- Irmão André, irmão André, preciso falar com o senhor.
O homem vinha alterado e já achei que vinha me pedir uma passagem de ônibus ou algo do gênero.
- Irmão você precisa botar lá na Internet o que estão fazendo com a gente.
- Você quer que eu divulgue. O que aconteceu?
- Foi hoje irmão. Me acordaram as três da manhã, na rua A... em Botafogo.
- Quem te acordou?
- O choque de ordem. Aí me recolheram e me levaram pro abrigo na Ilha do Governador.
- E como te recolheram? Te convidaram pra ir?
Ele me olhou rindo com aquele olhar magoado de quem sabe que não sou ingênuo.
- Que convidaram!! Me acordaram dando pontapé, jogaram minhas coisas no lixo, depois me empurraram pra dentro do ônibus gritando: entra aí! Eles fazem assim: jogam nossas coisas no lixo, vai documento e tudo e gritam: perdeu! perdeu!
- E aí você foi pra Ilha... - indaguei querendo ter logo uma visão do todo do ocorrido.
- Aí me largaram no abrigo lá da Ilha do Governador.
- E aí?
- Aí fiquei duas horas sentado no chão, depois veio um homem dizendo que não tinha vaga e me mandou embora.
- E o que eu posso fazer por você?
- Bota na Internet pra ver se pára essa covardia com a gente.
Todos semana ouço histórias assim de meus companheiros na Escola da Rua.
Assistimos a uma violência estatal e pouco fazemos para evitar tudo isso.
Meus irmãos que tem cama parecem ter perdido a capacidade de sentir. Apesar de sorrirem para mim e dizerem que me apóiam.
A racionalidade dessa política me parece sem Razão. Além de desumana e brutal, leva a resultados contrários das metas estabelecidas: mais gente na rua, sem lenço, sem documento.
Quem pode apoiar essa política?