Eis um texto do Osho, explicando um método de prática tântrica. Li, senti segurança, pratiquei e gostei. O trecho é do livro "Tantra: a suprema compreensão." E achei digitalizado pelo pessoal do Metamorfose. http://www.centrometamorfose.com.br/artigos/tantra_6_grande-ensinamento.htm
"Na Indonésia, existe um homem muito singular, Bapak Subuh. Sem o saber, ele desenvolveu um método conhecido como latihan. Esbarrou nele, mas latihan é um dos mais antigos métodos do Tantra. Não é um fenômeno novo; latihan é o primeiro passo em direção a Mahamudra. É o deixar que o corpo vibre, que o corpo se torne energia, não-substancial, não-material; é o deixar que o corpo se funda e dissolva as fronteiras.
Bapak Subuh é muçulmano, mas seu movimento é conhecido como Subud. Trata-se de uma palavra budista: Subud vem de três palavras: su, bu, dha. Su significa sushila, bu significa Buda,dha significa Dharma; Subud significa sushila-Buda-Dharma. O significado é: “a lei da grande virtude deriva de Buda”, a lei budista da grande virtude. A isto é que Tilopa chama o Grande Ensinamento.
Latihan é simples. É o primeiro passo. É preciso estar relaxado, desprendido e natural. Será bom que estejas a sós e que ninguém te venha perturbar. Fecha teu quarto e fica a sós. Se puderes encontrar alguém que já chegou ao latihan, sua presença poderá ser útil, sua simples presença atuará como agente catalítico, ajudar-te-á a te abrires. Assim, alguém que já esteja mais avançado pode abrir-te muito facilmente. De outra forma, também tu podes abrir-te a ti próprio, levando apenas um pouco mais de tempo, só isso. De qualquer maneira, é bom ter alguém que nos ajude a abrir-nos.
Se um abridor estiver a teu lado e começar o latihan, fica ali; a energia dele começará a pulsar contigo, começará a mover-se em torno de ti, como um aroma que te rodeasse - e, subitamente, começas a sentir a música. Tal como se ouvisses um bom cantor, ou alguém tocando um instrumento, começas a marcar o compasso com o pé, ou marcas esse compasso numa cadeira, ou começas a pulsar com ele. É assim que uma profunda energia se move dentro do abridor e todo o quarto e a qualidade do quarto são imediatamente modificados.
Tu não tens de fazer nada: tu tens, simplesmente, de estar ali, desprendido e natural, apenas esperando que algo aconteça. E, se teu corpo começar a mover-se, deixa que o faça, deves cooperar e permitir. A cooperação não deve ser demasiado direta, não deve impelir. Deve apenas permanecer como uma permissão. Teu corpo começa a mover-se, de repente, como se estivesses possesso, como se uma grande energia vinda de cima houvesse descido sobre ti; como se uma nuvem te houvesse rodeado. Agora, estás possuído por aquela nuvem e a nuvem está penetrando dentro de teu corpo, que começa a mover-se. Tuas mãos se erguem, fazes movimentos sutis, inicias uma pequena dança, suaves gestos - teu corpo está tomado.
Se sabes alguma coisa sobre escrita automática, será fácil acompanhar o que acontece em latihan. Na escrita automática, seguras um lápis na mão, fecha os olhos, esperas e, de súbito, sentes um arranco na mão: tua mão torna-se possessa, como se algo nela tivesse entrado. Nada precisas fazer, porque, se o fizeres, teu gesto não virá do além, será ação tua. Tu, simplesmente, deves permitir. Desprendido e natural: as palavras de Tilopa são maravilhosas e não são passíveis de qualquer melhora. Desprendido e natural esperas, com o lápis na mão, os olhos fechados. Quando sentes o arranco e a mão começa a mover-se, deves permitir; isso é tudo. Não deves resistir, porém podes resistir. A energia é muito sutil; no início não se mostra poderosa. Se a fizeres parar, ela parará facilmente, não será agressiva. Se não permitires que venha, não virá. Se duvidares, ela não virá, porque, com a dúvida, tua mão oferecerá resistência. Estando em dúvida, não permitirás; lutarás. Por isso é que a confiança é tão importante - shradha. Tu apenas confias e deixas tua mão solta. Aos poucos, a mão começa a mover-se, começa a fazer rabiscos no papel - deixa que ela faça isso. Então, alguém pergunta alguma coisa, ou tu mesmo perguntas alguma coisa. Que essa pergunta fique solta em tua mente, não com muita persistência, nada forçando. Faze a pergunta, apenas, e espera. De repente, a resposta é escrita.
