segunda-feira, 18 de abril de 2011

O inquilino


Maravilhoso o filme!

Para variar, Polanski nos leva as fronteiras confusas do que é o real, do que é imaginação.

Por que é bom?

Porque nos remete, a todos nós (sadios, normais), que o que há de patológico nas pessoas com transtorno mental está também dentro de nós mesmos.

Olhando o "doente", vemos que o nosso olhar sobre a realidade, especialmente a realidade sobre si mesmo e sobre as coisas que pensamos que sabemos, é um olhar distorcido.

Só no campo objetivo, quando temos que objetivar as coisas, quando temos que falar em público, quando temos que enfrentar o outro, é que percebemos que o que pensávamos saber não era bem o que sabíamos, não era bem como sabíamos.

Em suma, fica a pergunta quem distorce a realidade?

Após o filme, fica-se meio tonto mesmo.

Sentimos que nossa mente distorce mesmo as coisas, e aí a dúvida é a grande amiga.

O que é o real, o que distorcemos? Como nos prevenir dessa distorção e viver a verdade?

Taí, a resposta está em viver, em con-viver.

Não ficar isolado.

Colocar-se a prova, enfrentar os desafios, aprender com as experiências: eis a única forma de entrar em contato com a realidade.

Isso é o autêntico existencialismo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Carta de desculpas - a ética do educador

Rio de Janeiro, 07 de abril de 2011

Queridos companheiros do IEAR,

Com esta carta aberta gostaria de pedir desculpas publicamente a cada estudante, técnico e professor do nosso instituto por uma grave incoerência entre meu discurso e minhas atitudes. Como sabem, sou um dos que estimulam a participação democrática em nossa UFF. Numa reunião de departamento, integrei, com mais 3 professores, a comissão eleitoral que se responsabilizou por elaborar o processo das 4 eleições que estamos tendo nesse período. Começamos trabalhando coletivamente. E quando era para ser dado início ao primeiro pleito, convidei um aluno e uma técnica para compor a primeira comissão que organizaria o debate e a eleição para chefe de departamento. Tudo correu muito bem e a participação foi intensa por parte de todos. Todos crescemos muito. Mas preciso dizer que, fazendo um exame de consciência, percebo que cometi o grave equívoco de iniciar o processo sem consultar os demais 3 professores que estavam na comissão eleitoral. Atropelei o processo, por uma ansiedade, por um simplismo, por uma imaturidade ética. Ou seja, nesse momento tenho que me perguntar: como pode o professor que dá aula de ética, que diz acreditar na participação, no diálogo e na democracia, agir de uma forma tão autoritária, desprezando os colegas, esquecendo-se de consultá-los antes de agir em nome do coletivo?

Uma das pessoas que orientam meu posicionamento ético, com bastante radicalidade na busca de coerência, é Mahatma Gandhi. Uma história de sua vida costuma me orientar: uma vez foi com o filho para a cidade e pediu que ele levasse o carro para a oficina mecânica. O menino aproveitou que o pai estaria numa conferência e tirou a tarde para passear com o carro. Ao fim do dia o pai descobriu, pelo dono da oficina, a mentira do filho. Quando o menino pediu ao pai para entrar no carro e irem para casa, Gandhi, ao invés de dar a bronca, diz que vai andando até em casa. “Mas são quilômetros, pai!” “Preciso ir andando” – respondeu – “para pensar onde foi que errei, onde estou errando para que você precise mentir para mim.”

Esse é o exemplo do verdadeiro educador. Que busca constantemente se educar. Que faz a auto-crítica. Meu objetivo na vida é crescer como ser humano. Então de nada adianta julgar os outros. Devo buscar em mim mesmo as respostas dos meus erros, e tentar acertar da próxima vez. Se as coisas no meu grupo de trabalho não vão bem devo me perguntar onde errei. E aqui posso admitir minha parcela de responsabilidade.

