sexta-feira, 18 de abril de 2025

diário

o pai precisa botar a filha para dormir, ele entra no quarto pronto a dizer, tá na hora, e vê a filha sentada escrevendo em seu diário. lembra-se de uma conversa que teve com a mãe de um amigo de sua filha: a pessoa tá lendo aí as pessoas chegam e falam com ela como se ela não estivesse fazendo nada de importante. isso é uma cultura familiar. a pessoa está lendo e ninguém a interrompe porque ela está lendo. isso é outra cultura familiar. a filha descobriu a alegria de escrever diário, lendo o que ela mesma escrevera meses atras, e se lembrou dos acontecimentos daquele dia. na casa do pai a cultura familiar é dessas: convidou pra sentar pra fazer o exercício do livro novo de matemática? para tudo. prioridade. deixa a louça pra depois. a menina está escrevendo em seu diário? agradeça por você conseguir um ambiente calmo e silencioso pra menina seguir seus escritos com todo o tempo do mundo. o pai correu para escrever também e transformar um pedacinho de seus sentimentos em palavras. ele escolhe as palavras. as vírgulas, os pontos... escolhe também o que não usar, nem aspas, nem travessões, nem maiúsculas, nem nomes. tudo é bem cuidado. os tempos, as pessoas. a escrita é, na verdade, reescrita, ele aprendera há pouco sobre esse burilar, coisa que sempre fez. e pensa, piegas, nas casas em que prioridade não é ler. na verdade foi essa dor que lhe fez ir refletir. um filme em sua mente lhe fez ver uma criança escrevendo seu diário na cama e um adulto gritando dizendo para com esse negocio e vai logo tomar banho ou dormir, ou seja lá o que seja prioritário. a filha hoje disse ao pai sobre adultos que não tratam bem as crianças. isso tudo é agora página desse diário que