores foi pedir que cada um andasse até o centro da roda (ou a frente da sala), parasse um tempo em silêncio, olhasse as pessoas, e depois voltasse. Um exercício simples, não precisa falar nada, mas é preciso se expor! Encarar os olhares...
Ao longo do mestrado me apaixonei pelos Sermões do Padre Antonio Vieira e com ele aprendi muito. É algo que se entranha. Por exemplo, creio que parte da técnica expositiva do padre barroco era trabalhar com afirmações em oposição às negações. Esse era, e ainda é, um bom método para enfatizar a ideia que eu quero passar em minhas palestras. Vou dar um exemplo. Eu posso dizer assim: "para falar em público é preciso coragem." Mas eu posso fazer uma construção que dê uma volta no contrário e volte com ênfase na minha afirmação. Ficaria assim: "para falar em público não se pode ter medo, é preciso coragem."
Faz toda a diferença, não é verdade? Eu conduzo intencionalmente o ouvinte a duas possibilidades e mostro qual das duas é a verdadeira. É como se a minha afirmação estivesse dentro de um universo maior. "Esse texto que você está lendo não foi escrito por um amador, mas por um professor experiente no assunto."
Então é o que eu sinto nos oradores que ficam muito perdidos no que falam, não sabem dar ênfases. Na primeira frase ela é dita de uma forma direta e acaba rápido. Na segunda, você pode valorizá-la a partir de pausas, de silêncios. Aliás, o valor do silêncio é um tema muito especial que vou comentar em breve.
Voltemos a Oscar Wilde. É preciso ter algo a dizer. Dominar um assunto. E aí creio que isso tem a ver com a natureza do conhecimento, ou seja, com estruturas de compreensão. E estruturas de compreensão tem a ver com a capacidade de fazer analogias entre conhecimentos diversos. Quando a gente conhece algo novo, faz associações com o já conhecido e assim a teia do saber vai se expandindo. Então por mais que eu estude um tema específico, saber temas paralelos me ajuda a transitar entre os discursos e dar mais clareza a minha fala.
Quanto mais amplo o conhecimento em áreas diferentes, melhor a capacidade de falar sobre os temas que já sei. Quanto mais ampla a teia do saber maior o poder de síntese e a capacidade de enfatizar os pontos centrais do que eu quero transmitir ao público. Pense numa criança que vê um filme. Você pede para ela lhe contar a história e ela conta detalhe por detalhe. Ela não consegue te dar uma visão geral. Ela fica falando: "aí a princesa foi raptada, aí apareceram os monstros, aí eles tinham dentes enormes, aí..." e de aí em aí você perde o interesse no que ela está falando. Quantas palestras sonolentas você já assistiu?
Poder de síntese: a organização oral de uma pensamento é o nosso desafio. Quem leu a autobiografia de Gandhi sabe da dificuldade que ele enfrentou com a timidez. Não conseguia dizer uma palavra em público. E, ao mesmo tempo, quando ouvia o pessoal no congresso indiano, achava que as pessoas falavam em excesso. Então ele pegou um papel e começou a anotar o que ele ia dizer. E tentava fazer com o menor número de palavras. E assim foi nascendo o orador que percorreu a Índia liderando multidões. Lembremos: quem fala pouco recebe mais atenção quando fala.
Quando jovem eu participava de palestras de grandes intelectuais e queria fazer perguntas. Mas quando o microfone vinha até minha mão dava um branco. Aí eu falava coisas desencontradas e não conseguia formular o que eu realmente queria saber. Então, assim como Gandhi, comecei a escrever para ler as perguntas.
Destacar ideias centrais, encaixar o que está sendo dito num contexto mais amplo, ter uma noção do todo e das partes, da cronologia, tudo isso vai ajudar a dar clareza. Mas a pergunta continua a existir: como desenvolver tudo isso? Aqui preciso contar como isso se processou em mim.
Fiz um curso de autoconhecimento que utilizou a metodologia de Jung que fala de quatro aspectos da nossa forma de perceber o mundo: o pensamento, o sentimento, a intuição e as sensações. Em cada pessoa, um desses aspectos predominava. E ainda se avaliava se a pessoa era introvertida ou extrovertida. No meu caso, ao fazer o teste, deu pensamento introvertido. Era isso! Era minha característica! Eu pensava muito, a maneira de me relacionar com as coisas era através do pensamento, o raciocínio lógico. Mas a introversão impedia que eu expressasse esses pensamentos com clareza. Eu era aquele sujeito que falava coisas no grupo, falava cheio de certezas e críticas (porque afinal eu era um bom pensador) mas a maioria das pessoas não me entendiam, me achavam um sujeito confuso. Então, seguindo a metodologia, precisei trabalhar o pólo oposto, para ficar mais em equilíbrio. Então eu precisaria desenvolver o sentimento extrovertido. Ou seja, me relacionar através do sentimento com as pessoas. Uma das dicas práticas era ir a orfanatos e abraçar as crianças, doar afeto, etc. Foi o que eu fiz. E não é que deu certo?