Se dez pessoas tentarem, pelo menos três serão inteiramente capazes de fazer a escrita automática. Trinta por cento das pessoas não têm consciência de que podem tornar-se receptivas. E isso poderia tornar-se uma grande força em tua vida. A respeito de o que acontece, as explicações diferem - mas isso não importa. A mais profunda explicação que conheço, a que eu considero verdadeira, diz que teu mais alto centro toma conta do teu mais baixo centro; teu mais alto ponto de consciência toma conta da tua mais baixa mente inconsciente. Perguntas e teu próprio ser íntimo te responde. Ninguém está ali, além de ti, mas teu ser íntimo, que não conheces, é muito superior a ti. Teu próprio e recôndito ser é tua florescente e definitiva possibilidade.
É como se a flor tomasse conta da semente e respondesse.
A semente não sabe -
Mas é como se a flor, tua possibilidade,
tomasse posse da tua realidade e respondesse;
é como se tua possibilidade definitiva
tomasse posse daquilo que és e respondesse,
ou como se o futuro tomasse posse do passado,
ou o desconhecido tomasse posse do conhecido,
o destituído de formas tomasse posse da forma
- tudo isto é metáfora, mas sinto que compreenderás a significação - como se tua velhice tomasse posse de tua infância,
e respondesse.
O mesmo acontece com o latihan, com o corpo todo. Na escrita automática, deixas a mão solta e natural. No latihan deixas todo teu corpo solto, esperas, cooperas e, de repente, sentes um impulso: tua mão te ergue sozinha, como se alguém a levantasse com fios invisíveis - deixa que isso aconteça. A perna começa a mover-se; dás uma volta, inicias uma pequena dança, muito caótica, sem ritmo, sem gestos, mas, aos poucos, conforme a sensação se torna mais profunda, toma seu próprio ritmo. Então, já não é caótica; toma sua própria ordem, torna-se uma disciplina, mas não forçada por ti. Essa é a tua mais alta possibilidade tomando posse de teu mais baixo corpo, e movendo-o.
Latihan é o primeiro passo. E, gradualmente, sentirás como é belo fazer isso, sentirás que está acontecendo uma união entre ti e o cosmos. Mas esse é apenas o primeiro passo. O primeiro passo, em si mesmo, é muito belo, mas não é o último passo. Eu gostaria que o completasses. Durante trinta minutos, pelo menos - sessenta seria maravilhoso -, e, aos poucos, poderás ir dos trinta aos sessenta minutos, para o latihan dançante.
Em sessenta minutos teu corpo, de poro a poro, de célula a célula, fica limpo. É uma catarse; estás completamente renovado, toda a sujeira foi consumida. Por isso é que Tilopa diz: Em Mahamudra todos os pecados são consumidos. O passado é atirado ao fogo. É um novo nascimento, um renascimento. E sentes a energia derramando-se sobre ti, por dentro e por fora. E a dança não é só externa. Depressa, quando te sintonizares com ela, sentirás uma dança interior também: não só de teu corpo, que está dançando, mas também da energia interna que também está dançando, ambos cooperando um com outro. E, então, acontece a pulsação; sentes como se pulsasses com o Universo - encontraste o ritmo universal.