Pelo imperativo categórico de Kant me vejo na obrigação de fazer esse pedido público de desculpas porque gostaria de viver num mundo em que as pessoas reconhecessem publicamente seus erros. A República Ideal não é composta por homens infalíveis, porque é do humano a incoerência. Mas a boa república é aquela onde as pessoas buscam o autoconhecimento, reconhecem seu erros e tentam acertar.

Gostaria que recebessem meu pedido de desculpas. Estou a disposição para continuar tentando acertar. No entanto, gostaria que, para as eleições do coordenador, outra pessoa tomasse a frente do processo para que eu pudesse ver e aprender, com seus acertos e erros, aprender também com sua diferença de estilo, por que não?

Agradeço a todos pelos desafios que nos lançam ao crescimento e ao eterno aprendizado da vida.

Paz, paz, paz!

Prof André Andrade Pereira

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Hesse e os muitos eus em jogo


Não sou um só.

Tampouco dois.

Sou muitos.

Encontramo-nos no livro "O lobo da estepe" de Hermann Hesse.

Descobrimos que somos muitos.

Num momento do livro o personagem principal entra numa sala e encontra uma espécie de monge oriental sentado ante um tabuleiro de xadrez. E ali o monge pega todos os eus, como peças do jogo e arma situações as mais diversas possíveis.

Ou seja, somos muitas combinações possíveis também.

Eis umas conclusões:


"Assim como o dramaturgo cria um drama a partir de um punhado de personagens, assim construímos, com as peças de nosso eu despedaçado, novos grupos com novos jogos e atrações, com situações eternamente novas."


"Assim como a loucura, em seu mais alto sentido, é o princípio de toda sabedoria, assim a esquizofrenia é o princípio de toda arte, de toda fantasia."


"Eis a arte da vida - disse doutoralmente - O senhor mesmo pode formar e viver no futuro um jogo de sua própria vida a vontade, desenvolvendo-o e enriquecendo-o; está em suas mãos fazê-lo."


Sensacional!!!!!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Hermann Hesse e o pacifismo


A filosofia da paz foi escrita e vivida por diversas pessoas.


Um dos artistas mais geniais que conheço chama-se Hermann Hesse.


No seu livro "O lobo da estepe" o personagem principal encontra-se no entre-guerras do século XX, vendo a mídia empurrar a população para o sentimento de ódio aos inimigos.


Mas não desiste. Escreve sobre a paz, que começa dentro de cada um. Alerta que cada um tem que olhar para si mesmo. Meditar. Conhecer o ódio dentro de si. E optar pela paz.



Eis uns pequenos trechos de reflexão do personagem:

*

"Durante a guerra, eu me mantive antibelicista; depois da contenda incitei os homens a paz, a paciência e ao humanitarismo, a examinarem-se a si mesmos (...)


"(...) cada povo e cada indivíduo , em vez de sonhar com falsas 'responsabilidades' políticas, devia refletir a fundo sobre a parte de culpa que lhe cabe da guerra e de outras misérias humanas, quer por sua atuação, por sua omissão, ou por seus maus costumes (...)


"Uma hora de reflexão, um momento de entrar em si mesmo e perguntar a parte de culpa que lhe cabe nesta desordem e nesta maldade que impera no mundo - mas ninguém quer fazê-lo!"

*

Penso nas nossas pequenas guerras do cotidiano...


Coloco-me no lugar dele e de outros cujos amigos foram para a estupidez do campo de batalha e foram acusados de traição e anti-patriotismo...


Hoje vejo a mídia mostrando tragédias e violências, e calando-se diante de tanta coisa bonita que acontece... E percebo que há um sentimento geral de medo, de desânimo e apatia quanto ao futuro.


Me sinto só. Me sinto contra a maré. Mas preciso continuar dizendo: acredito no amor que há no coração de cada ser humano. Acredito na política porque acredito no diálogo porque acredito no ser humano.


Logion 96 do Evangelho de Tomé: "O Reino do Pai é semelhante a uma mulher que tomou um pouco de levedura, a escondeu na massa e fez com ela grandes pães: que aquele que tenha ouvidos, ouça!"