Creio que minha personalidade ficou mais integrada e eu consegui, a partir de então, me expressar com mais clareza. E hoje me orgulho ao receber o elogio dos meus alunos quando dizem que sou didático. De onde vem isso? De ir abraçar crianças no orfanato.
Então estou escrevendo isso para que as pessoas entendam que o caminho mais rápido nem sempre é a linha reta. Se eu fosse para um curso de oratória, talvez demorasse mais a ganhar a desenvoltura que tenho hoje. Porque o que era preciso era um investimento na personalidade, na formação de um ser humano mais integral. E é exatamente a imagem de um ser humano mais integral que nos passam os bons oradores, não é verdade?
Estamos nos aproximando de uma compreensão do que estamos querendo incentivar aqui.
A arte da oratória, como toda arte, é uma expressão que vem de dentro. Então em primeiro lugar que a pessoa que queria falar bem, invista em conteúdos. E, como já vimos, conteúdos de diferentes campos do saber. Mas ao lado do conhecimento, que invista nos demais componentes de si, os sentimentos, a capacidade intuitiva, a relação sensorial com o mundo. Há muitos conselhos a dar aqui, mas há na verdade muitos caminhos, muitas artes que serão complementares e cada um vai escolher a sua. Uma arte do desenvolvimento de si mesmo. Talvez um bom conselho seja o caminho de terapias corporais, espiritualidade, investir em expressão dos afetos. Uma pessoa que se expressa bem, não é só pela fala, mas o corpo inteiro que fala. Então a mente pode ser muito inteligente, mas o corpo trava a expressão do seu brilho. Se algum dia eu for trabalhar com um grupo que queria desenvolver a oratória e perder a timidez, vou pelos caminhos do autoconhecimento e da expressão corporal, do silêncio e da brincadeira, que é na verdade o que já faço nos grupos de meditação que conduzo.
Bom, a essa altura da reflexão gostaria de dar algumas dicas práticas para quem vai fazer alguma apresentação oral, uma palestra, seja o que for. Creio já ter ficado claro que não há receita pronta, que a oratória vai ter uma infinidade de estilos, e que o mais importante não são os métodos, mas os conteúdos, o conteúdo do assunto, e o conteúdo da pessoa que fala. Ainda assim, ao longo da vida recebi alguns conselhos e percebi algumas coisas por conta própria. Então aí vai um pouco desses segredos.
I - Humildade e Teoria do Campo
É por onde precisamos começar sempre.
Eu não sei.
Saber que não sabe é uma grande virtude.
Então eu começo sabendo que não sei uma série de coisas.
Eu não sei tudo sobre o assunto, apesar de ter estudado bastante, ainda não esgotei o conhecimento. Aliás nem a propria ciência sabe tudo sobre o assunto. Então já fico preparado para fazer perguntas, mais do que dar respostas. O bom orador faz o público pensar, ele instiga a pesquisa, o interesse. Não há nada mais desestimulante do que assistir um orador sabe-tudo. Legal é quando ele nos faz pensar, imaginar possibilidades de respostas sobre um assunto. Adoro assistir bons oradores da área da astronomia, eles me instigam a olhar o céu e imaginar...
Aliás, um bom jeito de começar uma aula é formulando uma pergunta motivadora. Um grande mestre e professor que tive na faculdade de economia, José Ricardo Tauile, me ensinou isso uma vez. E disse que aprendeu com um professor na Inglaterra. O sujeito começava a aula fazendo uma pergunta difícil. Do tipo: "como é possível que, apesar de tanta produção de alimentos, haja tanta fome no mundo?" E então a aula seguia, percorria diversas explicações sobre a estrutura da sociedade em classes e no final... ele retomava a pergunta e a aula inteira fazia sentido.
Eu não sei... eu não sei quem é o público. Não sei nem mesmo o que as pessoas vão entender a partir do que eu vou falar. Cada um interpreta as coisas de um jeito, faz suas conexões com suas estruturas de compreensão. Eu não tenho controle sobre isso. E aqui entra a habilidade em saber ouvir. Como disse o Rubem Alves, não é oratória, é escutatória que a gente precisa. Porque a fala do outro vem de uma outra estrutura de compreensão e nem sempre preciso debater, mas agregar ideias.