Trinta a sessenta minutos, esse é o tempo: começa com trinta, termina com sessenta. Até que, mais tarde, chegues ao tempo exato. E saberás: se te sentes sintonizado a quarenta minutos, então esse é o teu tempo correto. Então, tua meditação deve ir além disso; se te sentes sintonizado aos dez minutos, vinte minutos serão suficientes. Dobra o tempo; não arrisque nada, para ficares inteiramente limpo. E termina com uma prece.
Quando estiveres completamente limpo e sentindo que teu corpo está refrescado - estiveste sob um chuveiro de energia e todo o teu corpo sente-se um, não-dividido; a substancialidade do corpo perdeu-se, tu o sentes mais como uma energia, um movimento, um processo não material - estarás pronto. Ajoelha-te, então.
Ajoelhar-se é muito belo, tal como o fazem os sufis ou os muçulmanos quando oram em suas mesquitas. Ajoelha-te como eles, porque essa é a melhor postura para a oração. Então, ergue as duas mãos para o céu, com os olhos fechados, e procura sentir-te como um recipiente vazio, um bambu oco. Oco por dentro, tal como um pote de barro. Tua cabeça é a boca do pote e a energia verte sobre tua cabeça, como se estivesses sob uma cachoeira. Depois do latihan sentirás isso: como uma cachoeira e não como um aguaceiro. Quando estás pronto, ela cai com mais força, intensamente, e teu corpo começa a tremer, a sacudir-se, como uma folha sob vento forte. Se alguma vez estiveste sob uma cachoeira, conheces a sensação. Essa mesma sensação irá ter contigo depois do latihan. Procura sentir-te vazio por dentro, nada dentro de ti, apenas vacuidade - e a energia preencherá esse vazio, preencherá completamente.
Deixa que a energia caia sobre ti tão profundamente quanto possível, de forma que alcance o mais afastado recanto de teu corpo, de tua mente, de tua alma. E, quando sentires que estás repleto e que todo o teu corpo estremece, curva-te, leva a cabeça ao chão e derrama energia sobre a terra. Quando sentires a energia transbordar, derrama-a sobre a terra. Toma do céu, devolve à terra, e sê, entre ambas as coisas, apenas o bambu oco.
Isso deve ser feito sete vezes. Toma do céu e derrama sobre a terra, beija a terra e derrama - esvazia-te completamente. Esvazia-te tão completamente como o fizeste para ficar repleto; esvazia-te completamente. Então, ergue de novo as mãos, enche-te outra vez e torna a derramar. Isso deve ser feito sete vezes, porque, a cada vez, a energia penetra em uma das chakras, um dos centros do corpo e, a cada vez, penetra mais profundamente em ti. Se fizeres menos de sete vezes, te sentirás inquieto depois, porque a energia ficará suspensa em algum ponto.
A energia tem de penetrar todas as sete chakras do teu corpo, de forma que te tornes completamente oco, uma passagem. A energia cai do céu para a terra, tal como a eletricidade: a eletricidade pede um fio-terra. A energia vem do céu e tomba sobre a terra; tu te tornas uma ligação entre ela e a terra, apenas um bambu oco, um recipiente passando a energia. Sete vezes - mais podes fazer, mas não menos. E será o Mahamudra completo.
Se fizeres isso diariamente, muito em breve, dentro de mais ou menos três meses, sentirás que não mais existes. Somente a energia estará pulsando no universo, não há ninguém, o ego perdeu-se completamente, aquele que atua não existe. O universo existe, e tu existes nele, onda pulsando com o oceano - isso é Mahamudra. Esse é o orgasmo final, o mais beatífico estado de consciência possível.
É como dois amantes fazendo amor, mas multiplicado por milhões - porque agora estás fazendo amor com todo o Universo. Por isso é que o Tantra é conhecido como a Ioga do Sexo, o Tantra é conhecido como o Caminho do Amor."
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