segunda-feira, 15 de junho de 2015

A criança, a dança, a arte...


Hoje na escola muncipal estava a crer que voltaria para casa sem nenhuma história inspiradora para contar.
Estava naqueles dias... sabe?
Aqueles dias em que as crianças estão agitadíssimas e você propõe atividades legais (que você julga legais) e elas não entram, estão por demais aceleradas, agressivas, se machucando...
Dessa vez fui pra escola animado com vivências de biodanza. Levei música, tinha a quadra à disposição, som legal.
Mas a relação das crianças dessa turma com o corpo, a noção de espaço, a relação com os colegas, o nível de repressão a que ainda estão submetidos pela professora... é começar um movimento corporal e entram na loucura inconsciente, se machucam sem querer... mas apesar de tudo, se divertem bastante. Só não atingiram o objetivo que eu estava planeando que é chegar num relaxamento e numa integração mais harmoniosa. Interrompi a aula no meio.
Mais tarde olhando-as no recreio até que deu para perceber que estavam mais donas dos seus movimentos, mais alegria, mais ritmo...
Quando a gente trabalha com olhar amoroso, liberdade por princípio, respeitando o tempo da molecada, sempre terá algo proveitoso no trabalho.
Mas eu estava meio frustrado com meu dia.

Foi quando...

Estava andando sem ter o que fazer (as melhores atividades sempre surgem quando estou não-direcionado)...
E vi na escada, aguardando os responsáveis, um casal de irmãos, que estão frequentemente por ali após o horário da saída. Por algum motivo, a mãe sempre atrasa para buscá-los.

Eram mais de duas da tarde e desde o meio-dia, ninguém.

Então perguntei: querem ir pra quadra fazer uma aula comigo?
Aceitaram.

Com músicas calmas fizemos alongamento, umas posições de yoga, depois meditamos sentados. Andamos um pouco pela quadra.

Deitamos.
E quando deitamos...
O menino veio perto e se deitou ao meu lado e segurou na minha mão.
E ficamos ali, contemplando as estrelas do céu do afeto entre um adulto e uma criança.
Acolhimento, confiança, união.
Me emocionei com a simplicidade e a facilidade do encontro.

Depois caminhamos os três pela quadra, caminhada com ritmo, e começamos a dançar como aves, batendo as asas...

Foi então que resolvi me sentar e propor que eles dançariam para eu assistir.

Nunca tinha tido essa ideia antes.

Ele foi até a minha playlist e escolheu a música: Villa Lobos. Aria Cantilena, das Bachianas brasileiras. Uma soprano, ópera, muito dramático e belo.

Da outra vez que usei essa música na hora das massagens me perguntaram na escola se as crianças realmente conseguiam música clássica.

Bom, dessa vez, lá estava o menino. A quadra inteira era dele. Eu e sua irmã ficamos assistindo. Ele andava. Parava. Levava a mão ao peito, a outra ao alto, e imitava a voz cantando. Que drama. Que belo. Descobri um dançarino. Ou melhor, se bem aprendi com Isadora Duncan... as crianças nascem dançando. Dançar é o movimento mais natural da vida. E ali estava a beleza em seu olhar inocente e trágico, em seus braços estendidos ao alto qual uma estátua grega, em suas mãos delicadas...

Por Zeus, de onde esse menino aprendeu a arte clássica?

O que eu faço agora?

Meu coração transborda de paixão pela dança, pela arte, pela criança...

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