Eu não sei nem mesmo o que eu vou falar.
Uma vez uma amiga psicóloga falou da "teoria do campo". A teoria diz o seguinte: num grupo, aquilo que precisa ser ouvido vai ser dito por alguém. Isso independe da sua vontade, do seu controle. Então vou para um grupo com uma postura de abertura, permito que as pessoas falem, e o tema vai transcorrer de uma forma que eu não sei exatamente qual. Tenho minhas cartas na manga, meu planejamento prévio, mas estou aberto a seguir outras linhas de raciocínio. E tenho visto que mesmas aulas, para grupos diferentes, tomam rumos completamente diferentes. Então, humildade! Não sou eu quem vou falar. É o campo. O meu trabalho é não atrapalhar a manifestação das ideias no campo. Esse é o nível mais elevado e mais difícil. Ainda estou aprendendo a silenciar mais para que as pessoas pensem mais por conta própria.
Ainda sobre humildade quero comentar sobre o terrível medo que as pessoas sentem das perguntas e da participação do público. Isso é insegurança. E isso vem da falta de humildade.
Se surgir uma pergunta que você não sabe, você pode ser sincero. E lembre-se que o caminho do saber é infinito e não existe alguém que saiba tudo. "Vou pesquisar isso", pode ser uma resposta possível. Mas mesmo que você não saiba você pode indicar caminhos de como a gente pode chegar a saber: "vamos olhar no google", por exemplo. Outra é devolver a pergunta para o público: "o que vocês acham?"
Os minutos inciais são dedicados a apresentação pessoal. Não adianta começar o assunto de imediato, as pessoas não vão prestar atenção. Elas precisam criar uma relação de interesse, confiança, simpatia. É a hora de ganhar o público. Esse tempo pode durar mais ou menos, dependendo do público. Uma pessoa que começa a falar e não se apresenta, fica faltando algo, o público fica se perguntando quem será essa pessoa, qual seu nome, e não consegue dar tanta atenção ao tema.
E depois que você faz uma boa apresentação pessoal você vira a figura central. As pessoas estão abertas a te ouvir. Isso explica porque muitas vezes quando alguém da plateia faz uma pergunta ou fala uma coisa interessante, mesmo que seja um comentário muito inteligente, o público não dá tanta atenção e valor como quando você fala. Há uma transferência envolvida. Por isso, é importante que, quando alguém contribui com um comentário, você repita resumidamente o que a pessoa falou para valorizar sua participação. A pessoa se sente acolhida e, não só isso, o argumento que ela trouxe passa a fazer parte do campo da reflexão.
Antes de começar, é bom que você olhe para o público, respire e procure testar para si mesmo se você está no aqui e agora, que você se observe, sua respiração, o nervosismo, etc. Pode fazer um cumprimento inicial (boa noite, por exemplo) e aguardar a resposta, olhando, ficando um pouco em silêncio para que possa transmitir as pessoas um pouco da sua presença pessoal antes da fala. E pode, com isso, procurar sentir a presença das pessoas e ir sentindo o campo.
IV - Silêncio
Assim como a música é um conjunto de notas e pausas, a oratória é valorizada pelos silêncios. Os bons oradores fazem silêncios sensacionais! Silêncios enfatizam a última palavra que foi dita. Perguntas retóricas fazem as pessoas pensarem. O silencio entre as frases faz o público sentir que você está pensando no que fala. Faz o público pensar com você.
Para isso você precisa estar confiante. Os iniciantes falam depressa e sem pausas. Não aguentam o silêncio. Precisam acabar logo. Isso deixa transparecer o nervosismo. A pessoa segura sabe trabalhar com o silêncio.
Os poetas sabem disso, por isso escrevem em versos. Para marcar o tempo do silêncio. Adoro ouvir recitações de poesias. Sou fã da Leticia Sabatella e do Antônio Abujamra, pelos seus silêncios e suas ênfases. Há diversos poemas recitados por eles na internet.
V - Para onde olhar?
Gosto de olhar no olho das pessoas. Evitar o olhar é uma tragédia, em oratória. Sei que olhar as pessoas deixa os iniciantes ainda mais nervosos. Se você falar sem olhar para a plateia, desviando o olhar para um ponto na parede, por exemplo, isso será pior ainda. Então não tem como fugir. Precisa encarar.
