quarta-feira, 17 de julho de 2013

Diálogo entre a criança e um professor amoroso


Diálogo entre a criança e um professor amoroso:
- Nunca mais vou num enterro. O da minha avó foi o último, tio.
- Por quê?
- Porque ficam gritando.
- Como assim?
- Toda vez que jogavam terra no caixão, eu ouvia os gritos.
- Quem gritava?
- Minha avó.
- E ninguém ouvia, só você né?
- É. E aí eu falava e ninguém acreditava em mim.
- Ela gritava de dentro do caixão ou de fora? (tentei explorar)
Ela buscou na memória e respondeu sinceramente:
- Não sei.
- Eu acredito em você.
- Tá maluco?
- Eu acredito.
- Tá doido, imagina se a sua avó aparece, vai puxar o seu pé.
- Que nada, seria minha avó.
- Você não tem medo?
- Tenho medo do zumbi da televisão, da minha avó não.
- Tá maluco.
E assim terminamos um diálogo. Depois disso me emocionei. Não sei exatamente porque. Meu coração dói ao ver as crianças desde cedo rejeitando os fatos que lhe ocorrem em nome de uma verdade do mundo dos adultos. Se eu dissesse que acredito em vida após a morte, em espíritos tudo bem. Mas eu só disse que acreditava nela. E mesmo assim ela me chamou de louco. É, em nossa ordem estabelecida pelo poder dos adultos, acreditar em criança é loucura.

Um comentário:

  1. Lembrei de uma vivência com meu neto. Estávamos de noite, abraçadinhos, já na cama e no escuro para ele dormir. Ele me perguntou por minha mãe. Eu disse que minha mamãe havia morrido e ele achou por bem me consolar. Me abraçava muito e chorava copiosamente. Eu acredito que ele possa ter entrado em contato com a perda, pois ele conviveu com ela até um ano e meio, ocasião do falecimento. Não havia como explicar para uma criança tão pequena a morte dela. Mas me lembro dele ter ido até a porta do quarto dela, procurando-a...a vida encontra seus caminhos...

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