Aí algumas dicas: não olhar para uma pessoa só, mas para todos. Mas você verá que não dá para olhar para todos. Então ao longo de sua exposição, você vai descobrindo pessoas, olhares apoiadores, pessoas que balançam a cabeça, que sorriem quando você fala. É para elas que você vai olhar mais.
Num público grande, procure harmonizar o tempo que você olha para o pessoal do fundo, o pessoal da frente, e de cada um dos lados. E de vez em quando dar uma olhada e falar diretamente para a pessoa da extrema esquerda e a pessoa da extrema direita da platéia. Se você está numa mesa com outros palestrantes, lembre-se de olhar para eles. Isso dá a sensação ao público de que você está falando com todos.
VI - Quando ler?
Uma apresentação lida é uma tragédia. Mas é possível que pequenas notas ou trechos de livros possam ser lidos. Isso enriquece o conteúdo e não diminui em nada sua oratória. Então é ótimo que você interrompa e cite um autor, abra um livro, isso dá um ar de que estamos estudando e aprofundando um tema junto com você.
VII - Preparar a apresentação aberta
Para permitir improvisos, mudanças de rumo. Uma palestra fechada, engessada, sinaliza que o orador não consegue sair do tema, está inseguro. Então se você pode sair do tema, a palestra fica viva e responde aos anseios das pessoas que foram te ouvir.
VIII - Nunca confrontar o público (deixe que se confrontem entre si)
Quando surgem questionamentos, por vezes até mesmo violentos, sobre o que você está falando, nunca, nunca, nunca se confronte com a pessoa. Se é uma pessoa que te parece desequilibrada emocionalmente, que quer te confrontar na frente de todos você tem algumas opções. A melhor delas é jogar a pergunta para o público: o que vocês acham? E aí, dentre as pessoas, surgirão aqueles que vão defender sua ideia. E todos continuam com você, abertos a te ouvir. Mas se você pessoalmente se confrontar com alguém, metade do público ficará contra você. Isso é uma lei dos grupos. Não me peça para explicar como isso se processa. Mas é um fato.
IX - Numerar
Numa argumentação, a numeração é de grande força retórica. Por exemplo, quando você fala algo e diz que vai citar três motivos para determinado fenômeno, as pessoas vão ficar atentas até que você chegue na terceira causa. Numerar passa confiança de que você sabe o que está falando.
X - Letras de música
Foi a minha grande fonte de inspiração para a fluidez de minhas palestras. No meio de uma frase vinha um verso de uma letra de música. A música popular brasileira é uma grande fonte de citações possíveis. As vezes, quase sem querer, me pego citando um trecho de uma música. Essas letras ficam em nós como um repertório de palavras, de frases. Não estou dizendo para você citar, cantar (coisas que eu faço em aulas e momentos mais descontraídos) mas para que você tenha esse repertório de palavras no seu uso. É bom estar num país que tem um músico da qualidade de um Caetano Veloso por exemplo, um homem absolutamente apaixonado pela língua portuguesa (ouçam a sua canção Língua, por exemplo).
XI - Frases de efeito
Dependendo do seu estilo é bom ter de cor umas frases de alguns autores, líderes, pessoas inspiradoras. A citação é uma fonte de autoridade e reveste a sua fala e faz como que o público fique mais atento e faça conexões entre o que você está falando e outras coisas que já conhece daquela pessoa. Quem leu Michel de Montaigne sabe que ele citava uma série de autores antigos. Em sua casa, ele pendurava pequenos pedaços de papel nas paredes com esses aforismos, essas citações proverbiais inspiradoras.
XII - Contar histórias
É sempre bem vindo ilustrar a fala com pequenas histórias. Isso não é só descontração.Quando se conta uma história a pessoa se abre para te ouvir de uma outra maneira. Ouso dizer que muda a frequência cerebral. Cria-se um outro clima no campo. É um mecanismo em que você ajuda o ouvinte a se transportar para o universo do insight, onde ele vai compreender o que você diz e se lembrar mais tarde. É possível que após uma palestra a pessoa não lembre de nada do que você falou. Mas se você conta uma narrativa, ficcional ou um caso concreto, é possível que ele lembre dessa história que você contou e, em seguida, como que puxando o fio de um novelo, a memória dele vem trazendo o restante.
Bom, essa conversa está ficando longa. Uma boa apresentação dá gostinho de quero mais. Saber terminar também é uma arte. Tem mais dicas, tem mais a ser dito. Fica para um segundo momento. Até que o livro fique pronto, fica aqui esse primeiro rascunho. Conto com a colaboração de vocês que estão me ouvindo (ou lendo). Quais as suas dicas? Quais as suas dificuldades? Escreva pra mim.